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Vacina para rinite funciona mesmo

Tratamento com imunizantes faz os sintomas da alergia darem trégua por um bom tempo, comprova estudo brasileiro

Por Sílvia Lisboa
Atualizado em 7 nov 2018, 18h06 - Publicado em 1 nov 2016, 08h00
Rinite: tratamento que acaba com as crises
A vacina contra rinite traz resultados animadores em vários casos (Ilustração: Éber Evangelista/SAÚDE é Vital)
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Há 30 anos, o otorrinolaringologista Edmir Américo Lourenço, da Faculdade de Medicina de Jundiaí, no interior paulista, deu início à aplicação de vacinas terapêuticas feitas por ele mesmo em indivíduos com rinite alérgica. Chamada de imunoterapia, a técnica surtia efeitos impressionantes. Mas como provar sua eficácia?

Em 2005, ele começou a recrutar pacientes e submetê-los a um protocolo-padrão, como mandam as boas práticas da ciência. Dez anos depois, os resultados demonstram o que Lourenço suspeitava: 79% dos voluntários viram as crises de espirro, coriza e coceira sumirem de vez.

Para o estudo, publicado no periódico International Archives of Otorhinolaryngology, o médico selecionou 281 pacientes entre 3 e 69 anos — além de rinite alérgica, alguns sofriam de asma. Primeiro, submeteu essa gente a um teste de pele que identifica a quais componentes o indivíduo é sensível. Foram testados ácaro, fungo, pelo de animais, pólen e penas.

A partir dos laudos, o médico elaborou uma vacina para cada paciente. Está aí um conceito-chave da imunoterapia: o tratamento é personalizado, baseado em alérgenos específicos. “A ideia é dessensibilizar o paciente até ele ficar sem sintomas”, explica Lourenço.

Durante 14 meses, os voluntários receberam mais de 30 aplicações da vacina. As primeiras doses continham uma quantidade pequena dos alérgenos. A segunda, uma concentração média; a terceira, mais forte; e a quarta e última dose, extraforte.

Os pacientes eram monitorados até 30 minutos após a picada — em caso de reação, os remédios podiam entrar em cena tranquilamente. Logo após as primeiras sessões, os pacientes relataram estar com o nariz desobstruído. Um ganho e tanto para quem vira e mexe se vê com a respiração travada.

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Só tem um porém na história: o preço do procedimento. Alguns hospitais públicos até fornecem a imunoterapia pelo Sistema Único de Saúde (SUS), mas a maior oferta se encontra em clínicas particulares. “O tratamento chega a custar entre 6 mil e 12 mil reais por ano”, diz o otorrinolaringologista Olavo Mion, professor da Universidade de São Paulo. Na experiência de Lourenço, as aplicações duraram um ano e dois meses. Mas esse tempo pode se estender até cinco anos.

A imunoterapia que combate a rinite alérgica não é uma técnica nova. Pelo contrário: trata-se de um método centenário. Em 1911, o cientista inglês Leonard Noon (1877-1913) publicou o primeiro artigo defendendo a eficácia das vacinas terapêuticas contra essa condição crônica — hoje, ela afeta quase um terço da população. “Mas desde 1835 havia relatos de que era uma alternativa promissora”, conta o médico José Carlos Perini, presidente da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia.

Desde então, centenas de pesquisas fortaleceram as evidências de que expor o organismo a microdoses dos alergênicos é uma maneira eficiente de ensinar as próprias defesas a tolerá-los melhor. No final da década de 1990, a Organização Mundial da Saúde (OMS) chegou até a reconhecer a imunoterapia como único procedimento médico capaz de alterar o curso de uma doença alérgica.

Para quem a vacina contra rinite funciona mesmo

Acontece que ela não é para todo mundo. Médicos costumam prescrevê-la a indivíduos que, durante uma crise, formam anticorpos de uma classe de proteínas batizada de imunoglobulina (famosa pela sigla IgE). Trata-se de uma das manifestações mais comuns da rinite, mas não a única.

Além disso, as vacinas dão mais certo em quem é sensível a poucos alérgenos. “E os melhores resultados são contra os ácaros, uma das alergias mais frequentes”, completa Mion, também presidente da Academia Brasileira de Rinologia.

