Vacinas contra a Covid-19 não causam efeitos adversos em grávidas e nem nos seus fetos, segundo um estudo publicado recentemente no periódico Pediatrics Research. O documento é uma revisão de 15 estudos que abrangeram dados de 350 mil gestantes de sete países: Israel, Reino Unido, Romênia, Canadá, Estados Unidos, Suécia e Noruega.
Os pesquisadores compararam gestantes imunizadas e não imunizadas, e ainda concluíram que a imunização tem um efeito protetor na hora de parto e nos primeiros meses de vida deste bebê.
“É uma metanálise, tipo de pesquisa que tem limitações porque reúne diversos estudos com metodologias diferentes, mas os dados apontam para uma boa notícia: milhares de gestantes imunizadas foram acompanhadas e, do ponto de vista de eventos adversos para o feto, o índice é zero”, afirma Rosana Richtmann, chefe do Departamento de Infectologia do Grupo Santa Joana.
Entre as grávidas vacinadas foi reduzido o risco de desfechos ruins no parto associados à Covid-19, como nascimento prematuro ou fora do tamanho normal e internações em unidades de terapia intensiva neonatais. “No [hospital] Santa Joana a nossa percepção é de que não há mais casos graves de Covid em gestantes como vimos no passado, quando não havia vacinas”, avalia Rosana.
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Efeito positivo nos recém-nascidos
Com vacinas aprovadas apenas para bebês com mais de 6 meses, a gestante imunizada ainda garante que o recém-nascido ganhe certa proteção no início de vida. Diversos estudos apontam que os anticorpos contra Covid feitos pelo sistema imune da mãe após o contato com a vacina podem ser encontrados no sangue de seus bebês. Um deles foi divulgado pelo Instituto do Butantan, responsável pela CoronaVac.
O American Journal of Obstetrics and Gynecology, dos Estados Unidos, também reforça que já há dados suficientes para acreditar que recém-nascidos de mães vacinadas nascem melhor protegidos, pois os anticorpos são transmitidos pela placenta e leite materno.
Os pesquisadores chineses responsáveis por essa revisão tomaram a iniciativa de buscar esses dados porque a hesitação vacinal ainda é grande entre mulheres grávidas. No Brasil, não há dados oficiais sobre isso, mas as associações médicas se esforçam em incentivar a imunização desse grupo.
Quais imunizantes fizeram parte do estudo?
A maioria das vacinas utilizadas por essas grávidas acompanhadas foram as de RNA mensageiro, como a da Pfizer, mas algumas mulheres também receberam injeções da AstraZeneca e da Janssen. As doses dessas duas fabricantes ainda estão suspensas no Brasil para grávidas.
É que a fórmula delas utiliza como vetor um adenovírus modificado, que é visto como suspeito de provocar casos raros de trombocitopenia, um tipo bem específico e incomum de trombose.
A decisão foi tomada após a morte de uma mulher — fato que, no fim das contas, não foi diretamente relacionado à vacina.
“Entendo que o Brasil é o único que mantém essa suspensão porque houve uma morte. Além disso, sabe-se a mulher grávida é um ser trombofílico, por isso o cuidado. Porém, quem porventura tomou essas vacinas na gestação não deve se desesperar. Os eventos são considerados raríssimos, e esses dois imunizantes são usados por gestantes pelo mundo afora desde o início da pandemia”, lembra a infectologista.
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O Ministério da Saúde e a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) recomendam as doses iniciais e de reforço das injeções da Pfizer ou Coronavac a grávidas para evitar mortes e casos graves de Covid.
As duas vacinas indicadas têm a segurança e eficácia nesse público atestadas por diversos estudos. A Coronavac é semelhante à fórmula da gripe, utilizada há anos no Brasil. Já a Pfizer tem estudos como o publicado no New England Journal of Medicine (NEJM) que avaliou eventos adversos relatados por 35 mil gestantes, eles indicam que o imunizante à base de RNA mensageiro é seguro para as futuras mães.