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Toxoplasmose: o que é, sintomas e como ocorre a transmissão

Essa infecção, que acomete humanos e animais, pode ser grave, especialmente em gestantes e pessoas fragilizadas. Saiba como evitar e tratar a toxoplasmose

Por Lucas Rocha
2 fev 2024, 12h35

Doença infecciosa causada pelo protozoário Toxoplasma gondii, a toxoplasmose é transmitida pela ingestão de água e alimentos crus ou malcozidos (como verduras, legumes e carnes) contaminados com o parasita e seus cistos. Fezes de gatos infectados são a principal fonte de contaminação do ambiente.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 90% da população já entrou em contato com o Toxoplasma gondii, sem desenvolver sintomas. No entanto, ele pode permanecer no organismo em estado inativo e, quando a imunidade cai por algum motivo, aproveitar para se disseminar e provocar seus sintomas, que incluem dor de cabeça, febre e cansaço.

Especialistas explicam que o risco de complicações é maior para os pacientes imunocomprometidos, que apresentam o sistema imune enfraquecido, e para crianças cujas mães tenham sido infectadas durante ou imediatamente antes da gravidez. Essas complicações podem envolver perda auditiva ou de visão.

Confira as dúvidas mais comuns sobre a doença e as principais formas de prevenção:

O que é a toxoplasmose

A toxoplasmose é uma infecção causada por um protozoário chamado Toxoplasma gondii, encontrado em todo o mundo. O parasita apresenta uma grande capacidade de permanecer no organismo humano e de outros animais por longos períodos.

A maior parte dos indivíduos infectados não apresenta sintomas. Responsável pelas defesas do corpo, o sistema imunológico de pessoas saudáveis costuma controlar o invasor e impedir que ele provoque complicações.

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Contudo, a doença pode ser perigosa para quem tem o sistema imune comprometido, como pessoas com HIV sem controle e câncer ou os transplantados. Os riscos também se estendem, em especial, para mulheres grávidas e seus bebês.

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Como acontece a transmissão da toxoplasmose?

A doença se espalha pela ingestão de alguma das formas do parasita. Esse protozoário apresenta ciclo evolutivo com três formas principais – sendo todas capazes de gerar a toxoplasmose, se entrarem no organismo.

Uma delas, o oocisto, é uma forma de resistência do parasita presente no meio ambiente. Para ter ideia, ele pode ficar por mais de um ano no solo ou em fontes de água doce ou salgada e, uma vez ingerido, causar infecção.

“Nessa forma, a transmissão para o ser humano ocorre pela ingestão de água contaminada ou alimentos crus, como hortaliças, frutas e legumes, que tenham tido contato com fezes de gatos infectados”, explica a pesquisadora Regina Amendoeira, chefe-substituta do Laboratório de Protozoologia do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz). “Os oocistos também podem ser ingeridos quando levamos a mão suja de terra e areia contaminadas à boca”, completa.

Outra forma do protozoário, o cisto, é capaz de nos infectar principalmente por meio do consumo de carnes cruas e malcozidas. Mais raramente, o  parasita também pode ser transmitido pelo consumo do leite cru.

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“As gestantes, nos casos de infecção aguda, podem transmitir a doença para o feto pela placenta, a chamada transmissão congênita”, acrescenta Regina.

Vale destacar que as fezes de pombos e cães, que podem transmitir outras doenças, não são responsáveis pela transmissão da toxoplasmose.

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Lavar adequadamente frutas, legumes e hortaliças, em água corrente, ajuda a prevenir a toxoplasmose (Foto: Freepik/Divulgação)

Mitos e verdades: qual é o papel dos gatos no ciclo da doença?

Quando infectados, os gatos domésticos e outros felinos selvagens eliminam os oocistos do Toxoplasma gondii nas fezes por algumas semanas. Eles precisam permanecer pelo menos três dias no ambiente, sob condições de temperatura e umidade adequadas, para que se tornem infectantes.

“Ou seja, o contato direto com o gato não oferece risco para transmissão da toxoplasmose. Além disso, eles só eliminam o parasita nas fezes uma vez na vida, em geral quando são filhotes e se infectam pela primeira vez”, pontua Regina.

Vale lembrar que o risco de adquirir a toxoplasmose não está necessariamente relacionado a ter ou não um gato de estimação, mas à forma como esses animais são criados.

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Ou seja, cuidados básicos de higiene e alimentação adequada do pet minimizam a probabilidade de transmissão.

Para evitar a infecção dos próprios gatos, é importante que a alimentação seja feita com ração ou patê comercial de boa qualidade. Caso o tutor opte em fornecer alimentos preparados em casa, carnes cruas ou malcozidas são contraindicadas.

