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Heroína: consequências do vício e reabilitação

Droga é altamente viciante e apresenta risco elevado de overdose pela dificuldade de estimar a quantidade de substância utilizada

Por Lucas Rocha Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
22 nov 2024, 11h53
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Heroína antes do preparo para uso (Foto: Drug Enforcement Administration/EUA/Divulgação)
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A utilização de heroína é considerada um grave problema de saúde pública, devido à sua alta capacidade de provocar dependência.

A droga é um opioide, classe que inclui fármacos como a morfina e a codeína, que têm um potente efeito analgésico. Contudo, ela é ilegal, não sendo usada de forma controlada nem para fins médicos.

A heroína atua no cérebro, onde é convertida em morfina, provocando uma “onda” de euforia que pode variar de intensidade. Os efeitos incluem vermelhidão e aquecimento da pele, boca seca e uma sensação de peso nas extremidades. São comuns incômodos como náuseas, vômitos e coceira intensa.

Após a fase inicial, há um período de sonolência acompanhado por confusão mental, diminuição da função cardíaca e da respiração. Os sintomas podem levar a acidentes, danos cerebrais permanentes, coma e à morte.

A dificuldade de estimar a quantidade da substância em cada dose aumenta significativamente as chances de overdose. Além disso, o consumo de maneira injetável, com compartilhamento de seringas, eleva os riscos de transmissão do HIV e de hepatites B e C.

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O que é heroína?

A heroína é uma droga processada a partir da morfina, uma substância natural derivada do ópio extraída de certas variedades de plantas de papoula.

Em geral, é comercializada ilegalmente como um pó branco ou marrom. Para lucrar, os distribuidores costumam misturar o conteúdo com elementos como açúcar, amido, leite em pó e até mesmo outras drogas ou compostos desconhecidos dos usuários.

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Qual a origem da droga?

Os primeiros registros do ópio remontam a períodos históricos distantes.

“O uso do ópio na antiguidade, inicialmente pela medicina greco-romana, é bem documentado, tendo relatos de domesticação da papoula do ópio por volta de 6.000 anos antes de Cristo”, conta a médica psiquiatra Flávia Zuccolotto, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

A molécula de diacetilmorfina, nome técnico da heroína, foi sintetizada em 1874 pelo químico britânico Charles Alder Wright.

“O composto passou a ser comercializado em 1898 contra a tosse. Prontamente foi observada como uma preocupação de saúde pública ao se perceber que além de ter um poderoso efeito analgésico, aproximadamente duas vezes mais potente que a morfina, poderia desencadear dependência grave e uso ilícito”, detalha Flávia.

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Uso injetável de heroína aumenta risco de transmissão de doenças (Foto: Randy Laybourne/Unsplash)
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Como ela é utilizada?

A heroína pode ser injetada na veia, fumada ou cheirada na forma de pó. Em geral, as versões mais puras são inaladas ou fumadas.

“A heroína atravessa rapidamente a barreira hematoencefálica, chegando rapidamente ao sistema nervoso central. Todas as vias de administração levam à rápida absorção, em questão de poucos minutos ou menos no caso da via intravenosa”, explica a psiquiatra.

Como a substância atua no organismo humano?

No cérebro, neurotransmissores se ligam a receptores para regular a dor, liberação de hormônios e sentimentos de prazer e bem-estar.

A heroína e demais substâncias produzidas pelo corpo em contato com a droga se ligam e ativam receptores específicos chamados Mu no centro de recompensa do cérebro. Eles estimulam a produção de dopamina, relacionada à satisfação e motivação.

“Uma vez absorvida, a heroína chega ao cérebro em 15 a 20 segundos. Os receptores Mu são responsáveis pelos efeitos analgésicos, pela depressão respiratória e euforia. A ativação também causa contração das pupilas ou miose, redução da motilidade gastrointestinal e dependência fisiológica”, resume Flávia.

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Quais são os efeitos da heroína?

As consequências dependem da quantidade de droga usada e de características relacionadas à ligação entre os neurotransmissores e receptores, que podem variar de uma pessoa para outra.

“Inicialmente o usuário experimenta uma sensação de euforia, prazer, felicidade extrema, acompanhada de relaxamento, sonolência e até sedação. A atividade do sistema respiratório é reduzida, podendo levar a uma respiração mais superficial e, inclusive, à parada respiratória, com risco de morte“, pontua a médica.

