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Nicotina: o poderoso artifício por trás do vício em tabaco

Substância química altera altera funcionamento do cérebro, tem efeitos em outros órgãos e também está nos cigarros eletrônicos

Por Lucas Rocha
31 Maio 2024, 10h41

A cada ano, mais de 8 milhões de pessoas morrem devido às graves consequências do tabaco. No Brasil, são registradas mais de 400 mortes por dia em decorrência do hábito de fumar, ou 200 mil ao ano.

Não à toa, a dependência da nicotina presente no tabaco confere ao tabagismo o status de doença crônica. A condição é considerada a maior causa evitável de adoecimento e óbitos precoces no mundo.

A seguir, conheça melhor essa substância altamente viciante.

+ Leia também: Uma chamada para ação global contra o tabagismo

O que é nicotina

A nicotina é um composto químico presente na planta do tabaco, que pertence a uma família de substâncias chamadas alcaloides.

Todos os produtos à base de tabaco contêm nicotina. Aqui, estamos falando de cigarros, produtos de tabaco aquecido, charutos, cachimbos, tabaco sem fumaça (como o de mascar), narguilé e a maioria dos vapes ou cigarros eletrônicos.

Devido à sua capacidade de alteração do funcionamento do cérebro, a nicotina é altamente viciante e fomenta o desejo pelo consumo. Por isso, o uso de qualquer um desses produtos pode levar à dependência.

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“Não existe dose segura, qualquer quantidade traz danos”, frisa Maluf.

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Uso de cigarro eletrônico traz prejuízos para a saúde (Foto: Joédson Alves/Agência Brasil)

+ Leia também: Vapear é fumar, não se deixe enganar

Como a nicotina atua no cérebro

Após uma tragada, a nicotina chega ao cérebro em questão de segundos. Por lá, ela aumenta a liberação de certos neurotransmissores, substâncias químicas associadas ao humor e ao comportamento. Um deles é a dopamina, que provoca sensações de prazer e bem-estar.

Mas não se engane, os efeitos são temporários, então é preciso acender mais um cigarro para que o ciclo recomece.

É nesse ponto que está o perigo: quanto mais você fumar, mais nicotina será necessária para alcançar aquela satisfação inicial. Isso acontece porque, com o consumo contínuo, o cérebro se adapta e passa a precisar de doses cada vez mais altas para manter o mesmo nível de deleite, um efeito chamado pelos especialistas de tolerância à droga.

Além do alto risco de se tornar um vício, o uso começa a trazer inúmeras consequências para o corpo. Para começar, sua falta faz surgirem sintomas como tontura, dor de cabeça, náuseas, vômitos e fraqueza.

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Os impactos chegam ao coração, com o aumento da pressão arterial e da frequência cardíaca e o estreitamento das artérias. De acordo com a Associação Americana do Coração (AHA, em inglês), o composto também contribui para o endurecimento das paredes arteriais, o que favorece ataques cardíacos.

Para adolescentes, além da dependência, há prejuízos ao cérebro em desenvolvimento. Na gravidez, a nicotina pode atravessar a placenta e afetar o desenvolvimento do feto, com risco de alterações cerebrais, déficits no processamento auditivo, obesidade e síndrome da morte súbita infantil.

+ Leia também: Gosto amargo de cigarros e de vapes

Adesivo de nicotina

A abstinência é uma das mais duras pedras no caminho de um tabagista.

São comuns sintomas como dor de cabeça, tontura, irritabilidade, alterações no sono, dificuldade de concentração, tosse, incômodos digestivos e grande vontade de fumar. As manifestações variam de acordo com o nível de dependência, mas tendem a ser passageiras, desaparecendo em algumas semanas.

É justamente nesse imbróglio que estratégias como o adesivo de nicotina têm um papel fundamental. Ao minimizar os impactos da ausência da nicotina, o recurso facilita o processo de interrupção do tabagismo.

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No entanto, o Instituto Nacional de Câncer recomenda que os remédios não sejam utilizados isoladamente, mas em associação com uma boa abordagem profissional. Além do acompanhamento médico necessário para cada caso, o SUS disponibiliza terapia de reposição de nicotina (adesivo para a pele, pastilhas e goma de mascar) e o medicamento bupropiona.

De acordo com as diretrizes do ministério, o tempo de tratamento preconizado é de 12 meses, e envolve as etapas de avaliação, intervenção e manutenção da abstinência.

Vilões invisíveis do tabaco

No rol de encrencas associadas ao tabagismo, a nicotina é apenas a ponta do iceberg.

