Inverno: Revista em casa a partir de 10,99
Imagem Blog

Boca Livre

Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Esse é o blog de Patricia Julianelli, jornalista especialista em nutrição, esporte e qualidade de vida, além de apaixonada por comida e corrida de rua. Ela é autora do livro "Boca Livre - Comida e Boa Forma com Prazer e sem Neura" e apresentadora do quadro "Saúde em Movimento", da rádio CBN

Adoçante ou açúcar: qual devo usar?

Minha resposta seria: qualquer um dos dois. Desde que pouco, bem pouco

Por Patricia Julianelli
26 dez 2023, 14h01
saude-alimentacao-adocante-aspartame
Agência da OMS classificou o aspartame como possivelmente cancerígeno para humanos (Foto: jcomp/Freepik/Divulgação)
Continua após publicidade

Ovo faz mal para o coração. Ovo é aliado da saúde. Leite é inflamatório. Leite é anti-inflamatório. Arroz branco é o vilão. Arroz é o melhor amigo do feijão. Fruta causa cirrose. Fruta é benção da natureza. Termogênicos aceleram o metabolismo. Termogênicos estão proibidos. Café com manteiga queima gordura. Café com manteiga só é ruim mesmo.

Na nutrição, se dermos atenção a estudos pouco conclusivos e à mídia caça-clique, é todo dia um plot twist diferente. Impossível não se sentir perdido.

Uma das reviravoltas mais recentes teve como alvo os adoçantes. No centro da polêmica, o aspartame, aquele que está no mercado desde os anos 1970, que aparece em tudo quanto é produto – refrigerante, iogurte, suco, sorvete, etc – e era considerado um dos mais testados e seguros do mercado.

Até que, em julho de 2023, a IARC, agência da OMS que pesquisa o câncer, classificou o aspartame como “possivelmente cancerígeno em humanos”. A própria IARC admitiu que, para chegar a essa conclusão, levou em conta três estudos com “evidência limitada”. Mas aí o estrago já havia sido feito…

+ Leia também: Terrorismo nutricional: não seja a próxima vítima!

Vamos aos fatos. Você chegou a ficar sabendo que, na mesma categoria do adoçante, a IARC havia incluído vegetais em conserva e chá verde? Pois é.

Aqui eu faço um adendo: no caso dos adoçantes, os estudos não conseguem estabelecer uma relação de causa e efeito.

Continua após a publicidade

E explico: quem disse que as pessoas que consumiam muito adoçante não consumiam também outros produtos nocivos? Quem disse que o aspartame em si aumenta o risco de tumores e não o fato de boa parte dos seus consumidores terem obesidade?

Meses antes da polêmica com o aspartame, outro alerta havia causado tumulto: “A OMS sugere que os adoçantes não sejam usados como forma de controlar o peso”. Mas, gente, quem achava que os adoçantes, isoladamente, seriam uma estratégia de emagrecimento?

Só que a OMS ainda sugeriu uma associação entre adoçantes e maior incidência de doenças do coração e diabetes tipo 2. De novo: quem disse que é o adoçante e não a obesidade que causa essa maior predisposição?

+ Leia também: A parcialidade nas notícias sobre a segurança do aspartame

De forma geral, os adoçantes são considerados seguros por profissionais e associações médicas. Com exceção do ciclamato – nesse, vale ficar especialmente de olho –, não somos capazes de ultrapassar as doses máximas estipuladas.

Continua após a publicidade

Dito tudo isso, ser seguro em relação ao câncer não significa que o adoçante não possa dar uma bela bagunçada no organismo.

Você sabia que os adoçantes – mesmos os naturais – são capazes de alterar nossa microbiota intestinal?

Aqui, falamos de trilhões de micro-organismos que habitam o trato intestinal. E são fundamentais para a digestão e a síntese de vitaminas, para o sistema imunológico e para a produção de serotonina, o neurotransmissor do bem-estar.

aspartame-cancerigeno-oms
Controvérsias envolvendo os adoçantes vira e mexe aparecem na mídia (Foto: Fabio Castelo/SAÚDE é Vital)
Continua após a publicidade

Para desempenhar bem todas essas funções, nossa microbiota depende do equilíbrio entre as “bactérias do bem e as do mal” que vivem por lá. E é justamente esse equilíbrio que os adoçantes ameaçam.

Vários estudos têm sinalizado isso, sendo o da revista Cell o mais notório. Publicada em agosto de 2022, a pesquisa “padrão ouro” contou com 120 voluntários e chegou a duas conclusões: stévia, sucralose, aspartame e sacrarina alteram nossa microbiota intestinal.

Sim, o natural e hypado Stévia. E ainda: sacarina e sucralose podem afetar também a sensibilidade à insulina.

Fica cada vez mais evidente que caloria zero não equivale a risco zero. Outros estudos, esses em animais, trazem associações entre adoçantes e infertilidade, ansiedade, problemas nos ovários, nos rins e até um comprometimento do sistema imunológico.

Continua após a publicidade

São estudos pouco conclusivos e com uma série de limitações. Mas, confesso, aqui nessa cabecinha já acende uma luz amarela. Às vezes, tenho a impressão de que os ratinhos de laboratório somos nós, e que só vamos entender os efeitos de certas substâncias no nosso corpo daqui a algumas décadas.

+ Leia também: O que explica o aumento da obesidade entre jovens no Brasil?

A essa altura do texto, você pode estar se perguntando: “Tá, mas afinal, qual deles é o menos pior: açúcar ou adoçante?” Minha resposta: não sabemos ainda. Na dúvida: evite ambos. Se for usar, use pouco.

Os efeitos do excesso de açúcar no corpo a gente já conhece. São muitos e podem ser devastadores. Os do adoçante, estamos começando a entender. Por isso, o ideal seria reduzir o consumo dos dois.

Para isso, não basta adoçar menos o café e o suco. Já ajuda, mas está longe de ser suficiente. Isso porque açúcar e adoçantes estão em centenas de produtos industrializados. E, no caso do adoçante, ainda existe uma pegadinha.

Continua após a publicidade

Sabe aquela lupinha que aparece na parte da frente das embalagens e que informa se o produto tem alto teor de açúcar, gordura ou sódio? Pois bem: a regra não vale para os adoçantes. O teor pode ser altíssimo, mas você só descobre ao ler com atenção a lista de ingredientes.

Não é preciso banir nenhum alimento da vida. Não abra mão do que te faz feliz, mas também não abra mão da informação.

Pesquise, questione, avalie e, então, decida. Só assim a gente sai do papel de cobaia e assume o protagonismo da saúde.

Compartilhe essa matéria via:
Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
Apenas 5,99/mês*
OFERTA DE INVERNO

Revista em Casa + Digital Completo

Receba Veja Saúde impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
A partir de 10,99/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.