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Vacina para Covid-19 e trombose: faz sentido ter receio?

Tem gente evitando o imunizante da AstraZeneca e usando o medo de trombose como justificativa. Investigamos essa história

Por Fabiana Schiavon
Atualizado em 2 jul 2021, 19h57 - Publicado em 2 jul 2021, 15h39
tubo de vidro com esferas vermelhas representando um coágulo sanguíneo
Risco de trombose pela vacina da AstraZeneca é muito menor ao de ter um coágulo decorrente da Covid-19.  (Foto: Deborah Maxx/SAÚDE é Vital)
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Diante de relatos de trombose após a aplicação da Covishield, vacina da AstraZeneca contra a Covid-19, há pessoas evitando esse imunizante. Mas o risco ao deixar de tomar a vacina é muito maior do que o de ter alguma reação adversa grave, alertam médicos e autoridades.

As ocorrências registradas até agora são de trombocitopenia, um tipo bem específico e incomum de trombose, associada à queda no número de plaquetas no sangue. Como a trombose clássica, o fenômeno é caracterizado pela formação de um coágulo no sangue (ou trombo) que obstrui ou dificulta a circulação de um vaso sanguíneo.

Mas o mecanismo é diferente. Ou seja, ter tido um problema circulatório no passado não necessariamente é um impeditivo para tomar essa vacina. Ainda assim, tem médico dando atestado para que seus pacientes não a recebam, com a justificativa de que eles estariam em risco de desenvolver o tal quadro.

Para evitar essa falha na comunicação, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) divulgou uma nota informando que tais casos são raros e que os benefícios superam o risco do produto. No texto, a entidade recomenda a continuidade da vacinação de acordo com as orientações descritas na bula.

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“Não tomar qualquer imunizante aprovado por causa de seus riscos é como não andar de avião porque ele pode cair. É mais importante se proteger da Covid-19, que pode ser fatal e deixar sequelas, do que ficar escolhendo vacina”, afirma Bruno Naves, presidente da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular (SBACV).

As bulas das vacinas da AstraZeneca e da Janssen – as duas têm tecnologia similar – chamam esse evento de “trombose em combinação com trombocitopenia associado a vacinas contra Covid com vetor de adenovírus”, e o classificam como “muito raro”.

De acordo com o Ministério da Saúde, a incidência nos países europeus, onde os casos foram descritos, é de 1 a 8 casos por milhão de indivíduos vacinados (menos de 0,008%). Agora, se esse mesmo milhão pegasse Covid-19 no Brasil, teríamos 2 278 mortes a mais, entre os mais de meio milhão de vitimados pela doença.

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Diferenciando as situações

A trombose relacionada à vacina é diferente daquelas normalmente tratadas em consultórios médicos. “São mecanismos distintos. Uma pessoa pode ter a tendência à trombose e, ao ser exposta a fatores de risco, como tabagismo e anticoncepcionais, seu sistema de coagulação se altera e forma o coágulo”, comenta Naves.

“No caso da vacina, ela ocorre nos seios cavernosos, no cérebro, ou no meio da barriga e é uma resposta imunológica”, continua o médico. A hipótese principal em investigação (ainda não confirmada) é a de que as doses poderiam desencadear uma reação do próprio sistema imune a uma molécula específica das plaquetas do sangue.

É preciso procurar um médico se, depois de tomar a vacina, aparecerem problemas como falta de ar, dor abdominal persistente, membros inchados, borrão na visão, confusão mental, ou manchas vermelhas.

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“Reações adversas são comuns, mas, na presença de sintomas fortes após a primeira dose, o ideal é procurar um médico para saber se é recomendado tomar a segunda”, avalia o angiologista e cirurgião vascular da SBACV.

A bula diz ainda que pessoas com trombocitopenia, distúrbios da coagulação ou em terapia anticoagulante podem ter sangramentos e hematoma após a injeção intramuscular. Para evitar isso, basta pressionar a região do braço por cinco minutos e usar gelo. “Todas as unidades que estão aplicando as vacinas possuem um médico-assistente à disposição, que pode esclarecer qualquer questão e oferecer atendimento”, acrescenta a cirurgiã vascular Fátima El Hajj, também membro da SBACV.

E as grávidas?

Recentemente, a Anvisa reforçou que a vacinação da AstraZeneca em grávidas permanece suspensa. Como a fórmula da Janssen tem a mesma plataforma, ela também não é indicada a elas.

ilustração mostra gestante de perfil com representação do bebê dentro da barriga
Vacinas contra a Covid-19 têm se demonstrado seguras e eficazes para mães e bebês, mas algumas ainda precisam ser mais testadas. (Ilustração: Rodrigo Damati/SAÚDE é Vital)

A decisão foi tomada por precaução em maio, a partir da morte de uma gestante. Mas a reação à vacina não ocorreu por causa da gravidez. Na verdade, os primeiros resultados da vacinação entre elas têm sido animadores, tanto do ponto de vista de segurança quanto de eficácia.

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“Os fenômenos tromboembólicos clássicos acontecem com maior frequência na gestação ou com uso de anticoncepcional relacionado ao cigarro, por exemplo, mas o que aconteceu foi uma triste coincidência, um caso de trombocitopenia associado à vacina, em uma mulher que estava grávida”, explica Juarez Cunha, presidente da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações).

A Comirnaty, dose da Pfizer, ou a CoronaVac, do Butantan, são as melhores opções nesse público. “O Ministério da Saúde recomenda as duas para grávidas e puérperas [mulheres no período de 45 dias após o parto]”, reforça Agnaldo Lopes, presidente da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).

Para as gestantes que já tomaram a primeira dose da AstraZeneca, a orientação é aguardar o nascimento do bebê para receber a segunda.

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A Prefeitura do Rio de Janeiro passou a sugerir que grávidas nessa situação completem seus esquemas com uma segunda dose da Pfizer, “mediante avaliação dos riscos e benefícios com seus médicos”, mas ainda não há consenso sobre o tema.

“Estudos sobre combinações de vacinas estão avançando, mas não há nada confirmado sobre grávidas. Queremos mais gestantes imunizadas, mas é preciso ter cautela para tomar cada decisão”, opina Juarez Cunha.

 

 

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