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Spermageddon: produtos diários colocam espermatozoides em perigo

Contato com os chamados desreguladores endócrinos, presentes em plásticos, pesticidas e afins, afeta a fertilidade de homens e mulheres, alerta médico

Por Rodrigo Rosa, especialista em reprodução humana*
20 jun 2021, 10h32
ilustração de um espermatozoide
Substâncias químicas presentes em alguns materiais do dia a dia afetam quantidade e qualidade dos espermatozoides. (Ilustração: Marcus Penna/SAÚDE é Vital)
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A infertilidade virou um problema global. Nas últimas décadas, cientistas observam que a contagem de espermatozoides dos homens tem caído e os meninos estão desenvolvendo mais anomalias genitais. Em paralelo, as meninas experimentam mais puberdade precoce e as mulheres adultas encaram com maior frequência o declínio na qualidade dos óvulos e abortos espontâneos.

É nesse contexto que surgiu um termo, cunhado pela imprensa americana, para designar um dos lados do problema: Spermageddon. Sim, a ideia é de ameaça aos espermatozoides, o que colocaria em risco a raça humana. Parece exagero? Segundo o livro Count Down (Contagem Regressiva, em tradução livre), da cientista americana Shanna H. Swan, a contagem de espermatozoides em indivíduos de países ocidentais havia caído 59% de 1973 a 2011.

Uma das explicações para esse fenômeno reside numa classe de produtos químicos conhecida como desreguladores endócrinos. Eles imitam hormônios reais produzidos pelo corpo e, assim, enganam nossas células. Estão por toda parte: em alguns tipos de plásticos, cosméticos, tecidos, pesticidas, enlatados e até em recibos de caixas eletrônicos.

Os desreguladores endócrinos nocivos mais conhecidos, presentes em cosméticos, são os parabenos, o propilenoglicol e os ftalatos. Outro exemplo é o bisfenol A, presente em embalagens plásticas diversas. Somente para ilustrar: os parabenos agem como se fossem o próprio hormônio estrogênio, o que contribui para alterações no ciclo menstrual.

Vários produtos químicos e seus metabólitos podem interferir na expressão de genes, inibindo-os ou ativando-os e podendo levar à diminuição dos níveis de testosterona. Isso, por sua vez, tem impacto na libido e na fertilidade masculina. Experimentos conduzidos em ratos pela Universidade do Estado de Washington (EUA) indicam que o efeito dos desreguladores endócrinos é cumulativo.

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Segundo o novo livro, além do declínio na contagem, um número crescente de espermatozoides parece defeituoso: há um boom de células de duas cabeças, enquanto outras ficam sem rumo andando em círculos, em vez de nadar furiosamente em busca de um óvulo. 

A professora Swan não prevê a extinção da humanidade, mas antevê linhagens familiares terminando em um subconjunto de pessoas inférteis. Indivíduos com espermatozoides ou óvulos prejudicados não podem exercer seu direito de escolher ter um filho. Isso pode não devastar nossa espécie, mas certamente é devastador para esses casais.

Uma boa notícia nesse mar de preocupação é que a evolução nos tratamentos de reprodução humana tem permitido e permitirá salvar algumas linhagens. Mas isso não exime a necessidade de uma regulamentação governamental e a responsabilidade das empresas no gerenciamento dos riscos de forma global. 

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Por ora, podemos nos proteger armazenando alimentos em recipientes de vidro (e não de plástico), evitando aquecer alimentos em potes de plástico ou com papel-filme por cima, priorizando produtos orgânicos e verificando, nos rótulos dos itens que compramos, se há presença de parabenos, ftalatos, formol e outros desreguladores. Pelo bem (e continuação) da humanidade. 

* Rodrigo Rosa é ginecologista e obstetra, especialista em reprodução humana e diretor clínico da Mater Prime, em São Paulo, além de colaborador do livro Atlas de Reprodução Humana, da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana

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