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Grávidas com Covid-19 têm maior risco de pré-eclâmpsia, diz estudo

Caracterizada pelo aumento da pressão arterial materna na gestação ou no período pós-parto, essa condição pode trazer complicações para a mãe e o bebê

Por André Julião, da Agência Fapesp*
Atualizado em 13 ago 2021, 11h08 - Publicado em 12 ago 2021, 12h15

Estudo de revisão publicado por pesquisadoras brasileiras mostra que grávidas infectadas pelo novo coronavírus correm mais risco de desenvolver pré-eclâmpsia, condição caracterizada pelo aumento persistente da pressão arterial materna durante a gestação ou no período pós-parto e que pode trazer graves complicações para a mãe e o bebê. O trabalho foi publicado na revista Clinical Science.

As pesquisadoras analisaram um conjunto de dados já publicados e concluíram que a presença do vírus no organismo pode provocar alterações nos níveis da enzima conversora de angiotensina 2 (ACE2, na sigla em inglês, proteína à qual o patógeno se conecta para invadir a célula humana) e, consequentemente, interferir nos sistemas que dependem dessa molécula para regular a pressão arterial.

Além de servir de receptor para o vírus, a ACE2 tem funções importantes no estabelecimento da circulação sanguínea na placenta e nas adaptações cardiovasculares que ocorrem durante a gestação.

“A partir dos estudos feitos até agora sobre a infecção pelo Sars-CoV-2 em gestantes e sobre o papel da ACE2 na placenta, pode-se afirmar que mulheres grávidas correm mais risco de desenvolver a forma grave da Covid-19 do que as não grávidas. A mortalidade é maior entre as gestantes com a doença, sendo que o Brasil apresenta uma das maiores taxas de mortalidade por Covid-19 entre grávidas do mundo. Além disso, as gestantes com a doença são mais suscetíveis à pré-eclâmpsia e ao parto prematuro”, afirma Nayara Azinheira Nobrega Cruz, primeira autora do artigo.

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O estudo é parte do seu doutorado, conduzido na Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM-Unifesp) com bolsa da Fapesp. Atualmente, Cruz realiza estágio no Centre Intégré Universitaire de Santé et de Services Sociaux du Nord-del’Île-de-Montréal (CIUSSS-NIM), no Canadá, também com bolsa da Fapesp.

“A ACE2 tem um papel adaptativo muito importante no sistema circulatório materno, do feto e na formação da placenta. Porém, por ser também um receptor para o Sars-CoV-2, ela acaba promovendo um risco maior à placenta em quadros de Covid-19, pois o órgão se torna um alvo do vírus, assim como o pulmão, os rins e o coração. Vimos nesse trabalho, porém, que a resposta varia muito de uma paciente para outra e a manifestação pode se dar de diferentes formas”, diz à Agência Fapesp a brasileira Mariane Bertagnolli, pesquisadora do CIUSSS-NIM e da Universidade McGill, também no Canadá, que coordena o estudo.

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O trabalho integra projeto apoiado pela Fapesp, coordenado por Dulce Elena Casarini, professora da EPM-Unifesp e orientadora do doutorado de Cruz.

Transmissão vertical

Com a disseminação mundial do novo coronavírus, surgiram as primeiras evidências de que poderia haver transmissão vertical da mãe para o feto. Em estudo publicado em fevereiro, realizado por pesquisadores de Taiwan com 105 recém-nascidos, 8,8% testaram positivo para o Sars-CoV-2.

Além disso, um quarto dos bebês nascidos de mães que tiveram Covid-19 confirmada desenvolveram febre, respiração acelerada, falta de ar e vômito. Não foi possível afirmar, porém, se os sintomas foram consequência do parto prematuro provocado pela Covid-19 nas mães ou foram causados diretamente pela doença.

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Outras pesquisas encontraram partículas virais em diversas partes da placenta que, em mães contaminadas, apresentaram sinais de inflamação e lesões consistentes com uma má perfusão vascular (fluxo obstruído de sangue nas veias e artérias). Além disso, células imunes que provavelmente indicam contaminação pelo vírus foram encontradas nas placentas.

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Fora a presença em si do receptor do Sars-CoV-2 na placenta, as pesquisadoras atribuem o agravamento dos casos em gestantes a uma possível diminuição da ação da ACE2 provocada pela contaminação. Uma vez que utiliza essa enzima como porta de entrada para o organismo, o vírus diminuiria a disponibilidade da molécula, reduzindo sua ação protetora na gestação.

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“O déficit de ACE2 poderia causar um desbalanço no chamado sistema renina-angiotensina, causando um aumento do peptídeo angiotensina 2, que tem ação vasoconstritora. Com isso, ocorreria a elevação da pressão arterial das gestantes, que levaria à pré-eclâmpsia”, explica Casarini, coautora do trabalho.

As pesquisadoras ressaltam, porém, a necessidade de novos estudos para determinar com mais precisão as razões da maior suscetibilidade das gestantes à Covid-19 e o papel da doença na pré-eclâmpsia. Para isso, elas estão coletando placentas de gestantes infectadas pelo novo coronavírus para realizar uma série de experimentos e verificar o que realmente ocorre.

Além da pré-eclâmpsia, as cientistas estão interessadas no papel da infecção pelo coronavírus na inflamação e na vascularização da placenta.

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“Sabemos que as células endoteliais [que formam os vasos sanguíneos] em geral são afetadas pelo Sars-CoV-2. Como na placenta a função delas é promover a vascularização placentária e nutrir esse tecido, existe a possibilidade de a infecção causar má perfusão da placenta e do feto. O impacto disso pode ser uma restrição do crescimento fetal. Mesmo que não ocorra a pré-eclâmpsia, que é uma manifestação mais severa, pode haver essas alterações menos visíveis”, encerra Bertagnolli.

*Esse conteúdo foi publicado originalmente na Agência Fapesp.

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