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Covid-19: quando vem a imunidade coletiva?

Novas cepas e possibilidade de transmissão do vírus por vacinados são fatores que dificultam a resposta. Mas há uma certeza: dá para controlar o coronavírus

Por Fabiana Schiavon
Atualizado em 1 out 2021, 10h41 - Publicado em 29 set 2021, 18h37
imunidade de rebanho
Vírus respiratório e de alta circulação, o coronavírus dificilmente será erradicado. Mas dá para controlar (Ilustração: United Nations COVID-19 Response/Unsplash/Divulgação)
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Os índices esperados para alcançar a imunidade coletiva ou de rebanho em relação ao coronavírus mudaram desde o início da pandemia. Bom lembrar que a obtenção desse status, em que a maioria da população está protegida contra o vírus, depende da quantidade de pessoas vacinadas contra ele e da queda na sua taxa de transmissão, segundo o epidemiologista Guilherme Werneck, professor do Instituto de Medicina Social Hesio Cordeiro, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).

“Supõe-se que a partir de um determinado patamar de imunização, é possível interromper a circulação de um vírus. Mas, com a covid-19, é diferente”, diz Werneck.

Casos de reinfecção, o surgimento de variantes e a possibilidade de transmitir a doença mesmo após a vacinação são variáveis que bagunçaram a conta e deixaram os especialistas incertos sobre qual seria o tal patamar de imunização necessário para frear o coronavírus. Mas eles estão esperançosos em relação à queda das mortes e ao controle da doença. Desde que não haja um relaxamento total, é claro.

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O que o futuro nos reserva

O Sars-CoV-2 já pode ser considerado um vírus respiratório de alta circulação, como o influenza, causador da gripe. “Este não pode ser erradicado, apenas controlado. Por isso, há vacinação todos os anos. Com a covid-19, ainda não sabemos qual será a periodicidade ideal das campanhas”, informa Alexandre Naime, infectologista e professor da ​​Universidade Estadual Paulista (Unesp).

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No Brasil, profissionais de saúde e idosos já estão tomando doses de reforço, mas pouco se sabe sobre as próximas ações.

“Com o tempo, a covid-19 será como a dengue, uma doença endêmica, que continua circulando, mas em níveis mais baixos”, aposta o infectologista da Unesp.

No caso de doenças como sarampo, caxumba ou varíola, provocadas por vírus mais estáveis, é possível falar em eliminação. Mesmo assim, não dá para baixar a guarda completamente, e a imunização precisa ser atualizada.

“Tivemos um surto de sarampo, que já estava erradicado, por causa de movimentos antivacina. A polio não sumiu do mapa porque houve casos na África”, exemplifica a microbiologista Natalia Pasternak, presidente do Instituto Questão de Ciência (IQC).

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Quanto vacinar?

No início da pandemia, imaginava-se que ter 70% de uma população vacinada significaria o controle da doença. O estudo feito com a Coronavac na cidade de Serrana, no interior de São Paulo, mostrou que a vacina realmente faz cair a taxa de circulação do vírus. Mas alguns episódios, como a segunda onda em Manaus, começaram a levantar novos questionamentos sobre quando isso de fato aconteceria.

“Em um primeiro momento, nós reforçamos a ideia da imunidade coletiva porque se esperava que as vacinas pudessem impactar de forma importante a possibilidade de infecção, não só a evolução da doença. Com o tempo, a partir do surgimento das variantes, observamos que as injeções protegem, e muito bem, contra casos graves e mortes. Mas não impedem completamente a infecção nem a transmissão”, analisa o médico Juarez Cunha, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBim).

“A Delta mudou um pouco mais esse panorama, porque as pessoas que são infectadas com essa variante transmitem-na muito mais rapidamente do que a primeira versão do vírus”, completa Naime.

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Levando tudo em conta, Werneck entende que só com 90% da população imunizada será possível fazer uma avaliação real da situação. Afinal, com os novos achados sobre a transmissão entre vacinados e as reinfecções, o antigo cálculo de imunidade perdeu sua validade.

Agora, vale um adendo. Um estudo feito recentemente por cientistas da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, indica que uma pessoa vacinada de fato não deixa de transmitir vírus, mas ela seria contagiosa por um curto intervalo de tempo. Ou seja, os vacinados pelo menos teriam uma menor capacidade de transmissão. O trabalho ainda não revisado por outros especialistas nem publicado em periódicos científicos.

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“Acho que essa é uma questão que já vinha sendo assumida, antes das evidências científicas que agora estão aparecendo. Embora vacinados tenham menor chance de se infectar e, sendo infectados, transmitam menos, nada muda em relação ao fato de que a vacina não é um passaporte para o ‘liberou geral'”, pondera Werneck.

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Os demais especialistas entendem que não há controle da doença com menos de 80% de toda a população imunizada. E isso inclui crianças e adolescentes. “Os jovens são o grupo que mais socializa e mais se expõe, colocando o vírus para circular. Por isso é urgente que eles também se vacinem”, aponta o epidemiologista da Uerj. As crianças também já estão no plano de vacinação de alguns países.

Como devemos nos comportar?

As quedas nos números de mortes e na taxa de internação no Brasil têm animado a população. Segundo o Datafolha, 80% dos brasileiros ouvidos em uma pesquisa no início de setembro acham que a pandemia está controlada em parte ou totalmente. Outros 20% avaliam que ela está fora do controle.

“Essa tranquilidade é preocupante, porque as pessoas baixam a guarda e podem dar chance para o surgimento de novas cepas. Talvez tenhamos uma nova geração de vacinas que reduzam muito o risco de transmissão, mas isso é para o futuro”, afirma Cunha.

Máscaras e distanciamento ainda são fundamentais, e funcionam em paralelo às injeções, protagonistas do domínio pandêmico. “Mesmo tendo escapes por causa das variantes, a vacinação em massa é o que funciona, porque conseguimos diminuir a circulação do vírus. É assim que chegaremos a um controle. No futuro, o que teremos é um surto aqui ou ali, como ocorreu com a febre amarela”, raciocina Natalia. Por enquanto, o recado é continuar se cuidando.

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“Um dia vamos voltar a frequentar shows sem nada no rosto. Mas é difícil de prever quanto tempo isso vai demorar. O desfecho da pandemia depende do comportamento das pessoas, tanto em termos de adesão às campanhas de vacinação como de utilização de máscaras e respeito ao distanciamento”, reforça Natalia.

Apesar de a vacinação correr bem por aqui, a microbiologista alerta que deslizes em relação às medidas clássicas de proteção podem atrasar a contenção da pandemia. “E, mesmo que um país cumpra sua meta de imunização, é difícil isolar o vírus em um mundo globalizado”, ressalta. Precisaremos seguir atentos.

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