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Como fica o desenvolvimento dos alunos na escola pós-pandemia?

Trabalho atento com a dimensão cognitiva e socioemocional da aprendizagem será vital para reverter defasagens no ensino

Por Suely Nercessian Corradini, pedagoga*
17 ago 2022, 09h37
foto de mochila escolar
Estudos reportam déficit de aprendizagem devido ao ensino remoto durante a pandemia.  (Foto: GI/Getty Images)
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Não vem de hoje a ideia de que educar com qualidade envolve aspectos cognitivos e socioemocionais, que devem estar integrados e em equilíbrio para promover o desenvolvimento humano. No final dos anos 1990, a pedido da Unesco, uma comissão internacional coordenada por Jacques Delors já propunha os “Quatro Pilares da Educação” no século 21: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos e aprender a ser.

Na mesma direção, no Brasil, a Base Nacional Comum Curricular, homologada entre 2017 e 2018, também significou um compromisso com uma educação que pressupõe a articulação das dimensões intelectuais, físicas, afetivas, sociais, emocionais e culturais do estudante.

Mas, então, em 2020, o mundo se viu diante de uma situação que obrigou escolas a funcionar por ensino remoto ou híbrido por quase dois anos – as que tiveram recursos e condições de fazê-lo, cabe lembrar. E, ainda que os esforços para evitar consequências mais sérias não tenham sido em vão, hoje, passado o período crítico da pandemia, vemos que defasagens se acumularam, não só em termos cognitivos (o aprendizado de conteúdos e procedimentos em si) como sobretudo socioemocionais.

O estudo Perda de Aprendizagem na Pandemia, publicado há um ano, estimava que, no ensino remoto, os estudantes aprendem, em média, apenas 17% do conteúdo de Matemática e 38% do de Língua Portuguesa aprendido em aulas presenciais. Já um levantamento da Secretaria Estadual da Educação de São Paulo revelou que alunos do 5º ano do ensino fundamental apresentaram graves índices de queda na aprendizagem na comparação entre 2019 e 2021.

+ LEIA TAMBÉM: O impacto da pandemia na visão e na vivência do trabalho

E o cenário é ainda mais preocupante quando se pensa em como o isolamento vivido nos últimos dois anos impactou diretamente a saúde mental e o bem-estar de crianças e jovens. Somente no primeiro ano da Covid-19, a prevalência global de ansiedade e depressão aumentou em 25% e 27%, respectivamente, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS).

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É um revés que, além de tudo, se retroalimenta e afeta o desempenho escolar, já que, como notam especialistas, “a presença de problemas de saúde mental em crianças e jovens sem tratamento adequado pode provocar consequências […] como atrasos na leitura, déficit de aprendizagem, repetência e evasão escolar”.

Mas o que podem as escolas fazer para romper esse círculo vicioso de efeitos da pandemia? Creio que a chave seja, justamente, relembrar a visão da educação integral que ganhou força entre nós, educadores, na década de 1990.

Retomando o ambiente escolar como espaço privilegiado e insubstituível de convivência e aprendizagem, é possível coordenar estratégias para recuperar danos e avançar no desenvolvimento integral dos alunos. Em relação aos aspectos cognitivos, tais estratégias compreendem:

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• Identificar as necessidades de cada ano/série, por meio do levantamento dos objetivos de aprendizagens e conteúdos prioritários de cada componente curricular;
• Desenvolver planos de ação pensando em dois momentos: um para retomada dos conteúdos centrais, outro para acompanhamento das dificuldades vigentes;
• Executar as ações planejadas com abordagens específicas para cada ano/série, monitorando os alunos ao longo do tempo e revisando periodicamente o plano para ajustes e melhorias.

+ LEIA TAMBÉM: Por que crianças também precisam se vacinar contra Covid-19

Já no âmbito socioemocional, podemos pensar em ações como rodas de conversa para crianças; projetos que privilegiem a convivência ética, o senso de pertencimento e a valorização do espaço coletivo; momentos de reflexão e discussão de temas que dizem respeito às necessidades do grupo; atividades que desenvolvam o pensamento crítico e a criatividade, a capacidade de cooperar com o outro, o equilíbrio para solucionar conflitos e lidar com desafios; entre diversas outras medidas.

Assim, diante do desafio, é possível mantermos a serenidade com base na certeza de que já sabemos como se faz uma educação de qualidade e uma “escola promotora da saúde”, em todos os sentidos do termo. “Um ambiente seguro e saudável para viver, aprender e trabalhar, envolvendo aspectos físicos, socioemocionais e psicológicos, além dos resultados educacionais positivos”, como resume o manual Boas Práticas de Saúde Mental Escolar, de 2021.

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* Suely Nercessian Corradini é graduada em Letras e Pedagogia, possui mestrado em Educação, Arte e História da Cultura e doutorado em Educação. É diretora pedagógica do Colégio Vital Brazil, em São Paulo

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