A prática regular de ioga e de outras terapias mente-corpo melhora o controle da glicemia em pacientes com diabetes tipo 2 de maneira semelhante ao uso de medicamentos para o tratamento da doença, como a metformina, aponta um artigo publicado no Journal of Integrative and Complementary Medicine.
O estudo demonstrou, ainda, que a duração da sessão de ioga não importa para o alcance dos resultados, mas sim a frequência.
Os pesquisadores analisaram os resultados de 28 estudos publicados entre 1993 e 2022. Os pacientes observados praticavam tipos diferentes de atividade para o corpo e a mente e já haviam sido diagnosticados com a diabetes. Foram excluídos da análise aqueles que usavam insulina ou estavam com alguma complicação clínica associada à doença.
Os resultados mostraram efeitos consistentes na redução da hemoglobina glicada (A1c), independentemente da modalidade de terapia adotada – sendo que na ioga os resultados foram ainda mais expressivos.
A hemoglobina glicada é um exame capaz de medir o índice glicêmico, ou seja, os níveis de açúcar presentes no sangue. O exame é padrão ouro para diagnóstico de pré-diabetes e diabetes, mas também é usado como controle da doença. Num paciente saudável, a hemoglobina glicada deve estar abaixo de 5,8%. Resultados entre 5,8% e 6,5% indicam pré-diabetes e acima de 6,5% já confirmam o diagnóstico da doença.
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Os pesquisadores concluíram que houve uma redução média significativa na hemoglobina glicada em todos os tipos de intervenção mindfulness (atenção plena).
Entre os resultados: 0,50% para os pacientes que praticavam meditação e 1% nos que faziam ioga cinco vezes na semana. Esses valores são muito próximos do controle glicêmico alcançado com o uso de medicamentos, que gira em torno de 1% a 1,5% de redução da hemoglobina glicada.
Além disso, os autores apontam uma redução de 0,22% para cada dia adicional de ioga praticado por semana entre aqueles que faziam a terapia, em comparação com os que não faziam.
Como a maioria dos pacientes usava medicação para controle glicêmico antes e durante a análise, o artigo ressalta que os efeitos observados na redução dos índices da hemoglobina são complementares ao uso dos medicamentos.
A endocrinologista Adriana Martins Fernandes, do Programa de Diabetes do Hospital Israelita Albert Einstein, afirma que a redução de 1% na hemoglobina glicada dos pacientes com diabetes tipo 2 é um resultado muito bom.
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“É um efeito muito positivo porque as melhores medicações conseguem reduzir em cerca de 1 a 1,5% o valor da hemoglobina glicada”, explica a médica, ressaltando que a ioga não substitui o tratamento, mas o complementa.
Mecanismos de ação
Embora o mecanismo de ação da prática de ioga no controle da glicemia ainda não esteja claro, Fernandes diz que a terapia é uma forma de controlar o estresse: “a gente já entendeu que uma vida estressada, sem rotina, sem dormir bem, trabalhando muitas horas por dia tem um prejuízo para a saúde como um todo. Essas medidas de controle de estresse atuam de forma a amenizar essas consequências”.
Segundo a endocrinologista, os hormônios que o corpo libera em situações de estresse – como cortisol, glucagom e adrenalina – são os chamados “contrarreguladores” porque têm uma ação exatamente oposta à da insulina.
“A insulina aumenta o consumo de glicose pelos músculos e também a captação de glicose pelo fígado. Esses hormônios do estresse atuam de forma contrária, diminuindo a captação de glicose e aumentando a liberação na circulação. Se você age para controle do estresse, você reduz a ação dos hormônios contrarreguladores e melhora a resistência insulínica. Os resultados fazem muito sentido”, explicou.
Outra hipótese para justificar os benefícios da ioga no controle do diabetes, na avaliação de Fernandes, é que a rotina de atividade física está relacionada a uma melhor qualidade de vida e alimentação, além de uma maior adesão ao tratamento.
“Isso a gente vê na prática clínica. O paciente que tem uma rotina de autocuidado, que não é aquela pessoa que só trabalha, mas que consegue reservar um tempo para fazer atividade física, adere melhor ao tratamento [tanto medicamentoso quanto não medicamentoso] e consequentemente tem melhores resultados”.
*Esse texto foi publicado originalmente pela Agência Einstein