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Adolescentes: saiba por que é importante vaciná-los contra a Covid-19

Especialistas esclarecem dúvidas sobre reações e benefícios da injeção para esse grupo; crianças com mais de cinco anos devem entrar no calendário mundial

Por Fabiana Schiavon
23 set 2021, 18h56

Depois de recomendar a suspensão da vacinação contra a covid-19 para adolescentes sem comorbidades, de 12 a 17 anos, o Ministério da Saúde voltou a estimular a imunização. A pasta se retratou depois de críticas de entidades médicas e de manifestações da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) corroborando a segurança da vacina da Pfizer nessa faixa etária.

Especialistas esclarecem as dúvidas levantadas em meio à polêmica.

“Os adolescentes são um grupo considerado de baixo risco para as formas graves de covid-19, isso é fato. Entretanto, eles transmitem da mesma forma que os adultos. Ou seja, se pensamos em atingir a imunidade coletiva, é preciso que eles também sejam vacinados”, afirma Eduardo Jorge Fonseca, médico pediatra e membro do departamento de imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).

“Está claro que reduzimos casos de morte e hospitalização por causa da aceleração da vacina”, completa o especialista.

Outro ponto importante, segundo o membro da SBP, é que a mortalidade e o risco de desenvolvimento de formas graves da covid-19 entre adolescentes brasileiros são maiores em comparação a outros países. “Isso se deve a problemas do nosso sistema de saúde e da própria realidade socioeconômica”, explica o médico.

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Karen Morejon, médica infectologista e consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI),  concorda que há riscos para todas as idades. “A imunização dos adolescentes é importante porque eles também podem morrer e adoecer gravemente. Além disso, ao proteger essa faixa etária, de forma indireta evitamos também que os idosos sejam contaminados”.

Morte está relacionada à vacina?

Na nota divulgada pelo governo, uma das razões para suspender a vacina foi a morte de uma adolescente, em São Bernardo do Campo (SP), oito dias depois de receber a dose da Pfizer.

Após investigação, a Anvisa constatou que o óbito não tem relação com a vacina. A causa, segundo a agência, foi a púrpura trombocitopênica trombótica (PTT).

Trata-se de uma doença autoimune, que ocorre quando nosso sistema de proteção ataca o próprio organismo. “Nesse caso, o alvo é uma das proteínas que atuam na coagulação do sangue. Quando ela é totalmente destruída, o corpo começa a criar micro-coágulos, que resultam em entupimentos e outros problemas”, afirma a hematologista Fernanda Orsi, professora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

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A PTT é rara. No Brasil, ocorre em um a cada 3 milhões de habitantes. Em 95% dos casos, a doença é adquirida com o tempo. Nos demais, já se nasce com ela ou o desenvolvimento se dá na primeira infância. É mais comum em mulheres jovens.

“É uma doença aguda, que ocorre em surtos. A pessoa é saudável e começa de forma abrupta a sentir fraqueza, cansaço, apresenta manchas roxas pelo corpo e dores de cabeça muito fortes. Como os sintomas se instalam muito rapidamente, é comum correr para o pronto-socorro, onde se faz a maioria dos diagnósticos, já que os exames aparecem bastante alterados”, explica Fernanda.

É difícil estabelecer os gatilhos por trás destes episódios. “Pode ser uma situação de estresse, por exemplo. Por isso, é complexo fazer essa conexão com o imunizante. O surto pode ter ocorrido concomitantemente à vacinação, mas não ter sido causado por ela”, reflete a hematologista. Como vimos, a Anvisa descartou a relação.

“O mais importante é que milhões de adolescentes foram vacinados no Brasil, nos Estados Unidos e Europa, e essa doença foi registrada até agora em apenas uma pessoa. Não houve um aumento de casos no mundo”, ressalta Fernanda.

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+LEIA TAMBÉM: Estudo sobre proteção da Coronavac em Manaus traz primeiros resultados

Casos de miocardite e as reações adversas

O ministro ainda ainda citou relatos de miocardite associados à vacina da Pfizer para justificar a já retratada suspensão do imunizante. A inflamação no músculo cardíaco de fato é considerada uma das possíveis reações adversas da injeção, mas está comprovado que a ocorrência é raríssima e que o risco de desenvolver quadros graves de miocardite é maior ao ser infectado pelo coronavírus.

Segundo nota divulgada pela Sociedade Brasileira de Imunização (SBim), a “incidência de eventos como miocardite representa 16 casos para cada 1 milhão. Esse número é extremamente inferior à probabilidade de desenvolver o mesmo problema pela infecção”.

Um estudo divulgado pelo Centro de Controle de Doenças (CDC) dos Estados Unidos reforça que o perigo da miocardite é muito maior em pessoas que contraíram a covid-19.

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“O imunizante é seguro e aprovado pelas entidades sanitárias norte-americanas e europeias. Na maioria dos adolescentes que apresentaram miocardite pós-vacina, a doença não evoluiu de forma grave. Por isso, os benefícios da vacina continuam se sobrepondo amplamente aos riscos”, define Fonseca.

Já a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) explica que o número de reações adversas em adolescentes divulgado pelo governo representa 0,043% dos adolescentes vacinados no Brasil. E pouco se sabe sobre eles. “Não houve divulgação acerca da gravidade dos eventos, tampouco é sabido se eles ocorreram de forma aleatória ou se foram correlacionados de modo direto à aplicação do imunizante”, reforça a entidade em nota.

+ LEIA TAMBÉM: As descobertas e as lições da variante Delta do coronavírus

De acordo com o FDA, a agência que regula medicamentos nos Estados Unidos, os efeitos colaterais mais comuns em adolescentes que receberam a dose da Pfizer foram dor no braço, febre, dor de cabeça, cansaço, calafrio, enjoo e vômito.

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Imunização de adolescentes pelo mundo

De acordo com o Centro Europeu de Prevenção e Controle das Doenças (ECDC), os países da União Europeia estão com 10,4% da população abaixo dos 18 anos totalmente imunizada, e pouco mais de 13% recebeu ao menos a primeira dose. Por lá, além da Pfizer, a vacina da Moderna, não disponível no Brasil, foi aprovada para os jovens.

Nos Estados Unidos, 74% do grupo já foi vacinado, cobertura superior à da população em geral, que está em 63,5%.

Crianças podem ser vacinadas em um futuro próximo

O Brasil está na fase três dos estudos (a última antes da aprovação) que avaliam a eficácia e a segurança da Coronavac, do Instituto Butantan, em crianças. “O Chile está vacinando os maiores de cinco anos com a injeção da chinesa Sinovac, e estamos perto de publicar os resultados desses estudos no Brasil”, afirma Fonseca, membro do SBP.

Com o susto global provocado pela variante delta, muitos países que já vacinaram adultos e adolescentes estão acelerando também a imunização em crianças. A Pfizer comunicou que tem estudos comprovando uma forte resposta de seu imunizante a crianças de 5 a 11 anos. A empresa encaminhou pedidos de autorização às autoridades de Estados Unidos e Europa.

O Ministério da Saúde de Cuba iniciou a campanha para maiores de cinco anos no início de setembro. Na China, o uso da Coronavac já está aprovado para os maiores de três anos. El Salvador e Emirados Árabes já têm autorização dos órgãos de saúde, mas ainda planejam como será feita a campanha nos mais novos.

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