O que tirar do ranking
São Paulo, o município brasileiro mais populoso e um dos que melhor se encaixam na definição de selva de pedra, ficou em primeiro lugar no ranking — apesar de, claro, não liderar os cinco domínios que o compõem. Surpreendeu-se?
“Já participei de projetos nessa e em outras cidades que ocupam as primeiras posições. E era mais ou menos o que eu esperava”, interpreta Reis. Cabe reforçar que a iniciativa não mede só a presença de instalações esportivas. Na verdade, ela também incorpora quesitos como criminalidade, que influem na vida ativa.
A capital paulista, por exemplo, carrega a menor taxa de homicídios por armas de fogo — 9,9 a cada 100 mil habitantes. “No início da atual gestão da prefeitura de São Paulo, foi traçada uma meta […] de aumentar em 20% o índice de atividade física até 2020”, afirma, em nota, a Secretaria Municipal de Esportes e Lazer. Você pode ver as respostas completas sobre o ranking de todas as capitais que retornaram aos pedidos da SAÚDE clicando neste link.
Agora devemos abordar uma aparente contradição: de acordo com o Vigitel de 2016, uma pesquisa do Ministério da Saúde, a maior metrópole do país possui o menor índice de residentes que se exercitam ao menos 150 minutos por semana no tempo livre (32%). Como a lanterna nesse quesito lidera o novo ranking?!
Bem, antes de tudo, a porcentagem de paulistanos que gastam ao menos uma hora e meia por semana se locomovendo a pé ou de bike para cumprir suas tarefas diárias (16,9%) é a segunda maior do país, atrás somente da de cariocas (17,1%). “E o ranking acabou, pela disponibilidade de indicadores, valorizando fatores vinculados ao deslocamento ativo”, analisa Akira.
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Ora, faltam no país mais dados que cumpram os requisitos desse projeto e que estão associados aos exercícios no lazer (como a quantidade de parques). Já explicamos a metodologia do ranking acima.
“Além disso, o Vigitel não foi incluído no ranking. Até porque não queremos avaliar comportamentos, mas, sim, as condições oferecidas pelas cidades, que inclusive podem levar um tempo para serem integradas no cotidiano de cada um”, diferencia Reis.
Limitações
É óbvio que o ranking tem pontos fracos. “A intenção me parece melhor do que o resultado”, avalia o arquiteto Fábio Duarte de Araújo Silva, professor da PUC-PR que não participou diretamente do projeto.
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A prefeitura de Manaus, detentora do 21º lugar, oferece uma ponderação pertinente por e-mail: “Observamos que algumas […] fontes não possuem atualização recente. […] Vale destacar que os dados mensurados de iluminação pública são de 2010. Na gestão do prefeito Arthur Virgílio Neto, Manaus se tornou, proporcionalmente, a capital com maior quantidade de iluminação em LED […], contribuindo para a qualidade de vida e a segurança”.
De fato, certos indicadores apresentam defasagem, o que reitera a necessidade de o Brasil gerar dados públicos de qualidade destinados a uma avaliação completa das condições oferecidas para tirar o povo do sedentarismo.
Outro fator difícil de englobar em iniciativas como essa é a qualidade dos serviços. Veja o exemplo das calçadas, incluídas no domínio de estrutura viária para a atividade física do ranking. Por meio do Censo de 2010, é possível saber aproximadamente quantos domicílios são cercados por elas. Só que versões esburacadas, estreitas ou com um degrau em relação à do vizinho inibem o deslocamento, especialmente entre deficientes e idosos.
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“No Brasil, a responsabilidade da manutenção da calçada costuma ser do proprietário do imóvel. Como o dono de uma casa, mesmo com boa vontade, vai interligar essas e outras infraestruturas sem um plano maior?”, indaga Gabriela Callejas, arquiteta urbanista da organização social Cidade Ativa.
Como dá pra perceber, a própria legislação influencia no sedentarismo. “O bacana desse ranking é tirar a culpa do indivíduo e propor uma discussão ampla”, analisa o educador físico e epidemiologista Inácio Crochemore da Silva, da Universidade Federal de Pelotas, no Rio Grande do Sul. “Fazer atividade física é só uma das inúmeras demandas da vida. Sem condições adequadas, é natural que muita gente diga não ter tempo ou motivação para ela”, arremata.
Veja, a seguir, avaliações de cada domínio do ranking, passando do acesso a espaços de lazer até a criminalidade. E, claro, confira as melhores e piores capitais em cada categoria.