Ela ocupa o posto de protagonista quando o assunto é estimular a dependência. Contudo, os grandes vilões permanecem ocultos nessa história. O tabaco e sua fumaça escondem milhares de produtos químicos nocivos ao organismo.

De acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), dos Estados Unidos, um cigarro pode conter mais de 7 mil substâncias diferentes, incluindo:

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  • benzeno, encontrado na gasolina
  • tolueno, usado em diluentes
  • butano, usado em fluido para isqueiros
  • cádmio, usado na fabricação de baterias
  • amônia, usada em produtos de limpeza doméstica
  • cianeto de hidrogênio, usado em armas químicas
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Dispositivos eletrônicos para fumar apresentam sabores e aromas agradáveis, mas podem ser nocivos à saúde (Ilustração: André Ducci/SAÚDE é Vital)

Complicações associadas ao tabagismo

Na esteira de complicações, estão diversos tipos de câncer, com destaque para o de pulmão. Estima-se que 85% dos casos diagnosticados estejam associados ao consumo de derivados do tabaco.

“O cigarro representa, ainda hoje, a principal causa de morte por câncer no mundo inteiro. Estima-se que, a cada dois fumantes, um tenha sua vida abreviada por conta do vício”, alerta o médico oncologista Fernando Maluf, do Hospital Israelita Albert Einstein.

Vale destacar que o tabagismo também favorece o desenvolvimento de outros agravos. A lista inclui infecções respiratórias, tuberculose, úlcera gastrintestinal, impotência sexual, infertilidade, osteoporose e catarata. Além de ser um fator de risco significativo para acidente vascular cerebral (AVC) e ataques cardíacos.

Sempre é tempo de largar o tabaco

Parar de fumar é difícil, mas não impossível. Antes de mais nada, é importante ter em mente que recaídas são bastante comuns e, por isso, não devem ser entendidas como um fracasso. Apesar dos conselhos de familiares, amigos e conhecidos, a iniciativa precisa partir do próprio fumante.

As estratégias são diversas, algumas mais radicais, outras mais graduais. Nesse contexto, é importante observar qual o método mais adequado para cada indivíduo.

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É possível começar pela redução da quantidade de cigarros diários, por exemplo, separando no início do dia a quantidade máxima estipulada. A partir de então, a orientação é diminuir gradativamente o número, com foco na interrupção total.

Recomenda-se que o início do processo tenha data marcada, fator que pode fortalecer o abandono ao cigarro. Além disso, contar com o apoio de profissionais de saúde pode fazer a diferença.

No Brasil, o tratamento de tabagismo é desenvolvido com base nas diretrizes do Ministério da Saúde. A terapia no Sistema Único de Saúde (SUS) inclui avaliação clínica, acompanhamento e, se necessário, recursos medicamentosos.

Cigarro eletrônico: jovens em risco

Um relatório inédito lançado pela OMS e pela STOP, órgão fiscalizador global, destaca como a indústria do tabaco e da nicotina desenvolve produtos e implementa campanhas de marketing voltadas à manutenção do tabagismo no mundo, com especial atenção ao público jovem.

O documento revela que cerca de 37 milhões de adolescentes com idades de 13 a 15 anos usam tabaco no mundo. Em muitos países, a taxa de consumo de cigarros eletrônicos nessa faixa etária supera a de adultos. Na região europeia da OMS, 20% dos jovens de 15 anos relataram ter utilizado esses produtos recentemente.

A OMS enfatiza que os progressos significativos na redução do consumo de tabaco estão comprometidos com o aparecimento de vapes e de outros produtos de tabaco e nicotina. Estudos demonstram que o uso de pods aumenta em quase três vezes o uso de cigarros convencionais, especialmente entre jovens não fumantes.

“A história se repete, à medida que a indústria do tabaco tenta vender a mesma nicotina às nossas crianças em embalagens diferentes”, afirmou o Tedros Adhanom, diretor-geral da OMS, em comunicado. “Estas indústrias visam ativamente escolas, crianças e jovens com novos produtos que são essencialmente uma armadilha com sabor doce. Como podem eles falar sobre redução de danos quando comercializam estes produtos perigosos e altamente viciantes?”, enfatizou Adhanom.

A OMS alerta que as táticas são enganosas e ressalta a necessidade urgente de regulamentações mais rígidas.

As recomendações incluem a criação de locais públicos fechados 100% livres de fumo, a proibição de cigarros eletrônicos com sabores, a proibição de marketing, publicidade e promoção, impostos mais elevados, aumento da conscientização pública e apoio a iniciativas de educação lideradas por jovens.

(Com informações do Ministério da Saúde e do Instituto Nacional de Câncer)

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