Quedas em idosos não são apenas quedas
Acidentes podem trazer complicações graves para a saúde dos idosos e inclusive aumentar o risco de morte
As quedas até parecem incidentes inofensivos, mas, para os idosos, muitas vezes se tornam eventos que trazem consequências graves. Em todo o mundo, elas são a segunda principal causa de morte por lesões, com aproximadamente 684 mil óbitos por ano.
Cerca de 37,3 milhões de quedas anuais no mundo resultam em ferimentos graves que exigem atendimento médico, frequentemente com repercussões prolongadas.
Esses números são alarmantes e destacam a necessidade de entender os riscos e reduzir os fatores que levam às quedas, especialmente em uma população que está envelhecendo rapidamente. No Brasil, o envelhecimento populacional é acelerado e traz desafios crescentes para a saúde pública.
Em 2021, o país já contava com mais de 31 milhões de pessoas com 60 anos ou mais, e a projeção é que esse número alcance quase 30% da população até 2050.
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Entre 2000 e 2019, o Brasil registrou 135 mil mortes relacionadas a quedas em idosos, com uma taxa de mortalidade crescente de 5,45% ao ano. O impacto é especialmente notável entre os maiores de 80 anos, os mais vulneráveis.
Na cidade de São Paulo, as internações por esse motivo aumentaram de forma significativa. Cerca de 25% dos idosos em áreas urbanas relatam quedas anuais, o que equivale a mais de 6,2 milhões de pessoas. Dessas quedas, aproximadamente 1,8% resultam em fraturas de quadril ou fêmur, sendo que a maioria necessita de intervenções cirúrgicas.
É importante destacar a associação entre quedas e fraturas, principalmente no quadril. Globalmente, o número de fraturas de quadril deve crescer de 1,6 milhão em 2000 para até 6,3 milhões em 2050.
Essas lesões frequentemente marcam o início de um declínio significativo na saúde dos idosos. No entanto, a queda nem sempre é um evento isolado. Pesquisas mostram que muitos idosos já enfrentam dificuldades para realizar atividades diárias, como cozinhar ou tomar banho, antes mesmo de sofrer uma fratura.
Isso evidencia que essas lesões não são apenas eventos súbitos, mas sim marcos de uma queda progressiva na saúde.
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No Brasil, as consequências das fraturas de quadril são graves. Pesquisas mostram que cerca de 30% dos idosos com mais de 85 anos que sofrem uma fratura de quadril morrem dentro de um ano, e menos da metade recupera o mesmo nível funcional que tinha antes do acidente.
O padrão da fratura e o tipo de tratamento cirúrgico podem influenciar significativamente a recuperação. Fraturas tratadas com técnicas menos invasivas, como a fixação com haste femoral proximal, apresentam taxas de mortalidade mais baixas do que fraturas que requerem cirurgias de substituição articular, como a prótese total do quadril.
A boa notícia é que incidentes do tipo podem ser prevenidos. Medidas simples, como melhorar as condições das calçadas e a iluminação pública, podem reduzir de forma expressiva o risco.
Treinamento de equilíbrio e flexibilidade, exercícios de fortalecimento e adaptações nos ambientes domésticos também desempenham papéis cruciais. O acompanhamento médico especializado pode minimizar condições sistêmicas que favorecem essas quedas, além de tratar patologias associadas, como a osteoporose, que facilita a fratura após um evento de queda.
Combinando conscientização e ações preventivas, podemos reduzir de maneira significativa o impacto das quedas e fraturas de quadril em idosos e na saúde pública.
*Bruno Rudelli é cirurgião ortopédico e membro do Núcleo de Quadril do Hospital Sírio-Libanês
(Este texto foi produzido em uma parceria exclusiva entre VEJA SAÚDE e Brazil Health)