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O que explica o aumento da obesidade entre jovens no Brasil?

Levantamento nacional aponta crescimento de 90% nos casos entre 2022 e 2023. Alimentação inadequada, sedentarismo e tempo de tela estão por trás do fenômeno

Por Lucas Rocha
Atualizado em 20 jul 2023, 15h31 - Publicado em 20 jul 2023, 15h22

Considerada um problema de saúde pública, a obesidade é um fator de risco importante para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares, diabetes e diferentes tipos de câncer.

Agora, a doença crônica tem atingido cada vez mais o público jovem. De acordo com a última pesquisa Covitel 2023 (Inquérito Telefônico de Fatores de Risco para Doenças Crônicas Não Transmissíveis em Tempos de Pandemia), aumentou o número de indivíduos com obesidade com idades entre 18 e 24 anos.

O levantamento, que ouviu 9 mil pessoas de todas as regiões do país, apontou um crescimento de 90% nos casos em comparação com a mesma pesquisa, realizada em 2022.

O estudo Covitel utilizou como base o índice de massa corporal (IMC) dos participantes, estimado com base na divisão do peso de uma pessoa, em quilos, pela altura, em metros, elevada ao quadrado.

Quando o resultado é acima de 25, o quadro é definido como sobrepeso. Já os valores acima de 30 são classificados como obesidade.

Em 2022, 9% da população dessa faixa etária apresentava IMC igual ou superior a 30 kg/cm². Neste ano, o percentual atingiu a marca de 17,1%.

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A pesquisa foi desenvolvida pela Vital Strategies, organização global de saúde pública, e pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), a partir da articulação e financiamento da Umane e apoio da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco).

Em relação ao excesso de peso, que reúne indivíduos com sobrepeso e obesidade, o índice chegou a 56,8%, considerando todos os participantes acima de 18 anos. Ou seja, a maioria da população está acima do peso considerado ideal para manter a saúde.

Os indicadores da juventude refletem um cenário que começa ainda antes disso. “Vemos também o aumento gradativo da obesidade na infância e na adolescência, o que vai repercutir nesses primeiros anos de vida adulta”, afirma o endocrinologista Paulo Miranda, presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).

O resultado é um futuro com previsões ruins para a saúde. “Quanto mais precoce for a obesidade, maior a chance de desenvolvimento de comorbidades associadas e suas complicações. Aumenta, portanto, o risco de diabetes, hipertensão e doenças cardiovasculares nessa próxima geração”, diz Miranda.

Combinação de fatores

“Na grande maioria das vezes, a obesidade está relacionada à inatividade física, ao aumento do tempo de tela, e a uma alimentação inadequada, com muitos alimentos ultraprocessados, que têm maior densidade calórica [muitas calorias em porções pequenas] e poucos alimentos saudáveis”, diz Miranda.

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A questão do prato é bem importante nessa faixa etária.“O maior desafio no controle da obesidade entre jovens é a melhora da qualidade alimentar. Além de fazer com que eles tenham consciência de que praticar atividade física é um tratamento e uma forma de melhorar sua qualidade de vida”, afirma Leonardo Emilio, cirurgião-geral do Hospital Israelita Albert Einstein, em Goiânia.

Alimentação

No levantamento, os participantes também foram questionados sobre hábitos alimentares e prática de atividades físicas.

A população de 18 a 24 anos está entre as que menos consomem frutas de maneira regular. Apenas 33,5% dos jovens incluem a categoria na dieta cinco vezes ou mais na semana.

Eles são ainda os que comem menos verduras e legumes  — 39,2% ingerem esses alimentos na frequência recomendada.

O grupo é o que mais bebe refrigerantes ou sucos artificiais entre todas as faixas etárias. Cerca de 25% dos respondentes com essa idade tomam bebidas do tipo frequentemente (cinco ou mais vezes na semana).

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O consumo de alimentos ultraprocessados ganha espaço entre a turma devido à praticidade e ao sabor realçado a partir de substâncias artificiais. A lista inclui salgadinhos de pacote, bolachas ou biscoitos recheados, refrigerante, macarrão instantâneo, entre outros.

O Ministério da Saúde destaca que, em excesso, esse tipo de produto pode ser nocivo ao organismo, pelo alto teor de gorduras, açúcares e de sódio, além de baixo valor nutricional.

