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O que explica o aumento de mortes por câncer colorretal?

Mortalidade pela doença aumentou 20% na América Latina. Demora no diagnóstico e dificuldades no acesso ao tratamento estão entre as causas

Por Lucas Rocha
Atualizado em 16 out 2023, 17h50 - Publicado em 16 out 2023, 17h43
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  • Entre 2023 e 2025, o Brasil deve registrar mais de 135 mil casos de câncer colorretal (cólon e reto ou de intestino), de acordo com estimativas do Instituto Nacional de Câncer (Inca). Em 2021, mais de 21 mil pessoas perderam a vida devido à doença.

    A alta incidência desse tipo de câncer é acompanhada pela elevação da mortalidade, ao menos na América Latina. É o que revela um amplo estudo conduzido por pesquisadores da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP/Fiocruz), do Inca e da Universidade da Califórnia San Diego, nos Estados Unidos.

    Entre 1990 e 2019, foi registrada uma alta de 20,5% na taxa de mortalidade na região. No Brasil, assim como nos outros países latinos, a tendência é de crescimento.

    De acordo com a pesquisa, publicada no periódico científico Plos One, os indicadores locais caminham no sentido oposto ao da tendência global, que tem sido de queda.

    “Isso acontece porque boa parte dos casos de câncer de cólon vem dos países mais ricos. Como há um declínio importante da mortalidade nesses países, a média global é puxada para baixo”, explica o pesquisador Raphael Guimarães, da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz, um dos autores do estudo.

    + Leia também: Quem deve fazer o exame de colonoscopia?

    A influência da desigualdade social

    Para chegar aos resultados, os especialistas extraíram a taxa de mortalidade ajustada por idade do estudo Global Burden of Disease (GBD) de 22 países, sub-regiões e grupos de países latino-americanos.

    Essas informações foram então relacionadas aos dados do índice de desenvolvimento humano (IDH) de cada nação. O pesquisador da Fiocruz explica que o IDH pode ser associado a dois fatores importantes para o câncer colorretal.

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    O primeiro deles é o acesso ao serviço de saúde, que vai determinar não só a possibilidade do diagnóstico precoce, mas também de receber o tratamento adequado em tempo oportuno.

    “O outro ponto é que percebemos que a situação socioeconômica dos lugares acaba determinando também o padrão de consumo alimentar da população. Um dos principais fatores de risco para o câncer de cólon é exatamente a alimentação inadequada”, diz Guimarães.

    O cruzamento de indicadores revelou uma grande heterogeneidade na região, indicando que a relação entre níveis de desenvolvimento e a mortalidade pela doença é complexa.

    Países com baixo IDH, por exemplo, tiveram menor mortalidade por câncer de intestino. Os pesquisadores avaliam que o resultado pode ser explicado por um subdiagnóstico das causas de morte e por questões ligadas ao padrão alimentar.

    + Leia também: Câncer colorretal: como garantir qualidade de vida a quem fez cirurgia

    “Lugares mais pobres têm dificuldade de acesso a alimentos ultraprocessados e carne vermelha. Em locais com desenvolvimento médio, há um alcance mais fácil, sendo definitivamente o grupo que mais consome. No grupo com maior poder aquisitivo, até há oportunidade de comer mais carne e ultraprocessados, mas opta-se por um padrão alimentar mais saudável, com frutas, orgânicos e hortaliças”, diz o pesquisador.

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    De acordo com o estudo, nações de nível de renda semelhante ao do Brasil concentram problemas como acesso tardio ao diagnóstico, dificuldades para obter tratamento e exposição aos fatores de risco. Essa é a “tempestade perfeita” para a redução na sobrevida dos pacientes.

    “O câncer de cólon e reto é um problema emergente no Brasil com o qual precisamos ter muito cuidado. Se não revertermos essa tendência de alta, é possível que em alguns anos ele ultrapasse os demais cânceres e se torne o mais prevalente no país”, diz.

    Atualmente, no que diz respeito à incidência, a doença fica atrás apenas dos tumores de mama e de próstata – excluindo os de pele não melanoma.

    Neste momento, o grupo de pesquisa desenvolve um novo estudo focado na situação  nacional. A ideia é avaliar se os padrões de heterogeneidade da mortalidade vistos entre os países da América Latina também ocorrem nos estados brasileiros. De acordo com Guimarães, os resultados preliminares indicam que sim.

    + Leia também: Colostomia e ileostomia: para quem são indicadas e os cuidados necessários

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    Consumo de carne vermelha em excesso é sinal de alerta para o câncer de intestino (Foto: José Ignacio Pompé/Unsplash/Divulgação)
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    Alimentação: palavra-chave

    O desenvolvimento do câncer de intestino é altamente influenciado pela alimentação. A falta de frutas, vegetais e outros itens que contenham fibras elevam o risco do problema.

    Também favorecem o surgimento da doença o alto consumo de carnes processadas, como salsicha, mortadela, linguiça, presunto, bacon, peito de peru e salame, e a ingestão excessiva de carne vermelha, considerada alta acima de 500 gramas por semana.

    De acordo com o Inca, os fatores de risco incluem ainda: idade igual ou acima de 50 anos, falta de atividade física, sobrepeso ou obesidade, tabagismo e consumo de bebidas alcoólicas.

    As chances são aumentadas em pessoas que tiveram familiares com esse tipo de câncer, com histórico pessoal de tumores de intestino, ovário, útero ou mama, além de doenças inflamatórias do intestino.

    Sintomas e diagnóstico

    O câncer de intestino pode apresentar manifestações semelhantes às de outras doenças que afetam a região. Contudo, ter atenção aos sinais e buscar atendimento médico diante da persistência pode ajudar no quebra-cabeças do diagnóstico.

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    De acordo com o Inca, os sinais mais associados câncer colorretal são:

    Diante desses indicativos suspeitos, o diagnóstico pode ser feito a partir de diferentes procedimentos.

    Um primeiro exame investiga a presença de sangue oculto nas fezes. Utilizada para confirmação do câncer, a colonoscopia permite visualizar as estruturas do intestino grosso e a parte final do intestino delgado, além da realização da biópsia para análise laboratorial.

    Chances de cura

    A doença é curável, principalmente quando ainda não se espalhou para outros órgãos, como explica o médico Alexandre Palladino, chefe da Oncologia Clínica do Inca.

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    “O diagnóstico precoce é muito importante porque existe claramente uma relação da extensão da doença com o resultado do tratamento”, afirma Palladino.

    O tratamento é individualizado de acordo com o tamanho e localização do tumor de cada paciente. As medidas incluem cirurgia, radioterapia e quimioterapia.

    O especialista destaca que os índices elevados de mortalidade podem ser revertidos a partir da combinação de fatores como a ampliação do acesso à saúde, a detecção e o tratamento em tempo oportuno e a conscientização da população sobre medidas de prevenção.

    “Orientamos as pessoas a buscarem hábitos de vida saudáveis: evitar excesso de bebida alcoólica e de carne vermelha, ter uma dieta mais balanceada e rica em fibras, praticar atividade física regularmente e manter um peso apropriado”, diz o médico.

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