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Hepatite viral: muitos brasileiros vivem com a doença, poucos sabem

Doenças silenciosas, que podem permanecer anos sem apresentar sintomas, são consideradas um problema de saúde pública

Por Lucas Rocha
Atualizado em 28 jul 2023, 15h44 - Publicado em 28 jul 2023, 14h45
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As hepatites virais são a principal causa de câncer no fígado (Foto: Erika Onodera/SAÚDE é Vital)
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As hepatites virais são infecções que afetam o fígado, consideradas um problema de saúde pública.

Em geral, são doenças silenciosas, que podem permanecer anos sem apresentar sintomas. Para se ter ideia, estima-se que um milhão de brasileiros tenha hepatite B, mas apenas 264 mil foram diagnosticados e uma parcela ainda menor, de 41 mil, faz o tratamento.

Em alguns casos, porém, despertam quadros agudos e exigem atenção médica imediata. Os impactos para o organismo variam conforme a intensidade da doença, mas ela pode se tornar crônica levar a complicações como cirrose e câncer no fígado.

No Brasil, a maior parte dos casos está associada aos vírus A, B e C. As hepatites D e E ocorrem com menos frequência, sendo o vírus D mais comum na região Norte do país.

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Tipos de hepatite viral

Hepatites A e E

As infecções pelas hepatites A e E acontecem principalmente a partir do consumo de água e alimentos contaminados com fezes que contenham os vírus. Áreas desprovidas de saneamento básico, sem tratamento de água e esgoto, favorecem a propagação das duas doenças.

O contágio também ocorre a partir do contato próximo entre pessoas, como indivíduos que convivem na mesma casa ou crianças em creches, como no momento da troca de fraldas sem a higienização correta das mãos.

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As doenças podem ainda ser transmitidas a partir de relações sexuais que incluam interações entre boca e ânus.

No caso específico da hepatite E, o vírus também é disseminado pela ingestão de carne mal cozida ou produtos derivados de animais infectados, como fígado de porco, por exemplo.

As duas doenças podem não apresentar sinais. Entre os sintomas mais comuns estão cansaço, mal-estar, febre e dores musculares.

Os pacientes também têm impactos gastrointestinais como enjoo, vômitos, dor abdominal, constipação ou diarreia, além da presença de urina escura, pele e olhos amarelados — quadro chamado de icterícia.

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O diagnóstico é feito a partir de exame de sangue, a partir do qual se realiza a pesquisa por anticorpos contra os vírus A e E.

Geralmente, os casos são autolimitados e a evolução das doenças é benigna. Não existem medicamentos específicos para o tratamento desses dois tipos de hepatite.

Os cuidados recomendados são evitar a automedicação, para reduzir os riscos de sobrecarga do fígado, além de alimentação equilibrada e a ingestão de água para reposição de fluidos perdidos.

Hepatites B e C

A transmissão desses dois tipos de vírus pode ocorrer por relações sexuais desprotegidas ou da mãe para o filho, durante a gestação ou no momento do parto — embora as duas formas sejam menos frequentes no caso da hepatite C.

O contágio também se dá pelo contato com sangue contaminado, que pode estar presente em materiais capazes de furar ou cortar a pele, incluindo seringas, equipamento utilizado para fazer tatuagem e itens de manicure, como alicates de unha.

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A maioria dos indivíduos com hepatite B não apresenta sintomas, o que atrasa o diagnóstico.

Em muitos casos, a detecção é feita décadas após a infecção, já em fase avançada, devido a sinais relacionados a problemas no fígado, como cansaço, tontura, enjoo e vômitos, febre, dor abdominal, pele e olhos amarelados.

O surgimento de sintomas causados pela hepatite C também é muito raro, sendo que cerca de 80% das pessoas não apresentam qualquer manifestação, de acordo com o Ministério da Saúde.

Para as duas doenças, o diagnóstico inicial pode ser feito a partir da realização de testes rápidos, oferecidos em Unidades Básicas de Saúde (UBSs). Ensaios laboratoriais confirmatórios podem ser solicitados pelo médico responsável pelo atendimento.

“É importante pedir para fazer o exame de hepatite em consultas médicas ou procurar os postos de saúde que tenham o teste rápido. Recomendamos a realização a partir dos 30 anos para hepatite B e a partir dos 40 anos para hepatite C”, diz Livia Villar, chefe do Laboratório de Hepatites Virais do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz).

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A hepatite B não tem cura. O tratamento, disponibilizado pelo SUS, reduz o risco de progressão e de complicações, como a cirrose e o câncer hepático. Os medicamentos prescritos são a alfapeginterferona, o tenofovir, o entecavir e o tenofovir alafenamida, que podem ser tomados ao longo da vida.

A hepatite C, por sua vez, tem cura, e foram alcançados avanços significativos na terapia nos últimos anos. Os pacientes recebem antivirais pelo prazo de 8 ou 12 semanas, em média, e os remédios são disponibilizados pelo SUS.

“Hoje, existem medicamentos antivirais de ação direta, como o sofosbuvir, que vão proporcionar uma taxa de cura superior a 95%. O tempo de tratamento pode variar de acordo com o grau de lesão hepática de cada pessoa, mas não é um medicamento para se tomar a vida toda”, afirma Livia.