A heroína também tem o efeito de alívio rápido da dor física e diminuição da psicomotricidade, ou seja, o usuário fica letárgico e com dificuldade para se mover ou responder a estímulos.

“Pode ainda levar a alucinações visuais, auditivas, sensação de desrealização e despersonalização. Náusea e vômito também podem ser comuns”, elenca Flávia.

Problemas de longo prazo

O uso frequente de heroína altera a estrutura e a fisiologia do cérebro, criando desequilíbrios de longo prazo nos sistemas neuronais e hormonais.

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Além disso, estudos mostram a possibilidade de deterioração da substância branca do órgão, que pode afetar a capacidade de decisão, regulação do comportamento e respostas ao estresse.

“Danos no sistema nervoso central são descritos, interferindo em concentração, memória e raciocínio, bem como prejuízo no funcionamento cerebral relacionado ao controle inibitório e de recompensa”, alerta a psiquiatra.

Também são relatadas constipação intestinal, arritmias cardíacas, alterações respiratórias e pressão baixa.

O uso injetável da droga aumenta o risco de infecções bacterianas como abscessos, celulites, endocardites (que atingem os tecidos do coração). Há, ainda, possibilidade de contágio por vírus transmitidos pelo sangue como o HIV e das hepatites B e C, pelo compartilhamento de agulhas.

“Além da própria dependência que se estabelece de maneira grave, o uso afeta de outras maneiras a saúde mental do indivíduo, levando a isolamento e prejuízo nas relações interpessoais, sociais e no trabalho, com grande ocorrência simultânea de quadros depressivos, ansiosos e psicóticos”, afirma Flávia.

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A cor escura é resultado de métodos de processamento que deixam impurezas (Foto: Drug Enforcement Administration/EUA/Divulgação)

Uma pessoa pode sofrer overdose de heroína?

A falta de controle dos usuários sobre a quantidade exata de heroína presente na mistura adquirida eleva as chances de overdose, que pode ser fatal.

Em grandes quantidades, a heroína reduz a frequência cardíaca e a respiração de maneira significativa. Há ainda um alto risco de queda no suprimento de oxigênio no cérebro e de parada cardiorrespiratória, situações que representam emergência médica.

“Estudos mostram que muitos casos de depressões respiratórias durante o uso de heroína estão ligados ao consumo concomitante de outras drogas, como benzodiazepínicos e álcool, que, somados, potencializam o efeito depressor do sistema nervoso central”, frisa a médica.

O Instituto Nacional sobre Abuso de Drogas (NIDA) dos Estados Unidos afirma que, nesses casos, o uso de naloxona pode ser útil para cortar o efeito da substância no organismo temporariamente.

Existe risco de dependência?

A dependência da heroína pode se desenvolver rapidamente, após alguns dias ou algumas semanas de utilização.

Isso significa que o corpo se adapta à presença da droga e passa a manifestar sinais de abstinência caso o uso seja interrompido repentinamente, como explica a psiquiatra do Hospital Oswaldo Cruz.

“A substância possui características de gerar tolerância, ou seja, necessidade de doses cada vez mais altas para se obter o efeito anterior desejado. Isso faz com que a pessoa fique resistente a doses mais baixas e utilize maiores”, detalha.

As reações físicas e psicológicas diante da ausência incluem sintomas de tremores, dores musculares, hipertensão arterial, sudorese, náuseas, vômitos, irritabilidade, agitação e intenso mal estar

+ Leia também: A anatomia dos vícios: por que eles surgem e como domá-los

Como são os tratamentos de reabilitação?

O transtorno de uso de heroína pode ser tratado a partir de um conjunto de abordagens, como terapias e medicamentos. O objetivo central é restaurar o grau de normalidade da função cerebral e restabelecer comportamentos saudáveis, afastando o usuário da droga.

“Em um primeiro momento a desintoxicação é necessária, podendo ser indicada internação hospitalar bem como uso de medicações que evitem os sintomas de abstinência. Em seguida, é útil realizar o tratamento de manutenção com medicação, bem como o cuidado de comorbidades clínicas e questões de saúde mental”, explica Flávia.

Terapias comportamentais podem auxiliar o indivíduo a identificar gatilhos e evitar recaídas. A participação em grupos de apoio também fomenta o desenvolvimento de estratégias de enfrentamento.

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