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Covid-19: por que a Ômicron não pode ser considerada leve?

A variante até tem menor potencial de causar quadros graves, mas, diante da alta transmissibilidade, não dá para ficar tranquilo. Sobretudo sem vacinação

Por Fabiana Schiavon
Atualizado em 15 fev 2022, 19h22 - Publicado em 10 fev 2022, 19h39
ômicron e sub variantes
Variante Ômicron ganhou a fama de ser menos agressiva, mas muito disso se deve à cobertura vacinal.  (Foto: Svetjekolem/Unsplash/Divulgação)
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A variante Ômicron do coronavírus provocou uma explosão de quadros de Covid-19. Segundo o Instituto Todos pela Saúde, desde dezembro de 2021 essa cepa é a responsável por quase a totalidade dos casos da infecção. Recentemente, uma de suas subvariantes, a BA.2, foi identificada por aqui. Segundo análises de outros países, ela seria ainda mais transmissível.

Embora a gente tenha voltado a registrar um número expressivo de mortes – só ontem foram mais de 1 200 óbitos –, a situação poderia ser muito mais dramática se olharmos para a quantidade de novos casos diagnosticados atualmente. Para ter ideia, do início de 2022 até agora, já contabilizamos mais testes positivos de Covid-19 do que em todo o segundo semestre de 2021.

Por essas e outras, muito se falou sobre a possibilidade de a Ômicron levar a um quadro mais leve. Mas será que faz sentido?

“Leve não é bem a palavra. Podemos afirmar que a Ômicron tem uma capacidade menor de provocar um quadro grave da doença porque tende a afetar mais o trato respiratório superior [nariz e garganta]”, esclarece a infectologista Rosana Richtmann, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo.

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“Há poucos dados ainda, mas o que se sabe é que ela atinge as células de um jeito diferente, por isso tem menos impacto no pulmão”, completa Jorge Elias Kalil Filho, diretor do Laboratório de Imunologia do Incor (Instituto do Coração) do Hospital das Clínicas da FMUSP.

“Mas em quem não está vacinado, a doença pode evoluir e chegar aos mesmos sintomas graves de sempre, como a falta de ar”, ressalta o médico.

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E lembra do fato de que a Ômicron se espalha por aí muito rápido, contaminando geral? Isso é mais um motivo que nos impossibilita de considerá-la “leve”.

“A Delta levava 10% de infectados para o hospital. Digamos que a Ômicron leve 1%, mas há um número exponencial de doentes. Logo, eles vão lotar os hospitais do mesmo jeito”, raciocina Rosana.

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De acordo com a infectologista, a Ômicron provoca o sistema imunológico de uma maneira peculiar. É que essa variante tem mutações importantes na proteína spike, parte do vírus utilizada como chave de acesso às nossas células – e que é mirada pelos anticorpos formados a partir da vacinação.

Daí porque ela tem um potencial maior de causar a infecção, mesmo entre vacinados. Contudo, cabe repetir: o esquema de imunização completo segue protegendo contra os quadros graves da doença.

Avaliando outros países, temos mais indícios de que a mutação não deve ser vista com bons olhos – e, sim, a imunização. “É só observar os Estados Unidos. Como eles têm menor taxa de vacinação, há mais mortes e internações. Isso é evidente”, exemplifica Kalil. 

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Esse contexto é reafirmado em um artigo publicado no The New England Journal of Medicine. Nele, epidemiologistas da Universidade Harvard reforçam que as vacinas ajudaram a moldar a fama de Ômicron de variante “mais leve”.

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Quem, afinal, está sofrendo com a Ômicron?

O cenário que a variante encontrou ao desembarcar no Brasil é um fator importante para responder a essa questão.

Com cerca de 70% da população vacinada com duas doses, o perigo se concentrou entre quem não recebeu as injeções ou têm doenças pré-existentes. Mas vale lembrar que a maior blindagem mesmo é garantida com o esquema completo: três doses.

“Os transplantados e outros indivíduos imunossuprimidos têm desenvolvido as formas mais graves da doença, mesmo com a imunização em dia”, comenta Rosana. O Ministério da Saúde recomendou, nesta semana, a quarta dose com a vacina da Pfizer para esse público com mais de 12 anos.

Risco maior de reinfecção?

Sabe-se que o Sars-CoV-2 original, de Wuhan (China), poderia atacar novamente após um intervalo de, mais ou menos, seis meses. Com a Ômicron, ainda não há certeza sobre quanto tempo dura a proteção após um primeiro positivo, mas estudos buscam respostas.

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Rosana conta sobre uma dessas experiências: “Pesquisadores contaminaram animais com a Delta e Ômicron e, depois, recontaminaram-nos com as duas. Os bichos da Delta não adoecerem de novo, mas os da Ômicron, sim”.

Ou seja, existe a probabilidade de a Ômicron nem gerar uma imunidade – ou ela acontece e é muito curta.

Agora, segundo Rosana, tem algo que é nítido: quem pegou as primeiras versões do coronavírus não está protegido contra a Ômicron.

Em artigo publicado no British Medical Journal (BMJ), é destacado que, de acordo com Wendy Barclay, coordenadora do Departamento de Doenças Infecciosas da Universidade Imperial College, no Reino Unido, é um engano pensar que infecções passadas darão proteção contra novas variantes.

Nesse sentido, mais uma vez a vacinação surge como grande aliada, já que ampliaria a resposta do nosso sistema imunológico, deixando-nos mais preparados diante de futuras cepas.

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E o combo vacina + infecção?

“Estudos indicam que ser vacinado e contrair a Covid-19 deixa a imunidade bacana, não importa a ordem. Mas esse fato não elimina os riscos de se expor a esse vírus e desenvolver um quadro grave ou ficar com sequelas”, alerta Rosana.

“Sabe-se que a Covid-19 age no coração e em outros órgãos. Houve atleta que se recuperou bem da doença e, depois, sofreu um infarto”, comenta Kalil. Ele frisa que não faltam exemplos sobre as nefastas consequências da infecção.

O médico ainda lembra que é comum ver casos de infectados pela Ômicron que ficam com sintomas persistentes – mesmo entre os vacinados. Por isso, não dá para bobear.

“O melhor é garantir as duas doses mais o reforço para se proteger da Ômicron”, defende. E, associado a isso, seguir usando máscara e evitando aglomerações.

 

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