Obesidade: o tratamento não envolve uma, mas várias frentes
No dia mundial de conscientização sobre o problema, médica reforça a necessidade de um plano de ação multidisciplinar que vá além de dieta e exercício
O 11 de outubro é uma data emblemática para que a sociedade coloque uma lupa em um problema grave de saúde pública, a obesidade. Embora tenhamos falado mais do assunto nos últimos anos, precisamos ampliar a conscientização sobre o impacto do excesso de peso na saúde e reduzir o estigma que isso representa.
São muitas as causas que contribuem para que uma pessoa se torne obesa. Fatores genéticos, psicológicos, doenças e o estilo de vida estão envolvidos. Sabemos que indivíduos que trabalham muito, dormem pouco, convivem com altos níveis de estresse, não se exercitam e se alimentam mal estão mais sujeitos a fazer parte da epidemia de obesidade.
Outra situação que favoreceu o ganho de peso de uma parcela da população foi a pandemia de Covid-19. Um estudo realizado por nosso time do Laboratório de Performance Humana da Casa de Saúde São José, no Rio de Janeiro, dá uma amostra disso. Analisamos mais de 2,7 mil pacientes antes e durante a pandemia por meio de exames de bioimpedância e observamos um aumento no percentual de gordura corporal após esse período.
Cabe esclarecer que, independentemente do aumento do peso em si, o excesso de gordura corporal promove alterações metabólicas ligadas a problemas de saúde, como hipertensão, diabetes tipo 2 e doenças cardiovasculares.
Hoje, entre as alternativas disponíveis para tratar a obesidade, contamos em um primeiro momento com a mudança no estilo de vida, baseada principalmente em exercícios físicos regulares e numa dieta equilibrada. Em alguns casos, é necessário o uso de medicamentos e, em situações mais extremas, a cirurgia bariátrica.
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Devido à complexidade da obesidade, já está claro que a melhor abordagem é a multidisciplinar, aquela que prevê o suporte de médicos de diversas especialidades, nutricionistas, psicólogos, educadores físicos etc. O plano de ação contempla o que chamamos de reabilitação metabólica, que passa por identificar e planejar condutas para tratar o excesso de peso e as doenças a ele associadas. Não adianta prescrever só dieta e exercícios se o paciente também tem hipotireoidismo ou ansiedade, por exemplo.
Às vezes o indivíduo utiliza determinada medicação que pode interferir nos treinos, e essa é uma informação que deve ser compartilhada entre a equipe médica para que, em conjunto, seja definida a melhor estratégia a ser seguida e possamos conciliar o remédio e a atividade física sem que a pessoa fique desmotivada. A comunicação entre os profissionais envolvidos é essencial para o sucesso do tratamento.
Outro ponto importante durante o processo de emagrecimento é ressaltar que esse paciente não será acompanhado até o fim da vida. Por isso, durante o tratamento, as equipes devem instrui-lo a adquirir conhecimentos básicos sobre atividade física, alimentação, entre outros hábitos, para que ele tenha autonomia dali para frente para fazer as escolhas adequadas e evitar o reganho de peso, o popular efeito sanfona.
Primar pelo acolhimento e a individualização no tratamento da obesidade, sensibilizando o paciente a fazer sua parte, é fundamental para ter êxito no longo (e, não raro, difícil) processo de reabilitação metabólica e perda de peso.
* Fernanda Domecg é médica do esporte do Laboratório de Performance Humana da Casa de Saúde São José, no Rio de Janeiro