Anvisa proíbe uso e propaganda de “chip da beleza” manipulado
A medida tem como objetivo restringir o uso de terapias hormonais para fins estéticos, que já é vetado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM)
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proibiu a manipulação, propaganda e o uso de implantes hormonais.
Os produtos vendidos por farmácias de manipulação ficaram conhecidos popularmente como “chip da beleza”, devido à sua utilização para fins estéticos, algo duramente criticado por sociedades médicas, que enfatizam não haver dose segura de hormônios para essa finalidade.
Segundo a Anvisa, a medida foi adotada a partir de denúncias apresentadas por entidades como a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), que apontam um crescimento do atendimento de pessoas com problemas devido ao uso de implantes hormonais manipulados.
As fórmulas implantáveis incluem até mesmo substâncias que não possuem avaliação de segurança para essa forma de uso, alerta a entidade.
“De um lado, existe um abuso do uso desses hormônios e, de outro, a ganância de quem oferta os oferta. Essa medida foi muito importante para interromper a venda de forma indiscriminada, associada a complicações como infarto, derrame, formação de coágulos e até a morte“, enfatiza o médico endocrinologista Paulo Rosenbaum, do Hospital Israelita Albert Einstein.
A decisão foi publicada no Diário Oficial da União (DOU) e se aplica a todas as farmácias de manipulação. A Anvisa recomenda que os indivíduos que usem esses produtos procurem um médico para receber orientações específicas sobre o tratamento.
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Riscos dos implantes hormonais manipulados
No uso clínico, o implante é considerado uma maneira segura e eficaz para tratamento de condições de saúde específicas, como a endometriose, por exemplo.
“É a melhor via de entrada dos hormônios. Nesse sentido, pacientes que não se deram bem com a pílula, reposição oral ou gel se dão muito bem com os implantes”, pontua o ginecologista Malcolm Montgomery, coordenador do programa comunitário em saúde sexual e reprodutiva da mulher pela Sociedade Brasileira de Reprodução Humana (SBRASH).
Contudo, o uso para fins estéticos nem sempre acompanha as recomendações de dosagens adequadas. O chip da beleza é um implante inserido na pele que traz uma combinação de hormônios, cuja composição exata pode variar.
Os produtos prometem muitos benefícios, como o aumento da massa muscular, emagrecimento e redução da gordura corporal, além de melhora da libido, alívio dos sintomas da menopausa e ação contra o envelhecimento.
“Eles são oferecidos como promotores de bem-estar e de melhoria da performance, como se não pudessem fazer mal à saúde. Esses chips da beleza são de procedência duvidosa, com quantidades que não conseguimos sequer avaliar a absorção e os riscos”, frisa Rosenbaum.
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Entre os efeitos colaterais associados à estratégia, estão queda de cabelo, surgimento de acne, além de alterações cardíacas e impactos para o fígado.
A Anvisa publicou um alerta que destaca ainda complicações como :
- elevação do colesterol e de triglicerídeos no sangue
- hipertensão arterial
- acidente vascular cerebral
- arritmia cardíaca
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Regras para produtos manipulados
A regulamentação prevê que somente produtos cuja segurança e eficácia foram avaliadas podem ser manipulados. De acordo com a Anvisa, essa análise é feita quando alguma empresa solicita o registo de um medicamento e apresenta os dados clínicos.
Desde 2021, a agência realiza ações a respeito do assunto, como a emissão de notas técnicas. Há três anos, por exemplo, foi publicada resolução que proibiu a propaganda da substância gestrinona e de produtos, tanto industrializados como manipulados, com o fármaco que vinha sendo utilizado para ganho de massa muscular.
Vale destacar que esse tipo de implante hormonal não passou por avaliação da Anvisa e não existem produtos semelhantes registrados para fins estéticos, tratamento de fadiga ou cansaço e sintomas da menopausa.
Além disso, a prescrição de terapias hormonais para fins estéticos e melhora do desempenho esportivo é vetada no país por resolução aprovada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM).