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Silenciosas, hepatites B e C são as principais causas do câncer do fígado

Pesquisa aponta que os brasileiros deixam de investigar essas doenças por falta de sintomas, mesmo com testes gratuitos disponíveis na rede pública

Por Fabiana Schiavon
Atualizado em 8 Maio 2023, 11h09 - Publicado em 9 nov 2021, 16h03
hepatite
O fígado sofre demais (mas, muitas vezes, em silêncio) com as hepatites virais, que podem ser prevenidas e/ou tratadas, (Ilustração: Erika Onodera/SAÚDE é Vital)
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Cerca de 700 mil pessoas morrem de câncer de fígado todos os anos no mundo – são quase 10 mil só no Brasil. Entre as principais causas para o desenvolvimento da doença estão as hepatites virais B e C. Ambas são bastante negligenciadas, até porque evoluem de forma silenciosa – assim como o próprio tumor de fígado.

Para ter ideia, uma pesquisa com quase 2 mil pessoas encomendada pelo Instituto Brasileiro do Fígado (Ibrafig) ao Datafolha constatou que mais da metade dos entrevistados (60%) nunca fez teste (ou não sabe se fez) para hepatite C nem para hepatite B (52%), sendo que muita gente declarou ter consciência de que os testes são gratuitos no Sistema Único de Saúde (SUS).

A questão é que, para 47% e 46% das pessoas, respectivamente, os testes parecem desnecessários porque elas não sentem necessidade/dor e por falta de interesse mesmo.

Por outro lado, a pesquisa aponta que o brasileiro está se vacinando para prevenir a hepatite B, a mais grave, e que não tem cura. Dois a cada três participantes garantiram ter recebido as três doses do imunizante. O perfil de quem já tomou, no entanto, é das classes econômicas mais altas. Ou seja, essa atitude precisa ser disseminada entre a população em geral.

Cabe lembrar que, enquanto a hepatite B pode ser prevenida com vacina, a hepatite C tem cura.

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+ LEIA TAMBÉM: Hepatites virais: não podemos deixar ninguém para trás

O câncer de fígado e suas causas

Ele pode ser primário, quando começa no próprio órgão, e secundário ou metastático, que tem origem em outro órgão e, com a evolução, chega ao fígado.

Dentre os tumores primários, o mais comum é o hepatocarcinoma ou carcinoma hepatocelular – responsável por mais de 80% dos casos. Ele tende a ser causado por cirrose, que é o desfecho de lesões provocadas no órgão, até ocasionar sua falência. Essas agressão são disparadas normalmente por hepatites virais, alcoolismo ou esteatose hepática não alcoólica, popularmente conhecida como gordura no fígado.

Estima-se que a infecção crônica pelos vírus da hepatite B e da hepatite C esteja associada a mais de 80% dos casos de carcinoma hepatocelular no mundo, segundo Raphael Brandão, chefe da oncologia do Hospital Moriah e da clínica First.

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Segundo ele, o uso de anabolizantes e outros fatores que contribuem para o aparecimento de câncer de modo geral também aumentam o risco de tumores no órgão.

“Na maioria das vezes, o câncer no fígado, assim como as hepatites virais, tem evolução assintomática, sem dor”, alerta o hepatologista Paulo Bittencourt, presidente do Ibrafig.

“Esse é um tumor que pode ser prevenido e tratado quando descoberto em estágios iniciais. Quando os sintomas se manifestam, os cuidados já passam a ser paliativos e o prognóstico, bastante pessimista”, completa o médico.

+ LEIA TAMBÉM: O que saber sobre as principais hepatites virais, da A à C

A gordura no fígado

Um artigo publicado na revista Nature, em outubro, convida o mundo a repensar as políticas contra a esteatose hepática não-alcoólica, que afeta cerca de 25% da população mundial. A América do Sul (30%) e o Oriente Médio (32%) lideram em número de casos.

Esse quadro está intimamente associado a hábitos inadequados, como sedentarismo e dieta desequilibrada, que acabam engordando o fígado. O órgão passa, então, a ser alvo de inflamação, atrapalhando a execução de suas atividades. Tal processo pode culminar na cirrose e, mais tarde, no câncer.

A situação é particularmente preocupante no cenário atual, em que boa parte da população brasileira apresenta sobrepeso ou obesidade.

Na pesquisa da Ibrafig, parece que a maior parte dos entrevistados (53%) sabe que há uma relação entre gordura no fígado e câncer nesse órgão. Mas 56% revelam que nunca fizeram exames específicos para flagrá-la.

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Os mais comumente solicitados pelo médico são os de sangue para avaliar as enzimas hepáticas AST (aspartato aminotransferase) e ALT (alanina aminotransferase) e a ultrassonografia de abdômen superior. Eles devem ser repetidos de acordo com orientação médica.

+ LEIA TAMBÉM: 4 fatores que geram câncer de fígado e como preveni-los

Prevenção e tratamento

Em primeiro lugar, é essencial cuidar dos hábitos de vida: evite o excesso de álcool, mantenha uma alimentação balanceada e seja fiel aos exercícios físicos. Se não tomou a vacina da hepatite B, vá atrás.

Além disso, não deixe de rastrear doenças, como as próprias hepatites e a gordura no fígado. Quanto antes identificar esses quadros, melhor.

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Apesar de o câncer de fígado ser silencioso, alguns sintomas merecem atenção redobrada, como redução do apetite, perda de peso, crescimento do fígado e baço aumentado. Não deixe de investigar.

+ LEIA TAMBÉM: Imunoterapia ganha aval contra o câncer de fígado

“Pacientes com cirrose devem fazer exames de ultrassonografia a cada seis meses, assim como pessoas com história familiar de câncer de fígado ou com nódulos hepáticos suspeitos”, recomenda Brandão.

Se houver indícios de malignidade, é necessário realizar um exame de biópsia. “É um procedimento cirúrgico que consiste na coleta de células e amostras de tecido para analisar a evolução de determinadas doenças crônicas, incluindo o câncer de fígado”, completa o hepatologista.

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Como geralmente ocorre, quanto antes o câncer for descoberto, maiores as chances de cura. “No que compete ao tratamento, grandes avanços têm sido observados. Há uma técnica chamada radioablação, por exemplo, que é feita com anestesia leve e evita a cirurgia. Os medicamentos oncológicos também evoluíram demais, assim como a radio e quimioembolização”, explica o médico. Para casos graves, há ainda a opção de transplante de fígado.

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