Como preservar a fertilidade de mulheres em tratamento contra o câncer
Esse cuidado não só é importante para a qualidade de vida de quem quer ter filhos como já se tornou uma extensão do tratamento oncológico
Você já ouviu falar em oncofertilidade? Caso nunca tenha escutado, não se preocupe, pois você provavelmente faz parte da maioria da população. A oncofertilidade é uma especialidade médica mais recente focada na manutenção do potencial fértil de homens e mulheres em idade reprodutiva que enfrentam um câncer.
No passado, o objetivo maior de um tratamento oncológico era a cura completa da doença, muitas vezes às custas de sequelas irreparáveis à saúde, gerando uma grave perda na qualidade de vida, tanto no âmbito físico como no mental e social. Um dos efeitos colaterais da terapia era a infertilidade.
Hoje, o objetivo do tratamento é muito mais amplo: além da cura, visa à manutenção da qualidade de vida nos seus mais variados aspectos, incluindo a possibilidade de constituição de uma família, algo, que para muitos pacientes, é a expressão máxima da plenitude da vida.
Estima-se que o prejuízo à fertilidade possa afetar entre 25% e 60% dos pacientes com câncer, decorrente da própria doença ou pela terapia instituída.
Nos últimos anos, vêm ocorrendo uma maior efetividade nos tratamentos com químio e radioterapia, o que permite ampliar as chances de sobrevivência de adultos em idade fértil.
Apesar desses avanços, a toxicidade inerente a alguns tratamentos ainda coloca em risco o potencial de fertilidade em adultos jovens, comprometendo de forma parcial ou completa as funções de glândulas como os ovários e os testículos.
Por essas e outras, a infertilidade tem sido considerada o efeito adverso de longo prazo mais prevalente no tratamento oncológico, afetando não apenas a parte reprodutiva, mas também trazendo prejuízos para o bem-estar geral. Diante disso, a questão não pode ficar de fora do plano de enfrentamento do câncer.
Apesar de todo esse conhecimento, o aconselhamento sobre fertilidade, no momento da programação do tratamento, ainda não é uma realidade em boa parte dos serviços de oncologia.
Alguns motivos ajudam a explicar essa situação, entre eles o estresse e a ansiedade dos pacientes (e dos médicos) em iniciar logo a terapia, não perdendo tempo com a doença, e a falta de acesso a centros de medicina reprodutiva.
Nesse cenário, cabe aos especialistas em reprodução humana explicar as possibilidades e técnicas existentes para preservar a fertilidade de acordo com as particularidades de cada paciente.
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A criopreservação de espermatozoides, o congelamento de óvulos, de embriões e de tecido ovariano estão entre as opções disponíveis e clinicamente aceitas para a proteção reprodutiva.
Infelizmente, esses tratamentos não são contemplados pelo SUS ou pelos convênios particulares, ficando a cargo do próprio paciente os custos relacionados.
A oncofertilidade surgiu com a ideia de beneficiar milhares de pacientes que desejam ampliar a família. Para isso acontecer, porém, é necessário melhorar a interação entre os setores de oncologia e medicina reprodutiva e trabalhar pelo maior acesso a quem precisa de apoio nesse momento.
* Daniel Suslik Zylbersztejn é coordenador médico do Fleury Fertilidade e PhD em Reprodução Humana