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A Covid longa na era da Ômicron e dos vacinados

Será que a nova variante é capaz de causar sintomas persistentes? E como a vacinação atua nesse sentido? Especialistas analisam esse cenário

Por Fabiana Schiavon
21 fev 2022, 19h25
covid longa sintomas
Cansaço e tosse persistente são queixas que ainda chegam aos médicos após a infecção pelo coronavírus. (Foto: Rex Pickar/Unsplash/Divulgação)
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À medida em que a onda da Ômicron começa a dar uma trégua pelo mundo, muita gente se pergunta sobre a relação dessa variante do coronavírus com a chamada Covid longa ou síndrome pós-Covid. Esses são os nomes dados àquele conjunto de sintomas que persistem um mês após o fim da infecção ou que podem surgir até tempos depois.

É que a Ômicron tem mostrado um comportamento peculiar: em comparação às cepas anteriores, ela acomete mais intensamente o trato respiratório superior (nariz e garganta) e menos os pulmões e outros órgãos.

De qualquer forma, há relatos de indivíduos com sintomas persistentes, como fadiga, problemas de memória, tosse, entre outros. Ou seja, sua menor capacidade de gerar casos graves não representa necessariamente uma menor propensão de deixar sequelas.

Na visão de Alberto Chebabo, infectologista do Hospital São Lucas, da Dasa, e presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), a variante pode até ter menos simpatia pelas células do pulmão, mas não deixa de agir como um Sars-CoV 2 original.

“O Sars-CoV-2 e suas variantes atingem um receptor que atua na maior parte das células humanas. Daí porque o vírus interfere, por exemplo, nos sistemas nervoso central e gastrointestinal, no cérebro, etc”, explica o médico. Não à toa, a Covid é considerada uma doença sistêmica – isto é, que mexe com todo o corpo, e não só com um órgão ou região.

+ Leia também: Uma doença chamada pós-Covid

Por esse motivo, para Chebabo, é muito difícil afirmar que a nova variante provoca menos sintomas persistentes.

Quem concorda com ele é Milene Silva Ferreira, gerente médica dos serviços de Reabilitação e Medicina Esportiva do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo.

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“O número de casos é menor, mas pessoas com fadigas inexplicáveis e repercussões graves, como AVC, fibrilação arterial e tromboembolismo pulmonar, continuam batendo nas nossas portas. Todos esses quadros provocam um impacto muito grande na vida”, alerta a médica.

“Até jovens que tiveram uma infecção leve surgem com complicações cardiovasculares importantes”, acrescenta.

A vacina ajuda a evitar a Covid longa?

Em artigo publicado recentemente na revista científica Nature, pesquisadores israelenses relatam um menor risco de desenvolver a síndrome pós-Covid entre os vacinados com duas doses do imunizante da Pfizer.

O achado segue a linha de um levantamento inglês publicado em setembro do ano passado no The Lancet, que observou os mesmos efeitos positivos da vacina.

Para explicar o resultado desses estudos, a médica do Albert Einstein divide os pacientes da Covid longa em dois grupos.

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“Um deles é dos casos mais severos, que enfrentaram os efeitos da internação e de um longo período de intubação”, cita Milene. Quem passa muito tempo em uma cama de hospital sofre perda de massa muscular, lesões e feridas, alterações no funcionamento do pulmão e do fígado, entre outras consequências.

Com a vacinação, esse grupo ficou menor, porque a imunização foi efetiva na missão de reduzir a incidência de casos graves.

+ LEIA TAMBÉM: Síndrome pós-Covid: como detectar e tratar os sintomas mais persistentes

O outro grupo é formado por aqueles que foram contaminados, mas não chegaram a demandar cuidados mais intensos, como internação e/ou auxílio respiratório. É que, quando o organismo é invadido pelo novo coronavírus, ao invés do nosso sistema imunológico reunir todos os esforços para combater apenas o Sars-CoV-2,  ele acaba se voltando também contra algumas áreas do corpo, como cérebro e coração.

Os imunizantes também diminuíram o risco de encarar a tal Covid longa nesse contexto. “O estudo de Israel, por exemplo, aponta que a vacina ajudaria a modular o nosso sistema imune, fazendo ele agir exclusivamente no combate ao vírus e promovendo, assim, menos infecção persistente e menos sequelas”, descreve a médica do Einstein.

Apesar de a vacinação mostrar efeitos positivos contra mortes, casos graves, internação e, agora, Covid longa, não é aconselhado relaxar de vez.

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“O risco de sintomas persistentes diminui, mas ainda há casos entre vacinados. Por isso, os protocolos de proteção continuam extremamente necessários”, alerta Milene.

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Cuidar para não virar sequela

Enquanto a síndrome pós-Covid ou Covid longa reúnem sintomas que podem ter tratamento, falar em sequelas remete a quadros que devem acompanhar o indivíduo durante toda a sua vida.

“As sequelas costumam ser manifestações tardias, mas que permanecem. O paciente que desenvolve uma fibrose pulmonar, por exemplo, tem poucas chances de recuperação. Isso fica como uma cicatriz”, esclarece Alberto Chebabo.

O infectologista informa que as sequelas podem ser silenciosas e surgirem meses após a recuperação da Covid-19. Quem conta com acompanhamento médico mais frequente, como esportistas profissionais, tende a flagrá-las mais facilmente.

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“É mais simples constatar alterações dessa maneira, mesmo quando elas não dão sinais tão claros”, relata Chebabo.

As consequências pós-Covid podem ser de ordem física, cognitiva e emocional. Perda de memória ou olfato e paladar, doenças cardíacas, estresse pós-traumático e depressão estão entre as mais comuns.

Mas as sequelas podem ser evitadas se houver diagnóstico e, a partir dele, um plano de ação. “Por isso é importante buscar ajuda se o corpo passar a se comportar de forma diferente após a infecção”, orienta Milene. Com base em uma avaliação minuciosa, o tratamento é totalmente individualizado.

+ LEIA TAMBÉM: Quando fazer teste para sair do isolamento por Covid-19? E qual o melhor?

Teste negativo tem a ver com transmissão, não com sintomas

Confirmou a Covid-19, ficou isolado por dez dias e, ao fim desse período, seu teste de antígeno deu negativo? Ótimo, mas, como contamos, é possível que certos sintomas, como fadiga e tosse, se arrastem por mais tempo.

“Fazemos testagem para detectar o vírus na fase aguda e impedir a transmissão. É natural que, após duas semanas, ele dê negativo. Mesmo assim, pode haver aquela tosse insistente ou outro sintoma que mantenha o corpo debilitado”, reforça o médico André Rodrigues, gerente da Saúde da Gente, rede digital de atendimento clínico e laboratorial.

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Na dúvida, frisa o médico, é melhor buscar um atendimento profissional.

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