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São tantos detalhes que, para ter sucesso no tratamento, o jeito é procurar um alergista com experiência na área — e que faça as aplicações em uma clínica ou hospital com estrutura para atender eventuais reações às doses. “Embora não haja relatos de mortes há mais de 30 anos, a imunoterapia pode ter consequências fatais”, alerta Perini.

Também é bom frisar que falar em sucesso não tem nada a ver com cura — essa ainda não existe. A grande sacada da imunoterapia é deixar o indivíduo livre de crises por bons anos depois do ciclo de injeções. “Os outros tratamentos contra a rinite duram o tempo de ação do medicamento. Se o indivíduo para de tomar, o efeito acaba”, esclarece o médico Edmir Lourenço. “Com a imunoterapia, a proteção se mantém”, assegura.

Ainda assim não dá para relaxar 100%. “Se você tem 3 milhões de anticorpos e vai para uma casa de praia úmida e suja e entra em contato com 5 milhões de ácaros, as crises vão voltar”, ilustra Lourenço. É como entrar em um campo de batalha com milhares de soldados a menos: as perspectivas não são nada favoráveis.

Por isso, certos cuidados permanecem imprescindíveis após as vacinas. “Lave sempre o nariz com soro fisiológico, mantenha a casa limpa e evite entrar em contato com o causador da alergia”, exemplifica a imunologista Mariana Jobim, do Hospital de Clínicas de Porto Alegre.

Medo de agulha

As picadas frequentes fazem você torcer o nariz para a imunoterapia? Então escuta essa: uma versão sublingual não deve demorar muito para virar realidade. Em um trabalho americano publicado recentemente na revista Allergy & Asthma Proceedings, foram revisados experimentos feitos até hoje com as duas técnicas.

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E ambas se mostraram eficazes contra a rinite e a asma. “Mas a sublingual só funciona nas pessoas que seguem as prescrições médicas à risca”, observa Mariana. Isso porque o paciente tem que tomar religiosamente as doses no período indicado para desfrutar dos benefícios.

Leia mais: Ficar parado no trânsito expõe mais à poluição do ar

Fora o custo e as agulhas, tem a questão do tempo de acompanhamento: por ser longo, eleva o risco de desistência no meio do caminho. Mas os cientistas também estão pesquisando maneiras de resolver esse entrave. Entre as soluções estão emplastros contendo baixas doses de alérgenos e esquemas com número reduzido de injeções.

Como se vê, a centenária imunoterapia ganhará novas roupagens. Sinal de que, atualmente, é a grande aposta para garantir um clima de paz entre o alérgico e seu nariz.

Diagnóstico mais preciso

Além do teste cutâneo que flagra os causadores de alergia e a dosagem do anticorpo IgE, os exames de sangue evoluíram muito nos últimos anos. Um deles, o 3gAllergy, da Siemens Healthineers, faz o diagnóstico em 65 minutos e tem alta sensibilidade para detectar múltiplos alérgenos. “Como seu resultado é quantitativo, serve também para avaliar se o tratamento está dando certo”, destaca Gisela Bozzo, gerente de produto da marca.

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Outra opção é o ISAC, sigla para Immuno Solid-phase Allergen Chip, que detecta reações contra 112 alérgenos de 51 fontes diferentes. É indicado para pessoas com suspeita de serem sensíveis a muitos fatores ao mesmo tempo.

Que tipo de rinite é a sua?

Existem vários. Descubra qual o seu

Persistente

Dura ao menos de quatro dias a quatro semanas consecutivas. Facilita o desenvolvimento de resfriados, gripes e sinusite. Está mais associada a pelos de animais, ácaros e alimentos.

Intermitente

Manifesta-se por no máximo quatro dias ou menos de quatro semanas seguidas. É conhecida como rinite sazonal, porque costuma estar atrelada à mudança das estações. Por trás das crises geralmente estão mofo e pólen.

Leve

A crise é tão branda que não chega a afetar as atividades diárias ou o sono.

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Moderada

Os sintomas começam a incomodar, abalando o repouso e a rotina.

Grave

As crises prejudicam seriamente o descanso e a qualidade de vida.

O que causa rinite?

– Pólen
– Ácaros
– Fungos
– Pelos de animais
– Penas

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