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Entenda a relação entre uso de aspartame e risco de câncer

Adoçante artificial é amplamente utilizado em alimentos e bebidas, como refrigerantes, sorvetes e gelatinas

Por Lucas Rocha
Atualizado em 14 jul 2023, 16h12 - Publicado em 14 jul 2023, 16h11
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  • A Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC), da Organização Mundial da Saúde (OMS), classificou o adoçante aspartame como possivelmente cancerígeno.

    Os resultados da avaliação de risco da substância foram publicados oficialmente na quinta-feira, 13, depois de terem sido antecipadamente divulgados pela imprensa no início de julho.

    Ao mesmo tempo, o Comitê Conjunto de Especialistas em Aditivos Alimentares da Organização para Agricultura e Alimentação (JECFA/FAO, em inglês), também ligado à OMS, reforçou que o limite aceitável de ingestão diária do adoçante permanece em 40 miligramas por quilo de peso corporal.

    A nova classificação é fruto da revisão de diversos estudos científicos, elaborada pelos dois órgãos (IARC e JECFA/FAO) de maneira independente, mas complementar.

    O documento aponta que foram encontradas evidências científicas limitadas de câncer em pessoas, especificamente no fígado, associadas ao aspartame.

    Entre as pesquisas disponíveis, havia apenas três estudos sobre o consumo de bebidas adoçadas artificialmente que permitiram avaliar a associação entre aspartame e câncer de fígado. Em todos os trabalhos, foi observada uma associação positiva entre a ingestão destas bebidas e o risco da doença no órgão.

    + Leia também: Adoçantes artificiais não são mais recomendados para controle do peso

    Além disso, os especialistas obtiveram indícios da relação em experimentos com animais que receberam doses da substância. Houve um aumento na incidência de tumores em duas espécies, camundongos e ratos, de ambos os sexos, observadas em três estudos publicados.

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    No entanto, com base em preocupações sobre o desenho das pesquisas, interpretação e relato dos dados, o grupo de trabalho concluiu que a evidência de câncer em animais experimentais também foi limitada.

    Devido a esses achados, especialistas enfatizaram a importância do consumo moderado do aspartame e sugerem a necessidade de desenvolvimento de análises complementares sobre a substância e o aparecimento de tumores.

    Qual a quantidade segura?

    O limite aceitável de ingestão diária do aspartame é de 40 miligramas por quilo de peso corporal, de acordo com a definição do JECFA.

    A quantidade, que já havia sido previamente estabelecida pelo comitê, foi mantida após as análises recentes. Os especialistas reafirmaram que o consumo dentro desse limite por dia permanece seguro.

    Para fins de comparação, um adulto que pese 70 kg precisaria consumir, em um único dia, de 9 a 14 latas de um refrigerante diet que contenha entre 200 e 300 mg de aspartame para exceder o limite diário aceitável, sem contar a ingestão por outras fontes alimentares.

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    Uma lata de um refrigerante de cola popular, na versão zero, tem 42 mg.

    O diretor da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Regional São Paulo (SBEM-SP), Ricardo Barroso, destaca que não há motivo para preocupação, mas sim de alerta à população.

    “Dentro do contexto de uma vida mais saudável, um pouco de aspartame não vai fazer mal. O consumo com bom senso e moderação já deveria ser feito, independentemente da questão da segurança contra o câncer”, diz.

    + Leia também: Usar adoçantes para ingerir menos calorias é seguro?

    O especialista recomenda que os consumidores observem rótulos e embalagens dos produtos para estimar a quantidade de aspartame consumida por dia.

    “Por exemplo, se eu tomo uma bebida ou refrigerante com aspartame, posso evitar adicionar o adoçante em um copo de suco ou no café”, orienta.

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    E tem outra questão. Segundo Barroso, bebidas e alimentos adoçados tendem a estimular o consumo contínuo de outros produtos doces.

    Nesse contexto, o excesso pode favorecer o desenvolvimento de outros problemas de saúde além do câncer, como diabetes, obesidade, hipertensão e doenças cardiovasculares.

    A visão do Inca

    O aspartame é um adoçante artificial amplamente utilizado em alimentos e bebidas desde a década de 1980. A substância química é considerada um aditivo alimentar que realça o sabor.

    Entre os produtos que contêm aspartame estão produtos diet, chicletes, gelatinas, sorvetes, laticínios, além de creme dental e medicamentos como pastilhas para tosse e vitaminas.

    Diante de um anúncio como esse, é comum o surgimento de dúvidas.

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    A médica Luciana Grucci, chefe da unidade técnica de Alimentação, Nutrição, Atividade Física e Câncer, do Instituto Nacional do Câncer (Inca), afirma que a nova classificação do aspartame pela IARC não altera as recomendações da instituição sobre o uso de adoçantes.

    “Em relação ao câncer, a nossa recomendação é que o uso de adoçante, independente de ser o aspartame ou qualquer outra substância, deve ser evitado”, pontua Luciana.

    + Leia também: Novo estudo relaciona adoçante a câncer. Há motivo para se preocupar?

    A pesquisadora destaca que essa orientação é feita porque o adoçante geralmente está presente em alimentos ultraprocessados, que incluem outros ingredientes que não são considerados saudáveis.

    “Dentro de uma dieta saudável, que privilegia alimentos in natura e minimamente processados, o alimento que tem adoçante não tem espaço. Na visão do Inca, ele deve ser evitado até mesmo pelo paciente com diabetes”, alerta.

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    Agência da OMS classificou o aspartame como possivelmente cancerígeno para humanos (Foto: jcomp/Freepik/Divulgação)
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    Adoçantes na mira da OMS

    Em maio, a OMS lançou diretrizes recomendando que os adoçantes não sejam utilizados como estratégia para controle de peso ou com o objetivo de reduzir o risco de doenças.

    Assim como a classificação recente da IARC, esta publicação da OMS foi elaborada a partir de uma ampla análise de evidências científicas.

    Os dados apontam que o uso das substâncias não fornece benefícios a longo prazo na redução da gordura corporal dos indivíduos.

    Além disso, os achados indicaram a possibilidade de efeitos negativos do uso prolongado desses produtos, como um aumento no risco de diabetes, doenças cardiovasculares e de morte.

    Além do aspartame, foram listados outros produtos da categoria, como acesulfame K, advantame, ciclamatos, neotame, sacarina, sucralose, stevia e derivados de stevia.

    Substituir açúcares livres por adoçantes não ajuda no controle de peso a longo prazo. As pessoas precisam considerar outras maneiras de reduzir a ingestão de açúcares livres, como consumir alimentos com açúcares naturais, como frutas, ou alimentos e bebidas sem açúcar”, disse Francesco Branca, diretor de Nutrição e Segurança Alimentar da OMS, em comunicado divulgado pela instituição.

    Avaliação de segurança da Anvisa

    O uso de aspartame no Brasil é regulamentado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que realiza avaliações de segurança e define limites máximos nos produtos.

    Em nota divulgada nesta sexta-feira, 14, a entidade afirmou que, até o momento, não há alteração do perfil de segurança para o consumo do aspartame e que continuará a acompanhar os avanços científicos sobre o tema.

    Além disso, destacou que estão em discussão interna alternativas de melhorias nas regras de uso de aditivos alimentares na lista de ingredientes e requisitos para facilitar a identificação da substância nos rótulos dos alimentos.

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