Clique e Assine VEJA SAÚDE por R$ 9,90/mês
Continua após publicidade

Além da reprodução: cientistas descobrem função inédita do espermatozoide

Gametas infectados pelo coronavírus podem apresentar resposta imunológica semelhante ao mecanismo de defesa de células do sistema imune

Por Lucas Rocha
3 set 2024, 15h21
fertilidade-masculina
Estudo identificou que o gameta masculino tem uma função não reprodutiva (Ilustração: Veja Saúde/Veja Saúde)
Continua após publicidade

Desde os tempos da escola, aprendemos que os espermatozoides, juntamente com os óvulos, são essenciais para a geração da vida humana. Pelo visto, não é só isso.

Um novo estudo brasileiro identificou que o gameta masculino, em mamíferos, tem uma função não reprodutiva.

Os pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) observaram que espermatozoides infectados pelo coronavírus podem apresentar uma resposta imunológica semelhante ao mecanismo de defesa de células do sistema imune.

“Cada espermatozoide foi capaz de neutralizar milhares de vírus. No entanto, não sabemos se esta ação diminuiu os efeitos locais ou sistêmicos da doença”, afirma o médico urologista Jorge Hallak, coordenador do estudo e da Unidade de Toxicologia Reprodutiva do Departamento de Patologia da FMUSP.

Continua após a publicidade

Os achados foram publicados no periódico científico Andrology.

+ Leia também: Por onde anda o coronavírus?

Mecanismo de defesa

Os estudiosos analisaram amostras de sêmen de 13 pacientes com Covid-19 atendidos no Hospital das Clínicas da USP, em um período de até 90 dias após a alta e 110 dias após o diagnóstico.

Continua após a publicidade

A população avaliada tinha entre 21 e 50 anos e apresentou diferentes formas da doença, de quadros leves a graves. Ao todo, foi identificada a presença viral dentro do gameta masculino de 11 pacientes (84%).

O estudo descreve que os espermatozoides apresentaram uma resposta parecida à de um importante mecanismo de defesa celular dos neutrófilos, conhecidos popularmente como glóbulos brancos.

O processo envolve a liberação de armadilhas com efeitos antimicrobianos, que causam a morte do agente agressor. É como se fossem lançadas “teias” de material celular que envolvem e aprisionam o patógeno, neutralizando-o e impedindo seu poder destrutivo.

Continua após a publicidade

Além dos neutrófilos, essa capacidade havia sido descrita em diferentes tipos celulares do sistema imune, como macrófagos e eosinófilos, mas nunca antes em uma célula do sistema reprodutivo.

No caso dos espermatozoides, as armadilhas foram nomeadas no estudo como SETs-L (Spermatozoa Extracellular Traps-Like em inglês) e descritas como filamentos de DNA descondensado associados a partículas virais.

“Essa fantástica adaptação evolucionária pode remontar aos primórdios da transição dos vertebrados aquáticos para terrestres, quando as células tinham que exibir múltiplas funções pois ainda eram menos diferenciadas”, afirma Hallak.

Continua após a publicidade

+ Leia também: O vírus que virá

Impactos para a reprodução

As descobertas são fruto de um amplo estudo sobre os efeitos da Covid-19 no organismo, desenvolvido pela Faculdade de Medicina da USP nos últimos anos.

Os resultados recentes sugerem que os espermatozoides podem abrigar o vírus por um período prolongado, até mesmo acima dos 110 dias observados na análise.

Continua após a publicidade

Além disso, foram observadas diversas alterações funcionais nos espermatozoides e elevada taxa de dano ao DNA, que afetam a qualidade e a função dos gametas. Por isso, pode ser necessário aumentar a precaução em casos de homens que tiveram Covid-19 e desejam ter filhos.

Na concepção natural, as células reprodutivas infectadas pelo coronavírus teriam sua movimentação naturalmente prejudicada, reduzindo as chances de alcançar e fertilizar o óvulo.

Contudo, na fertilização in vitro, procedimento no qual o gameta é injetado diretamente no óvulo com uma microagulha, pode ser importante submeter o material à análise para a identificação do coronavírus, que pode influenciar nas taxas de sucesso, na qualidade embrionária e elevar a taxa de abortos.

Atualmente, o grupo de pesquisa da USP se empenha em estudos sobre os efeitos da Covid longa para o organismo. No contexto reprodutivo, os próximos passos incluem avaliações dos impactos da dengue.

Compartilhe essa matéria via:
Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 9,90/mês*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja Saúde impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 14,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a 9,90/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.