Lugol: o uso indiscriminado pode destruir a tireoide
Propagada na internet como um santo remédio, a solução à base de iodeto de potássio representa sérios riscos à saúde quando fora de contexto
Membros da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem) estão preocupados com a ascensão do lugol nas redes sociais. Tanto que a entidade decidiu contra-atacar as postagens que afirmam que essa substância tem o poder prevenir e tratar câncer, fibrose cística e outras doenças. “Não há comprovação científica para tais benefícios”, alertou, por meio de um comunicado à imprensa, o endocrinologista José Augusto Sgarbi, presidente da Sbem Regional São Paulo.
Se faltam evidências para justificar o uso irrestrito, os malefícios estão mais do que comprovados. Veja: uma gota de lugol contém 6 miligramas de iodo, muito mais do que o necessário para um adulto saudável (de 0,1 a 0,25 miligrama). Acontece que a dose diária recomendada em certas páginas de internet varia entre seis e nove gotas. Aí, quem padece com a sobrecarga é a tireoide.
Em entrevista à SAÚDE, Sgarbi explicou o que tende a acontecer nesse cenário: “O excesso de iodo pode provocar a inflamação autoimune ou até uma ação tóxica que leva à destruição dessa glândula.” Não à toa, o quadro é associado a problemas como o hipo e o hipertireoidismo.
Aliás, é apenas quando a produção da tireoide dispara a ponto de colocar em risco a vida do paciente — condição chamada de crise tireotóxica — que os médicos prescrevem lugol. “Ele bloqueia rapidamente a captação de iodo e a liberação de hormônios tireoidianos, ao contrário dos medicamentos indicados em situações menos graves”, explica Sgarbi. Pelo mesmo motivo, a solução entra em cena quando se opta pela retirada cirúrgica da glândula.
O sal de cozinha e pescados em geral são as principais fontes de iodo presentes no cardápio dos brasileiros. A suplementação feita com complexos vitamínicos, é claro, ocorre de maneira individualizada — e só deve começar após o aval de um profissional.