Sarcoma de Kaposi: um câncer raro que afeta pessoas com imunidade comprometida
A doença rara é causada por uma infecção viral e atinge imunossuprimidos

O sarcoma de Kaposi é uma forma de câncer causado por infecção viral que atinge imunossuprimidos.
No universo da medicina, existe um conjunto de agravos que se aproveitam de momentos de fragilidade do sistema de defesa humano para se instalar.
As chamadas doenças oportunistas afetam principalmente pessoas em tratamento de câncer, transplantados, que fazem uso de drogas imunossupressoras, além de indivíduos que vivem com aids.
A seguir, apresentamos as características do sarcoma de Kaposi, incluindo causas, sintomas, exames para o diagnóstico e formas de tratamento.
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O que é o sarcoma de Kaposi?
O sarcoma de Kaposi é um tipo de câncer raro que se desenvolve no revestimento dos vasos sanguíneos e linfáticos.
A doença é causada especificamente pelo vírus herpes 8, que pertence à mesma família do Epstein-Barr. Contudo, a maior parte das pessoas com a infecção viral não desenvolve o tumor, que é mais comum em quadros de baixa imunidade, como descrito anteriormente.
O herpes 8 é transmitido geralmente pela saliva, mas a infecção também pode ser adquirida por meio de relações sexuais, transfusão de sangue e transplante de órgãos.
A relação entre sarcoma de Kaposi e o HIV
No contexto do HIV, vale ressaltar que a infecção pelo vírus pode ser controlada a partir da adesão à terapia antirretroviral. Portanto, pessoas que vivem com o vírus e apresentam carga viral indetectável não apresentam risco aumentado para o sarcoma de Kaposi.
No entanto, a falta de tratamento deixa o corpo vulnerável a infecções devido ao enfraquecimento do sistema de defesa. “Quando a imunidade está muito baixa, a pessoa pode evoluir para a aids“, afirma a médica Maria Letícia Gobo, líder do Centro de Referência em Sarcomas e Tumores Ósseos do A.C. Camargo.
“O organismo não consegue manter o herpes 8 sob controle, então ele passa a interferir no funcionamento das células, favorecendo o aparecimento do câncer. O sarcoma de Kaposi, vale frisar, é uma das doenças que definem oficialmente o diagnóstico de aids”, frisa Gobo.
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Tipos de sarcoma de Kaposi
A enfermidade pode ser dividida em quatro formas clínicas, como explica a médica dermatologista Renata Heck, secretária científica da Sociedade Brasileira de Dermatologia – Secção Rio Grande do Sul.
“A forma clássica, não relacionada à imunossupressão, é encontrada em especial na população de homens idosos de origem mediterrânea ou leste europeu. A epidêmica é associada ao HIV. A endêmica é vista em algumas regiões do continente africano. Já a forma iatrogênica ocorre em pacientes com imunossupressão devido a transplante de órgãos ou uso de medicamentos imunossupressores”, resume Heck.
Sintomas do sarcoma de Kaposi
Esse tipo de sarcoma provoca o crescimento de lesões na pele do rosto, braços e pernas, além dos tecidos que revestem boca, nariz, garganta, genitais, linfonodos e outros órgãos.
As marcas geralmente apresentam colorações de tonalidades rosa, vermelha, roxa ou marrom e, em casos graves, podem desfigurar a área afetada.
“Inicialmente as lesões são assintomáticas e, com a progressão, podem adquirir formas tumorais com ulceração, necrose e sangramento, levando a sintomas de dor e inchaço local”, explica a dermatologista.
Os machucados na pele e nos tecidos são considerados a manifestação mais comum desse tipo de câncer. No entanto, a doença pode causar problemas internos, com diferentes consequências.
Nos pulmões, por exemplo, as lesões podem dificultar a respiração e levar à tosse com sangue. Uma vez no intestino, provocam dor, sangramento e, por consequência, anemia. Nos gânglios linfáticos, que são pequenas estruturas espalhadas pelo corpo que ajudam o sistema imune, é comum o aparecimento de inchaço, associado a dor.
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Como é feito o diagnóstico?
Por ser uma doença rara, o sarcoma de Kaposi pode passar despercebido pelos médicos, o que atrasa a identificação adequada do problema e pode favorecer o surgimento de complicações.
De maneira geral, o diagnóstico começa pela avaliação clínica, com o exame físico do paciente. Diante da suspeita, podem ser realizados diferentes exames.
A biópsia de pele, que consiste na retirada de fragmentos do tecido para análise laboratorial, ajuda a confirmar a doença. A radiografia de tórax pode revelar possíveis impactos do câncer para os pulmões. Já procedimentos como broncoscopia e endoscopia são úteis na investigação de anormalidades respiratórias e digestivas.
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Como é feito o tratamento?
Uma vez contraído, o vírus herpes 8, causador do sarcoma de Kaposi, permanece no organismo. Por isso, o tratamento envolve o controle dos sintomas e a utilização de terapias contra o câncer.
Como acontece em diversos tipos de tumores, o cuidado é individualizado, considerando o momento do diagnóstico e a extensão do agravo.
Destacamos como os indivíduos com baixa imunidade são mais suscetíveis, certo? Por isso, parte do manejo envolve impulsionar o sistema imunológico para impedir o avanço do câncer.
Para pessoas que vivem com aids, é essencial a adesão ao tratamento antirretroviral, que ajuda a restabelecer as defesas do corpo a partir do controle do HIV. Já os transplantados podem colher benefícios de alterações no uso de medicamentos imunossupressores.
Com a imunidade do paciente restabelecida, os médicos podem optar por diferentes caminhos. Uma alternativa é focar diretamente nas lesões, com o uso de remédios aplicados na pele, tratamento com uso de baixas temperaturas ou radiação local.
Uma parcela dos indivíduos afetados pode precisar da quimioterapia, especialmente aqueles que não se recuperam com a melhora da deficiência imune. A imunoterapia, por sua vez, tem sido estudada como uma maneira de ativar a capacidade natural do sistema imunológico de combater o câncer.