O ambiente profissional nem sempre é um mar de rosas. Muitas vezes, é um local de estresse, desmotivação e cobranças, podendo afetar não só o desempenho dos colaboradores mas também gerar problemas de saúde mental.
Por essa razão, desde 1º de janeiro deste ano, a síndrome de burnout passou a ser considerada uma condição ocupacional e foi incluída na Classificação Internacional de Doenças (CID) pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Agora, um funcionário que for diagnosticado com isso tem os mesmos direitos trabalhistas e previdenciários assegurados àqueles com as demais enfermidades relacionadas ao emprego.
A combinação tóxica da pandemia com excesso de trabalho e ausência de pausas teve um efeito explosivo na cabeça dos brasileiros. Segundo levantamento da Associação Internacional de Gerenciamento de Estresse no Brasil (Isma-BR), o burnout já estaria afetando 30% dos profissionais ativos.
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O burnout nada mais é que o esgotamento físico e mental desencadeado pelo trabalho. Está por trás de baixa autoestima, sensação de incompetência, irritabilidade, problemas de foco, concentração e memória, alterações de sono e humor, dores generalizadas e mudanças no apetite e até no sistema gastrointestinal. Tudo devido às atividades laborais.
Essa síndrome pode ser provocada pelo excesso de trabalho, por uma alta taxa de cobrança sem fornecimento de ferramentas e condições adequadas para que o colaborador desempenhe suas funções, por pressão psicológica e por ausência de reconhecimento pelo que foi realizado.
Para que isso não ocorra dentro de uma empresa, é preciso que os líderes enxerguem seus liderados de forma humanizada, estimulando o equilíbrio entre a vida profissional e a pessoal, garantindo os meios para o dia a dia de trabalho e estimulando uma competitividade natural e uma comunicação transparente. Sem isso, não há um ambiente saudável.
Em casos de burnout, temos que acolher o funcionário e encaminhá-lo a um psicólogo e psiquiatra para avaliar a situação e propor um tratamento. Não se deve menosprezar seus potenciais prejuízos.
Mas e aquela falta de motivação relacionada ao trabalho? Não um esgotamento, mas um cenário de tédio, procrastinação recorrente e infelicidade no emprego… Aí temos o que se chama de boreout.
Embora não seja do mesmo nível do burnout, essa situação também pode ter impactos na saúde e no desenvolvimento profissional. O colaborador não se sente estimulado, vive na zona de conforto, não é desafiado a crescer e, claro, não recebe o reconhecimento da sua entrega. É sempre mais do mesmo.
Nessas circunstâncias, o líder, em conjunto com a empresa, deve pensar em um plano de ação que instigue o funcionário a utilizar sua criatividade e iniciativa na rotina laboral, contribuir para o seu autodesenvolvimento e se atualizar profissionalmente.
Para evitar que a companhia sofra tanto com o boreout como com o burnout, é fundamental inserir uma cultura organizacional que esteja atenta e disposta a cuidar da saúde mental dos colaboradores. Prevenir casos assim depende de todas as partes envolvidas no trabalho.
* Primo Paganini é diretor de psiquiatria da eCare