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Um remédio para diabetes alcança resultados inéditos contra obesidade

A semaglutida, medicamento originalmente usado no tratamento do diabetes, é capaz de gerar um emagrecimento considerável em obesos, segundo estudo

Por Maria Tereza Santos
Atualizado em 15 abr 2021, 16h03 - Publicado em 18 fev 2021, 11h55
Foto de balança feita de papel, simbolizando a obesidade a ser combatida com a semalgutida
Um remédio alcançou resultados especialmente favoráveis em pacientes com obesidade. (Montagem: O Silva/SAÚDE é Vital)
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A semaglutida foi criada originalmente para tratar o diabetes. Mas um estudo clínico rigoroso indica que o remédio do laboratório Novo Nordisk seria o mais potente contra a obesidade. Na pesquisa, ele levou à perda de, em média, 15% do peso dos voluntários, uma taxa que até o momento não havia sido alcançada por nenhuma outra droga.

A investigação, publicada no periódico científico The New England Journal of Medicine, contou com a participação de 1 961 adultos com índice de massa corporal (IMC) acima de 30. Ou seja, todos tinham obesidade — mas nenhum era diabético.

Os voluntários foram divididos em dois grupos. Um tomou uma injeção semanal de 2,4 miligramas (mg) de semaglutida durante 68 semanas (mais ou menos 15 meses), enquanto o outro recebeu picadas de uma substância placebo, seguindo o mesmo esquema.

Os voluntários de ambos os grupos também passaram por uma intervenção no estilo de vida, começando a comer de maneira mais equilibrada e a praticar atividade física.

No fim do período de testes, os cientistas constataram que os participantes que tomaram semaglutida perderam, em média, 14,9% do peso inicial. Em uma pessoa de 100 quilos, isso representaria uma redução de quase 15 quilos em um ano e três meses.

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Por outro lado, a diminuição das gordurinhas foi de apenas 2,4% na turma que recebeu placebo.

 

Como a semaglutida emagrece

O endocrinologista Rodrigo Moreira, vice-presidente do departamento de Diabetes da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem), conta que, quando comemos alguma coisa, nosso organismo produz uma substância chamada GLP-1.

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Essa molécula possui três importantes funções: melhorar a secreção de insulina no pâncreas, induzir o estômago a esvaziar mais devagar e controlar as sensações de fome e saciedade no cérebro.

“O GLP-1 permanece pouquíssimo tempo, cerca de um minuto e meio, no sangue. Por isso, nos últimos anos vêm sendo desenvolvidas moléculas semelhantes a ele, mas que duram mais. São chamadas de análogos do GLP-1“, relata o endocrinologista.

Com os tais análogos de GLP-1, a sensação de saciedade e estômago cheio perduraria, resultando em menos calorias ingeridas. E a semaglutida faz parte dessa turma, junto com a sibutramina e a liraglutida, que já são aprovadas para uso contra a obesidade no Brasil.

Os benefícios e desvantagens da semaglutida

“Nos últimos 30 anos, várias medicações têm sido pesquisadas contra a obesidade. O que chamou a atenção na semaglutida foi a magnitude do emagrecimento”, comenta Moreira.

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Como dissemos, ela gera uma perda média de 15% do peso corporal em pouco mais de um ano. A título de comparação, outros fármacos empregados contra a obesidade no nosso país ficam entre 6 e 10%, segundo o endocrinologista.

Outro benefício é que ela só precisa ser aplicada uma vez por semana. A liraglutida — outro análogo de GLP-1 — deve ser tomada todo dia. Aliás, a picada é feita em casa mesmo, pelo próprio paciente.

No entanto, também há desvantagens. A injeção pode provocar efeitos colaterais, como enjoo, vômito, diarreia e sensação de estufamento. “Esses sintomas tipicamente acontecem nas primeiras semanas e tendem a melhorar. É uma droga segura e bem tolerada”, acrescenta Moreira.

Além disso, ela tem um preço salgado, ainda mais se você considerar que foi usada por 15 meses no estudo. E que a obesidade é vista como uma doença crônica.

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Os perigos da automedicação

A semaglutida ainda não foi aprovada Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) especificamente contra a obesidade, em pacientes sem diabetes. Mas alguns médicos já consideram prescrevê-la no regime off-label.

O problema é que várias pessoas já vinham comprando a medicação pela internet sem receita por causa de evidências anteriores que sugeriam seu potencial para emagrecer. Essa é uma prática que faz mal à saúde e ao bolso.

Isso porque, sem um acompanhamento e uma indicação individualizada, o risco de reações adversas cresce e os benefícios são minimizados. Por exemplo: quando ingerida sob supervisão médica, a dose é aumentada aos poucos justamente para conter sensações desagradáveis.

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“Também é importante frisar que, no estudo, ela foi combinada com dieta e exercício”, complementa o endocrinologista. Ou seja, a semaglutida não dispensa um estilo de vida saudável.

Lembre-se de que qualquer medicamento emagrecedor é indicado para casos específicos e só deve ser utilizado com a orientação de um profissional. Ele em geral não é a primeira opção para lidar com o excesso de gordura.

A semaglutida vai substituir a cirurgia bariátrica?

Apesar de promissora, ela não aposentará esse procedimento. Moreira lembra que a cirurgia bariátrica pode gerar um emagrecimento mais expressivo, da ordem de 30% a 40% da massa corporal. Por outro lado, é significativamente mais agressivo e exige um acompanhamento pormenorizado.

“A semaglutida é extremamente efetiva, mas a bariátrica continua necessária para os pacientes com obesidade mórbida”, exemplifica Moreira.

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