Compulsão alimentar: o que causa e como lidar com o transtorno
Esse transtorno alimentar ganhou holofotes por causa de episódio no Big Brother Brasil envolvendo Yasmin Brunet. Conheça sintomas, gatilhos e os tratamentos
O transtorno de compulsão alimentar ganhou os holofotes recentemente por causa da modelo e influenciadora Yasmin Brunet, participante do programa Big Brother Brasil 24. Após comentários maldosos sobre a quantidade de comida que estava ingerindo, ela desabafou que estava sofrendo com crises de compulsão, um problema que já vinha tratando fora do confinamento.
E ela não é a única: no início do ano, a influenciadora e ex-participante do BBB 22 Jade Picon disse em um podcast que também teve compulsão alimentar em sua passagem pelo reality.
Essa distúrbio, claro, é um tipo de transtorno alimentar (TA). De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais 5.ª edição (DSM-5), problemas dessa natureza são caracterizados por uma perturbação persistente na alimentação, ou no comportamento relacionado à alimentação, que compromete significativamente a saúde física ou o funcionamento psicossocial.
A compulsão alimentar precisa ser diagnostica e tratada, já que compromete significativamente o bem-estar e, com o tempo, favorece doenças crônicas, como diabetes, obesidade e hipertensão.
Mas o que exatamente é esse transtorno? E como situações estressante, a exemplo do confinamento do BBB, exacerbam o risco de ele dar as caras? Confira a seguir.
O que é compulsão alimentar e quais os sintomas
A característica essencial dessa condição são episódios recorrentes de comer exagerado. Para serem enquadrados como compulsão alimentar, esses momentos devem ocorrer ao menos uma vez por semana, durante três meses.
Mas entenda: comer muitos pedaços de pizzas em um rodízio não caracteriza esse transtorno. Quem sofre com a questão não tem controle sobre o que come (mesmo em ambientes que aparentemente não instigam exageros) e precisa de ajuda profissional para lidar com a condição.
“O termo foi banalizado, como se fosse apenas uma questão de alimentação excessiva. Mas isso é diferente do transtorno de compulsão alimentar, em que é preciso uma série características para receber o diagnóstico”, explica a nutricionista Nathalia Teixeira, especialista em comportamento alimentar.
O DSM-5 (aquele guia de diagnósticos psiquiátricos) é detalhado nesse aspecto: para ser considerado um caso de compulsão alimentar, ele precisa contemplar essas três características:
- Ingestão, em um período determinado (de duas em duas horas, por exemplo), de uma quantidade de alimento definitivamente maior do que a maioria das pessoas consumiria no mesmo período, sob circunstâncias semelhantes.
- Sensação de falta de controle sobre a ingestão durante o episódio (como sentimento de não conseguir parar de comer ou controlar o que e o quanto se está ingerindo).
- Sofrimento marcante em virtude do episódio de compulsão alimentar.
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E as especificações não param por aí. Os episódios de exagero que caracterizam o transtorno precisam estar associados a três (ou mais) dos seguintes sintomas:
- Comer mais rapidamente do que o normal.
- Comer até se sentir desconfortavelmente cheio.
- Comer grandes quantidades de alimento na ausência da sensação física de fome.
- Comer sozinho por vergonha do quanto se está ingerindo.
- Sentir desgosto de si mesmo, sintomas depressivos ou muita culpa em seguida do episódio.
E atenção: quem fecha um diagnóstico de transtorno de compulsão alimentar é um psiquiatra, não o amigo ou colega do BBB.
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O que causa a compulsão alimentar?
A ciência ainda não sabe ao certo. No próprio DSM-5, está escrito: “Pouco se sabe a respeito do desenvolvimento do transtorno de compulsão alimentar”.
Especialistas acreditam que dilemas emocionais, ansiedade e estresse podem estar por trás das crises desse transtorno. Questões como preocupação com a forma corporal também estariam relacionadas. Aliás, ele costuma aparecer já na adolescência ou na idade adulta jovem, quando a pressão estética e emocional é grande.
Mas ainda não se sabe explicar porque esses sentimentos repercutem dessa forma em algumas pessoas, mas, em outras, não.
“O craving é o desejo de repetir uma experiência boa que veio através de algo ingerido, experimentado ou usado. Quando comemos, liberamos uma série de neurotransmissores que geram bem-estar, e muitas vezes o desejo de sentir de novo essa sensação positiva pode ser uma forma de escape para quem passa por alguma questão mais profunda”, pontua Teixeira. “Mas não é do nada: é preciso vários antecedentes para surgir o transtorno”, pondera.
Acredita-se também que há um fator genético para o surgimento dessa condição.
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Qual o tratamento para a compulsão alimentar?
Basicamente se age nas duas principais frentes: cuidar da mente e do corpo. É comum o uso de terapia cognitivo-comportamental e a indicação de exercícios físicos para aliviar o estresse. A depender da gravidade do caso, medicamentos podem ser considerados, desde que receitados por um profissional habilitado.
Não se recomenda tratar compulsão com dietas restritivas, menos refeições ao dia ou hábitos alimentares que fujam muito da realidade do indivíduo. Essas práticas inclusive podem acabar virando gatilhos para novos episódios de exagero.
“Quando vai abordar a compulsão, o nutricionista não fala sobre quantidades, nem impõe uma dieta. O que se faz é tentar chegar à raiz daquele comportamento“, explica Teixeira. “Para isso, é essencial o uso da comunicação não violenta e da valorização de cada passo dado e das atitudes positivas”, complementa.
O transtorno de compulsão alimentar parece ser persistente, e pode vir acompanhado de outros problemas como depressão. O ideal é que haja uma abordagem multidisciplinar de cuidados, com psiquiatra, endocrinologista, nutricionista e psicólogo.
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O caso de Yasmin Brunet e os gatilhos da compulsão alimentar
Yasmin Brunet é uma modelo reconhecida por sua beleza – como tal, acredita-se que sua alimentação seja “perfeita”. Há até uma pressão para isso, na verdade. Mas, ao entrar no BBB e ter que lidar com um ambiente totalmente diferente do comum, outros participantes começaram a notar momentos em que ela “comia demais”.
Em uma ocasião, Yasmin Brunet comeu um pote de requeijão inteiro sozinha. Em outra, escondeu alimentos para consumir depois, sem ter ninguém por perto.
A questão ganhou mais peso no programa desde que Rodriguinho, seu colega de confinamento, começou a fazer piadas e até dizer que ela tinha “largado a mão” ali dentro. No comentário mais agressivo, o cantor afirmou que Yasmin receberia uma mordaça da produção do programa para conter sua compulsão.
Foi aí que a modelo desabafou sobre sua compulsão alimentar em um “Raio-X”, momento do BBB em que os participantes fazem vídeos diários para conversar diretamente com o público. Ela afirmou que já tratava questões alimentares fora do programa, mas que lá dentro começou a descontar a ansiedade na comida.
“Há uma série de gatilhos que podem reacender um transtorno antes controlado, como um ambiente estressor em que você convive com pessoas que não necessariamente queria estar e há julgamentos, comentários, olhares e até apelidos constantes”, destrincha a nutricionista Nathalia Teixeira. “Uma condição de restrição alimentar, que estimula a ingestão exagerada quando há comida disponível, também”, complementa.
Diante das piadas dentro do programa, a modelo pediu para ser deixada “em paz” e que parassem de falar sobre sua compulsão. Recentemente, ela voltou a fumar para tentar conter a compulsão, mas ainda é constantemente julgada pelo transtorno que possui.