Demência frontotemporal: a doença da gafe
Existe uma desordem neurodegenerativa que muda o nosso jeito de agir. E ela é tão comum quanto negligenciada mundo afora
Estamos falando do segundo tipo mais comum de demência – e ela afeta inclusive gente com menos de 65 anos. Ao contrário de suas primas, mais destrutivas à memória, essa versão atinge em cheio o lado comportamental. Trata-se da demência frontotemporal (DFT), que causa desinibição, impulsividade e até depravação – sintomas curiosos a ponto de dificilmente serem associados a uma doença.
Para ajudar no diagnóstico precoce, uma equipe da Universidade Federal de Minas Gerais está na busca por exames capazes de flagrar a encrenca. “Até agora não existem biomarcadores ou medidas objetivas para a DFT”, diz o neurologista Leonardo Cruz de Souza, um dos líderes do grupo.
Detectá-la no início é crucial para evitar as implicações sociais. Um levantamento americano revelou que 37,4% dos pacientes tinham histórico criminal dado o impacto emocional do distúrbio. Entre os crimes, figuram abuso sexual e brigas de trânsito.
O que fazer?
Não há cura para a DFT. Mas é possível controlar algumas de suas manifestações, como impulsividade e agressividade, com remédios específicos. “A evolução é mais rápida que a da doença de Alzheimer, e os pacientes são institucionalizados mais precocemente”, alerta Souza.
Sintomas típicos da demência frontotemporal
Depravação
Desenvolve uma conduta sexual inadequada. Pode até cometer abusos criminosos.
Impulsividade
Faz gastos malucos, vira presa fácil de golpes financeiros e xinga com frequência.
Desinibição
Quase não fica constrangido e se sente próximo de estranhos já no primeiro contato.
Obsessão
Adota hábitos sem sentido, como só comer em dada hora – e da mesma forma.
Dificuldade de julgar emoções
Torna-se incapaz de notar o tom de uma conversa e agir de acordo com asituação.
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