Sedentarismo

No contexto da prática de atividade física, os jovens também não se encontram em situação favorável. Na pesquisa Covitel, apenas 36,9% afirmaram praticar os 150 minutos semanais recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Por outro lado, eles são líderes em tempo de tela, com 76,1% utilizando dispositivos como celulares, tablets ou televisão três horas ou mais por dia para lazer. Ou seja, para além do tempo gasto trabalhando ou estudando online, por exemplo.

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O sono, um marcador importante para o desenvolvimento da obesidade, também está comprometido, com cerca de metade dos jovens (54,2%) dormindo a quantidade de horas recomendadas para a idade (7 a 9 horas por dia, de acordo com a National Sleep Foundation).

Como o ambiente favorece a obesidade

Mais do que uma questão de escolha individual, o ganho excessivo de peso também está associado ao contexto do local onde cada indivíduo está inserido.

O conceito, chamado ambiente obesogênico, descreve espaços que falham ao disponibilizar escolhas alimentares adequadas e que deixam de oferecer oportunidades para a prática de atividade física.

No contexto nutricional, por exemplo, diferentes fatores perpassam o acesso ou não aos alimentos pelas famílias, incluindo o preços dos produtos e a oferta de itens naturais em mercados próximos das residências, por exemplo.

O gastrocirurgião e endoscopista do Instituto EndoVitta, Eduardo Grecco, afirma que o ambiente familiar também influencia no desenvolvimento da obesidade, especialmente entre crianças. Não adianta esperar que o jovem seja ativo e coma bem se o resto da família não faz isso.

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Daí a importância de criar um ambiente favorável à saúde logo cedo, em casa. “É importante trabalhar esse ponto em família e estimular a criança na prática da atividade física, conscientizar sobre a importância das aulas de educação física e buscar algum esporte que ela goste, como natação, dança ou caminhada em família”, orienta Grecco.

Impactos para a saúde mental

Falta de vontade, preguiça, desleixo. Estas são apenas algumas das interpretações equivocadas que ainda são relacionadas pelo imaginário popular como causas da obesidade.

Embora seja bem estabelecido pela ciência que a doença ocorre por uma mistura de fatores genéticos e comportamentais, ainda é comum que seus portadores sejam vistos como pessoas que não cuidam do próprio corpo.

+ Veja também: Obesidade: novos remédios, velhos dilemas

Essa visão distorcida faz com que inúmeras pessoas tenham prejuízos para a saúde mental. Essas pessoas sofrem bullying, preconceito e acabam se retraindo por vergonha do corpo.

“É um ciclo vicioso: quanto mais aumenta a obesidade, mais o jovem se isola e menos acaba fazendo atividades físicas. Além de acabar comendo como uma forma de fuga”, diz Carlos Schiavon, coordenador científico e de ensino do Núcleo de Obesidade e Cirurgia Bariátrica da BP (Beneficência Portuguesa de São Paulo).

Como é feito o tratamento na juventude

O tratamento da obesidade é realizado com o apoio de equipes multiprofissionais, incluindo avaliação clínica individualizada, acompanhamento psicológico e possibilidade de intervenção cirúrgica.

As estratégias são personalizadas de acordo com o quadro e perfil de cada paciente, como explica o médico Ricardo Cohen, coordenador do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

“Existem pacientes que tem indicação cirúrgica primária de casos, é a minoria. E uma grande quantidade de pessoas que têm que ser tratada com medicamentos. Estamos em uma fase de ouro do tratamento, com novas medicações, como a semaglutida e o ozempic”, diz.

A cirurgia bariátrica pode ser realizada a partir dos 16 anos, com consentimento dos familiares. E a faixa etária para a utilização dos medicamentos varia conforme a bula.

Para todos os casos, é fundamental ajustes no cardápio e a prática de exercícios físicos, que potencializam e consolidam os efeitos de qualquer outra intervenção terapêutica.

No Brasil, a obesidade pode ser acompanhada pelo Sistema Único de Saúde (SUS), embora não haja a oferta de medicamentos. Essa é, aliás, uma questão antiga que mobiliza entidades relacionadas à obesidade.

Entre as ações de promoção da saúde oferecidas na rede pública estão o estímulo à atividade física regular e à alimentação equilibrada. Os profissionais de saúde também são orientados a tirar o foco da perda de peso, a acolher e cuidar do lado emocional dos pacientes.

O Ministério da Saúde lançou recentemente uma nota com orientações sobre como atender bem pessoas com obesidade no SUS.

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