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Reinfecção pelo coronavírus: qual o risco real?

A reincidência da Covid-19 se tornou uma preocupação com as variantes do Sars-CoV-2. Mas essa discussão vai além disso — veja o que diz a ciência

Por Gabriel Toueg
Atualizado em 12 abr 2021, 14h54 - Publicado em 9 abr 2021, 18h50
Desenho de três vírus com miras em cima
A reinfecção por coronavírus é uma preocupação atual.  (Ilustração: Thiago Almeida/SAÚDE é Vital)
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Quando o médico Adriel Ramalho Santana teve os primeiros sintomas da Covid-19, em março de 2020, quase nada se sabia sobre a doença. Santana acredita ter sido contaminado no ambiente de trabalho por uma colega que havia retornado de uma viagem à Itália, então o epicentro global da doença. “Fiz exame sorológico algum tempo depois de apresentar os sintomas, e o resultado veio positivo para anticorpos do coronavírus”, diz.

Quase um ano depois, no último mês de fevereiro, Santana apresentou um quadro mais intenso, com febre, dor de cabeça, tosse, perda de olfato e paladar e falta de ar. Procurou um hospital. O diagnóstico pelo coronavírus se confirmou. “Diferente do que ouvi por aí, a minha reinfecção foi mais sintomática e teve um impacto maior”, conta.

As reinfecções pelo Sars-CoV-2 ainda são tema de controvérsia, algo esperado diante de uma doença que surgiu faz pouco tempo. De acordo com dados do Ministério da Saúde, até 5 de abril de 2021, oito brasileiros tiveram confirmado um segundo diagnóstico de Covid-19.

Segundo a plataforma Covid-19 Reinfection Tracker, da agência de notícias holandesa BNO News, há 69 casos confirmados no mundo, dois resultantes em morte — um homem israelense de 74 anos e uma mulher holandesa de 89.

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Pelos números apresentados, esses episódios parecem ser raríssimos. Mas certamente há uma subnotificação, explicada parcialmente pela dificuldade de confirmar com 100% de certeza uma reinfecção.

Antes de tudo, os profissionais exigem um intervalo mínimo de 90 dias entre a primeira e a segunda infecção (o que ajuda a descartar a possibilidade de o mesmo vírus ter permanecido no organismo por um longo tempo). Além disso, é necessário realizar o sequenciamento genético do vírus nas duas ocasiões em que ele invadiu o corpo. E não é qualquer lugar que faz esse teste: estima-se que 0,03% dos casos de Covid-19 passem por essa avaliação no Brasil. No Reino Unido, a taxa é de aproximadamente 5%.

Como se não bastasse, outra exigência para determinar a reinfecção é que o paciente tenha dois resultados positivos pelo exame de RT-PCR. “Comprovar esse tipo de evento é muito complicado”, admite a bióloga Camila Romano, do Instituto de Medicina Tropical da Universidade de São Paulo. “E, na minha opinião, as subnotificações impactam o nosso entendimento sobre o assunto”, completa. Segundo a pesquisadora, as reinfecções pelo coronavírus podem chegar até à casa dos 15% dos casos.

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Uma hipótese para as reinfecções é a de que o sistema imunológico da pessoa por algum motivo não criou barreiras adequadas contra o vírus. Ou, com o passar do tempo, perdeu-as.

E as diferentes variantes que pipocaram por aí também teriam um papel relevante nesse cenário. A partir de um estudo brasileiro preliminar, cientistas chegaram a estimar que a variante P1, descoberta pela primeira vez em Manaus, seria capaz de driblar o sistema imunológico de 25% a 61% dos infectados com o “Sars-CoV-2 original”.

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Segundo Camila, é cedo para dizer, com base na observação clínica, que as novas variantes aumentarão as reinfecções. “Os primeiros casos surgiram em dezembro”, lembra.

Verdade que o número de casos de Covid-19 no Brasil cresceu vertiginosamente em paralelo ao aparecimento da P1 e da P17. Mas, de acordo com a pesquisadora, é difícil saber se as infecções subiram em função das variantes ou se as variantes surgiram em decorrência do descontrole da pandemia. Ora, fica mais fácil para uma mutação se propagar em um ambiente favorável ao contágio. Se, por outro lado, ela surge dentro de uma pessoa que está completamente isolada, certamente não passará adiante — mais um motivo para manter o distanciamento físico e valorizar a vacinação.

De qualquer forma, o virologista Felipe Naveca, da Fiocruz Amazônia, afirma que a constante evolução do vírus pode dificultar o trabalho do nosso sistema imune. “O surgimento de novas variantes é indicativo de que podemos ter mais eventos de reinfecção no futuro”, afirma. “Enquanto dermos chance, o vírus seguirá se modificando”.

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Tudo isso para dizer que ter pegado Covid-19 uma vez não livra ninguém dos cuidados diários com a pandemia. Nem dispensa a necessidade de receber a vacina contra o coronavírus. Aliás, mesmo após tomar suas doses, você deve manter o uso de máscaras e as outras medidas de segurança — pelo menos até boa parte da população estar imunizada e as autoridades flexibilizarem certas atitudes.

“Estamos correndo atrás de um problema que corre atrás da gente”, lamenta Camila.

Adriel, o médico que acredita ter sido infectado duas vezes, também pensa assim: “A reinfecção acontece, é uma realidade”. Relatando a própria experiência, ele lembra que não necessariamente a segunda ocorrência levará a quadros leves.

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Gravidade e transmissão em casos de reinfecção pelo coronavírus

Naveca acompanhou de perto os três primeiros casos de reinfecção registrados no país. Ele conta que os pacientes evoluíram bem em todos. “Mas não quer dizer que outros serão assim”, alerta. Como mostramos antes, mortes após um segundo ataque da Covid-19 já foram notificados.

Segundo especialistas, o grande risco da reinfecção está associado ao fato de que a pessoa volta a transmitir o vírus. Mesmo que exiba apenas sintomas leves, ela vira uma espalhadora do Sars-CoV-2 — assim como qualquer um que o tenha pego pela primeira vez.

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