As hepatites B e C são consideradas a principal causa de câncer no fígado. Daí a importância de fazer os testes e, melhor ainda, prevenir as infecções.

Prevenção das hepatites virais

Além da adequação de redes de saneamento, a prevenção das hepatites A e E inclui a manutenção de hábitos de higiene, com destaque para a lavagem das mãos e de alimentos e a limpeza regular de pratos, copos e talheres.

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O mais importante é que existem vacinas contra a hepatite viral disponíveis gratuitamente para a maioria dos tipos.

O imunizante contra a hepatite A faz parte do calendário infantil do Ministério da Saúde, no esquema de uma dose aos 15 meses de idade (podendo ser utilizado até 5 anos incompletos nas Unidades Básicas de Saúde).

As sociedades brasileiras de Pediatria (SBP) e de Imunizações (SBIm), contudo, recomendam duas aplicações, aos 12 e 18 meses de idade.

A vacina também é disponibilizada gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS) nos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIE) para pessoas com condições clínicas de risco para a hepatite A.

A lista inclui portadores de doenças crônicas do fígado, pessoas com o vírus das hepatites B e C, distúrbios de coagulação, pessoas que vivem com HIV, imunodeprimidos, transplantados de órgão sólido ou de medula óssea, entre outros.

+ Leia também: Já olhou para o seu fígado?

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Para a prevenção da hepatite B, a vacina está disponível no SUS para pessoas de todas as idades.

O Ministério da Saúde recomenda a imunização com quatro doses: ao nascer, aos 2, 4 e 6 meses de idade (na forma da vacina pentavalente). Para os adultos, o esquema completo conta com três doses.

“Inicialmente, era uma vacina apenas para crianças. O Ministério da Saúde foi ampliando para grupos específicos e agora ela está disponível em qualquer posto de saúde, para qualquer idade. Se você fez o teste e não tem proteção para hepatite B, recomenda-se a busca pela vacinação”, orienta Livia.

Para a hepatite C, não há imunização. As medidas preventivas, que também valem para a hepatite B, são: usar preservativo sempre, não compartilhar objetos como lâminas de barbear, escovas de dente e equipamentos de manicure, além de ter atenção quanto à higiene de serviços de tatuagem e aplicação de piercings.

+ Leia também: HIV: 17% das pessoas com o vírus ainda não fazem o tratamento

Hepatite Delta

A hepatite D, também chamada de Delta, é mais rara e encontrada com mais facilidade na região Norte do Brasil. Para que a transmissão ocorra, uma pessoa precisa obrigatoriamente ter sido infectada previamente com o vírus da hepatite B.

Nesse contexto, as características gerais entre as duas doenças são semelhantes, incluindo formas de transmissão, sinais e sintomas, tratamento e prevenção.

O diagnóstico da hepatite Delta é sorológico, ou seja, consiste na detecção de anticorpos através do exame de sangue. A confirmação também considera informações clínicas, epidemiológicas e demográficas do paciente.

Casos no Brasil

No período de 2000 a 2022, foram confirmados mais de 750 mil casos de hepatites virais no Brasil pelo sistema de vigilância do Ministério da Saúde.

Veja os indicadores por tipo de vírus:

  • hepatite A: 169.094 casos (22,5%)
  • hepatite B: 276.646 casos (36,9%)
  • hepatite C: 298.738 casos (39,8%)
  • hepatite D: 4.393 casos (0,6%)
  • hepatite E: 1.780 casos (0,2%)

A distribuição variou entre as cinco regiões brasileiras.

O Nordeste concentra a maior proporção das infecções pelo vírus A (30%). No Sudeste, estão as maiores proporções dos vírus B e C, com 34,2% e 58,3%, respectivamente.

Por sua vez, a região Norte acumula 73,1% do total de casos de hepatite D.

Segundo Luís Edmundo Pinto da Fonseca, hepatologista do Centro Especializado em Aparelho Digestivo do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, as hepatites virais podem ser classificadas  como agudas, que se resolvem em até seis meses, e crônicas, com mais de seis meses de duração.

“É fundamental conscientizar a população sobre as diferentes formas de transmissão das hepatites virais e a adoção de medidas preventivas. Informações precisas e acesso a serviços de saúde são necessários para reduzir a incidência e o impacto dessas doenças”, diz Fonseca.

Julho amarelo e o Dia Mundial de Luta contra as Hepatites Virais

Julho é considerado o mês dedicado à conscientização sobre as doenças, com destaque para 28 de julho, o Dia Mundial de Luta Contra as Hepatites Virais. A campanha Julho Amarelo destaca a importância do diagnóstico precoce e do tratamento adequado.

“A cor amarela foi escolhida para fazer uma alusão à icterícia, que é caracterizada pela pele amarelada nos casos de hepatite aguda, principalmente. O mês comemorativo reforça ainda necessidade nacional de reforçar a cobertura vacinal, que continua aquém do estabelecido pela OMS”, diz a infectologista Cristiana Meirelles, gerente médica da healthtech Beep Saúde.

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