Também é importante limpar a caixa de areia diariamente, removendo as fezes com a pá, e higienizando com água e sabão.  Durante a limpeza desse equipamento, recomenda-se usar luvas e máscaras descartáveis.

“Manter os gatos em casa, evitando que eles tenham acesso à rua e um possível contato com outros animais infectados, também diminui os riscos”, orienta Regina.

Já o diagnóstico da infecção se baseia em exames de sangue e fezes do animal. É importante que os gatos sejam levados ao veterinário pelo menos uma vez ao ano para avaliações de rotina.

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Quais são os principais sintomas?

A toxoplasmose pode ser assintomática em grande parte dos casos. Outros indivíduos apresentam sintomas leves, que, na maioria das vezes, não são percebidos ou relacionados com a toxoplasmose. Regina Amendoeira, da Fiocruz, destaca alguns típicos da fase aguda da doença:

  • Dor de cabeça
  • Mal-estar
  • Febre
  • Dores musculares
  • Dores nas articulações
  • Cansaço
  • Irritação
  • Ínguas na região das axilas, virilha e pescoço

“Muitos casos são confundidos com a gripe”, ressalta a especialista.

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De que forma é feito o diagnóstico?

O diagnóstico da infecção por Toxoplasma gondii depende de uma avaliação clínica e de testes laboratoriais, em especial exames de sangue – principalmente por sorologia específica para detecção de anticorpos que marcam infecção recente aguda (IgM) e a fase crônica (IgG).

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Quais as complicações e os fatores de riscos de agravamento?

Os casos mais graves ocorrem pela chamada toxoplasmose congênita, transmitida ao feto pela mãe durante a gestação. E de indivíduos imunocomprometidos, incluindo pessoas com HIV que apresentem baixa imunidade, pacientes que realizaram quimioterapia, transplantados ou usuários de medicamentos imunossupressores.

“Nesses casos, a doença pode trazer complicações, como cegueira e diminuição auditiva, além de afetar o sistema nervoso, o que ocasiona a chamada neurotoxoplasmose”, acrescenta Regina. Nesse última situação, convulsões, AVCs e, em bebês, problemas de desenvolvimento neurológico podem aparecer.

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No mais, a especialista destaca que o parasita por trás da toxoplasmose pode gerar uma infecção generalizada e perigosa, inclusive nos pulmões e no coração.

Por que gestantes devem ter ainda mais atenção com a toxoplasmose?

Como dito, o Toxoplasma gondii pode ser transmitido para o feto durante a gestação. E isso aumenta o risco de aborto, cegueira, malformações e alterações cerebrais, como microcefalia e hidrocefalia.

A gravidade depende de fatores como a resposta imune da mãe e o período gestacional em que houve a infecção.”O acompanhamento das gestantes tem por objetivo prevenir a transmissão fetal e antecipar o tratamento, se necessário. A sorologia deve ser solicitada na primeira consulta ou no primeiro trimestre de gravidez”, diz a pesquisadora.

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Como é feito o tratamento?

Em geral, a toxoplasmose não tem um tratamento específico. O foco é enfrentar os sintomas e as eventuais complicações.

Para as gestantes e pessoas que apresentam sistema imunológico enfraquecido, o tratamento é definido caso a caso pelos profissionais de saúde. O tratamento e acompanhamento da doença estão disponíveis gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

“O tratamento pode ser realizado com drogas que atuam sobre a infecção placentária em associação com fármacos como sulfadiazina, pirimetamina e ácido folínico, que eliminam os parasitas que atravessaram a barreira da placenta. Esse acompanhamento é fundamental, uma vez que, assim como as demais pessoas, as gestantes podem não apresentar sintomas”, destaca a pesquisadora.

Quais são as principais medidas de prevenção?

O ambiente pode ser fonte de infecção através da contaminação do solo com fezes de gatos infectados com Toxoplasma gondii. Os oocistos inclusive são disseminados por minhocas, formigas e baratas, além de serem carreados pelas águas das chuvas e lençóis freáticos.

Para prevenir a toxoplasmose, deve-se evitar a presença de gatos nas proximidades de reservatórios de água, plantações de hortaliças, legumes e frutas.

“A lavagem das mãos após o contato com o solo, como durante a jardinagem, também reduz o risco de transmissão. É importante lavar adequadamente frutas, legumes e hortaliças, em água corrente, para a remoção de possíveis formas do Toxoplasma gondii, antes do consumo”, pontua a especialista.

Fora isso, recomenda-se somente consumir a carne e outros produtos como linguiça e embutidos bem cozidos e de boa procedência. Já o leite não pasteurizado deve ser ingerido fervido. E a água de consumo precisa ser tratada e filtrada.

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