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Pesquisadores querem classificar Covid-19 como uma febre viral trombótica

Traços peculiares indicariam que a infecção pelo coronavírus não é só uma síndrome respiratória, e merece uma categoria própria. O que mudaria na prática?

Por Maria Tereza Santos
Atualizado em 21 Maio 2021, 12h34 - Publicado em 30 abr 2021, 11h51
Garrafa fina, com várias bolinhas vermelhas que não conseguem entrar
A coagulação excessiva causada pela Covid-19 motivou a ideia de mudar sua classificação. (Foto: Deborah Maxx/SAÚDE é Vital)
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Em um artigo publicado no periódico científico Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, cientistas brasileiros defendem que a Covid-19 deixe de ser classificada como uma síndrome respiratória aguda grave (SRAG) para se tornar a primeira febre viral trombótica. Mas o que seria isso e qual o impacto na prática dessa eventual mudança?

Atualmente, existem alguns tipos de febres virais hemorrágicas, como dengue, febre amarela, ebola e hantavirose. São todas doenças provocadas por vírus e que, em estágios mais graves, levam a sangramentos por prejudicarem a coagulação.

Já a classificação sugerida para a Covid-19, ainda não atribuída a nenhuma outra infecção, seria mais ou menos o oposto disso. Ora, em casos críticos, ela favorece a coagulação excessiva, o que aumenta o risco de trombose.

“A percepção era de que a infecção pelo Sars-CoV-2 gerava uma condição primariamente respiratória. Hoje sabemos que ela é muito mais do que isso”, explica o cardiologista Rubens Costa Filho, do Hospital Pró-Cardíaco, no Rio de Janeiro, e um dos autores do trabalho.

Ao longo do último ano, cientistas notaram que, ao contrário da Sars e da Mers, doenças causadas por outros coronavírus, a Covid-19 não é essencialmente respiratória. Dependendo da região afetada pelo vírus, é possível haver sintomas gastrointestinais, cardiovasculares, entre outros.

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Só que a possibilidade de desenvolver trombose acaba se sobressaindo — e inclusive provocando alguns dos problemas acima. Por exemplo: um estudo francês citado no artigo brasileiro revela uma incidência cinco vezes maior de trombose por Covid-19, em comparação a pacientes com SRAG por outras causas.

Os cientistas chegaram a essa conclusão ao contabilizar as pessoas atendidas na unidade de terapia intensiva (UTI) de quatro hospitais da França com males respiratórios que desenvolveram trombose.

Outra pesquisa observacional, que reuniu 184 pacientes com coronavírus internados na UTI de três hospitais na Holanda, foi mencionada. Os experts constataram 31 casos de trombose (16% do total), sendo que 81% evoluíram para embolia pulmonar.

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Costa lembra ainda de outro estudo publicado recentemente por várias instituições holandesas. Ele mostra que o risco de complicações trombóticas da Covid-19 em indivíduos hospitalizados chega a ser duas vezes maior do que em pessoas com gripe.

“O Sars-CoV-2 possui uma característica peculiar, que seria a de promover a hipercoagulabilidade do sangue”, acrescenta Costa. Isso por fomentar uma produção elevada de substâncias inflamatórias e de uma enzima chamada trombina, que participa do processo de coagulação.

O que mudaria ao classificar a Covid-19 como febre viral trombótica

Hoje, quem é internado por causa do coronavírus já recebe tratamento para evitar o surgimento ou agravamento da trombose. Porém, com a mudança da classificação, Costa espera que isso seja reforçado e aperfeiçoado.

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“Poderíamos identificar escolhas mais apropriadas quanto ao tipo de anticoagulante a ser usada, qual o melhor momento de receitar esse tratamento, por quanto tempo aplicá-lo”, enumera o especialista.

Além disso, a nova classificação daria mais foco na questão trombótica. A partir daí, estudos subsequentes ampliariam o conhecimento sobre esse ponto e, quem sabe, ajudariam a encontrar tratamentos específicos contra o coronavírus e seus efeitos.

“Estamos motivados para entender por que alguns doentes adquirem essa tendência”, diz Costa. Ele e outros pesquisadores afirmam que a mudança de categoria não afetaria o monitoramento dos casos no Brasil. Inclusive, ajudaria a aprimorar o rastreamento, diferenciando também nas estatísticas o coronavírus de síndromes respiratórias como a gripe.

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