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O mundo também é dos vírus. E o virologista e especialista em coronavírus Paulo Eduardo Brandão, professor da Universidade de São Paulo (USP), guia nosso olhar sobre esses e outros micróbios que circulam por aí.
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O vírus que virá

Uma reflexão sobre os micróbios que conhecemos (e os que estão escondidos) e a capacidade deles provocarem uma nova pandemia

Por Paulo Eduardo Brandão
Atualizado em 16 abr 2024, 15h48 - Publicado em 16 abr 2024, 14h38

“O melhor modo de predizer o futuro é criá-lo”. Quem disse isso foi Abraham Lincoln, presidente dos EUA cujo assassinato cumpre 159 anos neste mês de abril. Trazendo para nosso lado a frase do “Pai Abe”, como era chamado, podemos perguntar: que vírus causará a próxima pandemia para o futuro que estamos criando?

Talvez o Ebola? Causador de hemorragias generalizadas apavorantes, ele pula bem de pessoa a pessoa pegando carona em saliva, sangue e outros fluidos corporais. Mas tem uma letalidade alta, de até 90%. Aí é difícil de ser transmitido antes que a pessoa morra (por mais trágico que isso seja). Essa letalidade tão alta tira o Ebola dos candidatos à próxima pandemia.

Então passemos para o sarampo, que tem uma altíssima capacidade de contágio. A chamada taxa reprodutiva básica desse agente infeccioso, um índice representado como R0, é de 18 – o que significa que, em média, uma pessoa é capaz de passar a doença para outras 18 (se não houver medidas como vacinação).

Mas há um porém (para o vírus): a imunidade pelo sarampo é para a vida toda. É claro que estamos falando de uma doença séria e que pode levar a morte, mas não vejo o sarampo como um bom candidato a próxima pandemia, porque esse vírus só pode infectar uma pessoa uma vez – e aí o número de suscetíveis cai.

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Que tal o mpox (Monkey pox, antes chamada de varíola dos macacos)? Há dois “defeitos” nesse vírus que o impedem de dominar o mundo. Primeiro: a sua R0 é menor do que 1, o que significa uma baixíssima taxa de transmissão.

Segundo: ele é um vírus DNA e, para a massiva maioria de vírus desse tipo, a diversidade é muito baixa, o que o impede de escapar das adaptações que nosso sistema imune faz para combater doenças. Fim da linha para o mpox.

E não podemos deixar de falar da dengue. Estamos vivendo uma epidemia em vários países do continente americano por esse vírus, que tem diversos tipos e é de RNA – ou seja, tem um relógio interno hiperativo que jorra mutantes capazes de formar um exército altamente diverso, que enganaria o sistema imune.

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Acontece que o vírus da dengue precisa de um mosquito para se transmitir. E o mosquito precisa de água para se reproduzir. E isso depende de chuva, o que não ocorre todo o tempo e na mesma quantidade no mundo todo.

A dengue é uma doença importante, pois incapacita e mata pessoas. No mais, estamos mesmo em um momento no qual o vírus fugiu da capacidade de controle no Brasil. Mas, se tivéssemos vacinas em quantidade suficiente, isso impediria o alastramento da doença e as mortes que ela está deixando em seu rastro.

+Leia também: Febre do Oropouche: a biografia do vírus por trás dessa doença

Vamos então examinar as chances do coronavírus Sars-CoV-2, que permanecerá no consciente coletivo por séculos depois de anos de pandemia que levaram a mais de 7 milhões de mortes até agora, classificando-se como mais um dos genocídios de nosso tempo.

De um lado, o coronavírus não leva a imunidade vitalícia como o sarampo; sua habilidade de infectar diversos tecidos do corpo também é uma vantagem, pois, assim, ele consegue se multiplicar em grande quantidade e superar sua fragilidade quando pula de pessoa a pessoa. Sua baixa letalidade, de uns 10%, mantém a pessoa viva e transmitindo. Claro que não é só a capacidade de matar que faz um vírus ser perigoso, mas também a gravidade e duração dos sintomas – e o coronavírus está aí (infelizmente) para provar isso.

Do outro lado, temos vacinas e tratamentos antivirais específicos contra o coronavírus. Além disso, ainda que outros animais já tenham sido achados com o Sars-CoV-2, esse é um vírus nosso, dos humanos, e não precisa desses hospedeiros acidentais. Controlar a doença na gente já seria suficiente.

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Então, como seria um um vírus pandêmico? Primeiro, ele deveria ter um genoma de RNA para que possa mutar a vontade e fugir das nossas defesas e vacinas. Daí, ser o mais promíscuo possível na escolha de hospedeiros para garantir o suprimento de corredores virais. Tomar emprestado a ideia do Sars-CoV-2 de se espelhar por todos os órgãos também o ajudaria.

Ainda seria positivo (para ele, nunca para nós) fazer com que esse vírus causasse um período de incubação bem curto, para não demorar em se transmitir. Assim como ajustar a taxa de transmissão da doença para que esse vírus não mate tão rapidamente, a ponto de cortar a transmissão.

O fato: tem muitos vírus com esta receita por aí, alguns conhecidos, alguns ainda escondidos esperando uma oportunidade. E é aí que entramos: nós damos essa oportunidade quando expulsamos animais de seus habitats naturais e fazemos com que se aproximem de nós, trazendo junto seus vírus.

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Ou quando não investimos em saneamento e atendimento médico – o que não é só uma questão de bondade, mas também de determinação contra a disseminação de novas doenças, o que já era sabido na época de Lincoln.

Ou quando esperamos que os vírus apareçam sem investir na Ciência para chegar a eles antes que eles cheguem a nós, preparando vacinas e medicamentos na eventualidade de se espalharem.

A lista do que fazemos de errado e do que temos que fazer certo para evitar a próxima pandemia viral é tão imensa quanto o número de candidatos virais. Meu candidato é o vírus da influenza, do qual já tratamos anteriormente. Qual o seu?

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