Namorados: Assine Digital Completo por 1,99
Imagem Blog

Em primeira pessoa

Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Numa parceria com o CDD (Crônicos do Dia a Dia), esse espaço dá voz a pessoas que vivem ou viveram, na própria pele, desafios e vitórias diante de uma doença crônica, das mais prevalentes às mais raras

Uma doença rara não me fez parar de dançar balé

Mulher com Síndrome de Arnold-Chiari, que pode afetar o movimento e a força, supera dificuldades para manter seu sonho de ser bailarina

Por Wilmara Marliére, bailarina*
16 jan 2024, 17h56
foto-wilmara
Wilmara Marliére dança balé desde a adolescência (Foto: Delphotoart/Divulgação)
Continua após publicidade

Foi na adolescência que duas coisas começaram a ganhar relevância na minha vida: o balé e a Síndrome de Arnold-Chiari. O primeiro foi uma paixão à primeira vista. O segundo, um martírio até o diagnóstico. 

Aos 12 anos, comecei a ter infecções auditivas que não cessavam. Fui a inúmeros médicos e, enquanto a resposta não vinha, minha audição só piorava

Nesta época, fui morar com uma tia em Palma, Minas Gerais. Em uma noite, fui a um festival musical. A primeira apresentação foi de uma pequena bailarina: meu coração quase saiu pela boca!

Eu queria sair dali e já fazer balé no outro dia, mas me faltavam recursos financeiros – e em Palma nem havia uma academia de balé. 

Um tempo depois, me mudei para Cisneiros, um distrito de Palma. Aí veio o destino: estava ensaiando com a turma da escola para uma dança de samba, mas aí cansamos, então o responsável colocou uma música clássica. E eu saí dançando balé! 

Resultado: eu me apresentei por lá – foi assim começou minha carreira de bailarina, “pobre e autodidata”. Hoje, sou bailarina e coreógrafa profissional!

Continua após a publicidade
bale-arnold-chiori
Wilmara Marliére não deixa que a Síndrome de Arnold-Chiari a afaste do balé. (Foto: Delphotoart/Divulgação)

+Leia também: Balé pode causar lesões. Mas dá pra evitá-las

Só que… aos 16 anos, tive a minha primeira dor de cabeça alucinante. Naquele dia, eu pensei que fosse morrer. Estava voltando da escola em um dia de chuva, e de repente ela veio, ao ponto de eu sentar na calçada e chorar. 

Eu fiquei ali até meu irmão me buscar. Conforme os anos passavam, as dores eram constantes e intensas, mas os médicos nunca descobriam a causa. 

Eu vim para Belo Horizonte, e as dores continuavam. Não fosse meu amor pelo balé, teria parado. Eu arrumei um primeiro emprego, mas a grana não dava, então dava aulas particulares para pagar o balé.

Continua após a publicidade

Eu sabia que tinha algo errado, mas ouvi de profissionais de saúde que não era nada. Eu recebia receitas de calmantes, como se o problema fosse psiquiátrico. 

Em 1991, tive a ideia de criar o Projeto Céu e Terra para ajudar pessoas surdas. Eu estudei, comprei livros de medicina, participei de congressos e aprendi muita coisa. 

Quando outro médico disse que eu não tinha nada e que iria fazer um raio-x por desencargo de consciência, peguei esse exame para mim e pude ver a coluna cervical invaginada dentro do crânio. Algo estava errado.

Após um tempo, finalmente entendemos do que se tratava: a tal Síndrome de Arnold-Chiari, que é caracterizada por uma malformação em que o tecido cerebral invade a espinha

Continua após a publicidade

Foram três cirurgias de grande porte, rasparam o meu cabelo, tive que usar tração para tentar retirar a cervical de dentro do crânio para diminuir a compreensão etc. Sofri muito.

+Leia também: Há muita vida para além da meningite

Saí do hospital muito magra, mas um mês depois já estava no INSS brigando para me deixarem voltar a dar aulas de balé. Nesta época, dava aulas para a minha primeira turminha de balé, no Colégio Arnaldo.

Eu não era fácil, ninguém conseguia me segurar. Saí do hospital em abril de 1995, e em dezembro já estava no palco. Só que, aos poucos, os sintomas foram piorando de novo. Comecei a perder as forças dos membros, e precisei de uma nova cirurgia.

Usei traqueostomia, andei de cadeira de rodas pelo corredor do hospital por seis meses, perdi a força a ponto de não conseguir segurar o garfo. Mas deu certo, e aqui estou! 

Continua após a publicidade

Não é fácil, mas estou conseguindo a cada dia. Sigo com alguns sintomas da doença, mas hoje controlo minhas dores – inclusive com óleo de canabidiol

E, se estou conseguindo, também é graças a meu marido Wéberty, minha filha Maria Clara, minha irmã Meiry e os médicos Jair Raso Ivana Coury. São pessoas essenciais em minha vida!

E continuo dançando, que é o quê eu nasci para fazer! 

*Wilmara Marliére é bailarina e tem Síndrome de Arnold-Chiari

Continua após a publicidade
Compartilhe essa matéria via:
Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

OFERTA RELÂMPAGO

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
Apenas 1,99/mês*

Revista em Casa + Digital Completo

Receba Veja Saúde impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
A partir de 10,99/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$23,88, equivalente a R$ 1,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.