Incontinência urinária é tabu entre mulheres. Silêncio atrasa o tratamento
Os escapes de xixi podem ocorrer em qualquer idade, mas nunca devem ser considerados normais; mulheres são as que mais sofrem com o problema
Uma pesquisa recente aponta que 80% das brasileiras nunca falaram sobre incontinência urinária no consultório médico, e 85% não abordam o tema nem com as amigas mais próximas por sentirem vergonha ou constrangimento. Para ter ideia, até 40% das mulheres podem perder urina de forma involuntária.
O estudo foi encomendado pela Kimberly-Clark, fabricante de absorventes, e conduzido pela Grimpa. Foram ouvidas 1 210 mulheres, de 18 a 45 anos, das classes sociais A, B e C e de todas as regiões do Brasil.
Ainda segundo o levantamento, 36% das participantes já buscaram saber as causas da incontinência urinária de alguma forma, e 28% desconhecem totalmente as formas de prevenção.
O custo de manter o silêncio sobre o problema é vê-lo se agravar, tornando-se até irreversível. A falta de tratamento e piora do quadro prejudica, ainda, a saúde mental. Afinal, quem tem medo de passar por um momento constrangedor pode acabar preferindo o isolamento social, o que eleva o risco de depressão.
“Muita gente associa o problema ao envelhecimento, mas ele pode ocorrer em qualquer idade e deve ser tratado”, alerta a ginecologista Rebeca Gerhardt, de São Paulo.
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Para virar esse jogo, as mulheres precisam falar sobre o tema. Os médicos têm papel fundamental nisso: basta levantar o assunto com mais frequência durante as consultas, independente da idade da paciente.
A mulher adulta que ainda não sofreu com o escape de xixi pode investir na prevenção. Isso inclui manter uma alimentação saudável, fazer exercícios físicos e evitar a obesidade e o tabagismo. Há também a malhação e fisioterapia dedicadas ao assoalho pélvico.
Escapes são comuns, mas não normais
Quando a incontinência urinária é colocada pra baixo do tapete, a mulher que sofre do problema acaba pensando que é a única a perder xixi de forma involuntária.
Mas os números mostram que a condição é pra lá de comum: mais de 20 milhões de brasileiros apresentam algum tipo de incontinência urinária, segundo a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU).
A maioria é do sexo feminino. Um levantamento de 2019 sobre o tema, com a participação de 5 184 pessoas, constatou que 45,5% das mulheres sofriam de incontinência – entre os homens, o número era de 14,7%.
Para chegar ao tratamento correto, é preciso, em primeiro lugar, ir ao médico para investigar as causas desse escape. “Há muitas nuances, mas podemos dividir a incontinência urinária em dois grandes grupos: aquela que acontece por esforço e a que ocorre por urgência”, explica o urologista Fernando Almeida, professor de urologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
A incontinência por esforço é quando o xixi escapa ao tossir, espirrar ou carregar algo pesado, por exemplo. Ela ocorre pelo enfraquecimento da musculatura do assoalho pélvico, responsável por fechar a uretra. Esse tipo está associado, entre outras coisas, a tabagismo, obesidade e múltiplas gestações.
“Ela também vem com a idade, porque tem relação com a redução de estrogênio na menopausa, e ao envelhecimento da musculatura do assoalho pélvico”, explica Rebeca. Por isso, a fisioterapia pélvica, que trabalha essa região do corpo, costuma ser a primeira opção de tratamento.
Na incontinência de urgência, o indivíduo precisa correr ao banheiro porque não consegue segurar o xixi por tempo suficiente. “Essa tem mais causas neurológicas e pode estar relacionada a outras doenças, como o diabetes. Pode ter conexão ainda com ansiedade”, explica a ginecologista.
A fisioterapia pélvica também é bem-vinda nesse cenário. Mas também há a opção de utilizar medicamentos capazes de regular as contrações da bexiga. Outra medida à disposição do médico é a aplicação de toxina botulínica (botox) para impedir que a musculatura ao redor da bexiga a comprima.
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Quem tem o problema crônico pode utilizar um dispositivo que reativa a conexão neural do cérebro com o assoalho pélvico por meio de impulsos elétricos. Uma empresa lançou, recentemente, uma versão em miniatura, que pode ser implantada na região do glúteo.
“É como um marcapasso. Ele é colocado com anestesia local em um procedimento não invasivo. A bateria precisa ser carregada, como os modelos antigos. Mas basta utilizar um cinto, uma vez por semana, para realizar esse trabalho”, explica o urologista.
Antes, esses aparelhos mediam 14,3 cm³ e eram implantados nas costas. Agora, são apenas 2,8 cm³. “É como um pequeno pendrive”, explica Almeida. Como se vê, não faltam opções de tratamento. Mas, primeiro, é preciso encarar que o problema existe.