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Mortes e internações de mulheres por uso de álcool aumentam no Brasil

Alta do consumo de bebidas pela ala feminina tem despertado a atenção de profissionais de saúde mundialmente

Por Lucas Rocha
Atualizado em 26 jul 2023, 09h11 - Publicado em 26 jul 2023, 09h07
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  • As taxas de mortes e de internações atribuíveis ao consumo de álcool caíram no Brasil entre 2010 e 2021. No entanto, houve um aumento tanto de óbitos quanto de hospitalizações entre as mulheres.

    Os dados são de um levantamento realizado pelo Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (Cisa), divulgado nesta quarta-feira, 26.

    O relatório aponta para uma queda de 4,8% nos mortes e de 8,8% nas internações na população geral no período avaliado. Entre os homens, a redução foi ainda maior, de 8% e de 13% respectivamente. Considerando somente as mulheres, as altas foram de 7,5% e de 5%.

    Os homens compõem a maioria das estatísticas relacionadas ao excesso nos drinques. “É significativo que os indicadores estejam diminuindo nesta parcela da população, e é justamente esta redução que leva à queda dos dados gerais”, destaca Arthur Guerra, psiquiatra e presidente do Cisa.

    + Leia também: Existe limite seguro para o consumo de álcool?

    Pico na pandemia e mudança de paradigma

    Em 2020, no primeiro ano da pandemia de Covid-19, foi registrado o pico de mortes relacionadas ao álcool em uma década. No ano seguinte, houve uma queda discreta, de 1,3%. No total, o álcool esteve associado a 69.054 mortes em 2021 (76,4% homens e 23,6% mulheres).

    Já as internações aumentaram 2,5% entre 2020 e 2021, fechando o ano com o total de 336.407 hospitalizações (71% homens e 29% mulheres).

    “Acredito que todo o avanço das discussões sobre masculinidade tóxica tem ajudado significativamente os homens a desvincular o uso da droga à necessidade de aprovação entre outros homens e à ideia de ‘provar’ a própria masculinidade e a virilidade bebendo”, diz o psicólogo Ronaldo Coelho, mestre pela Universidade de São Paulo (USP).

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    + Leia também: Anorexia alcoólica: excesso de álcool e restrição alimentar afetam a saúde

    O que explica o fenômeno

    O aumento do uso perigoso do álcool entre as mulheres é alvo de estudos por especialistas de diversas áreas.

    A socióloga e coordenadora do Cisa, Mariana Thibes, afirma ser necessário aprofundar questões essenciais e encontrar espaços de diálogo sobre o problema. “Para avançarmos em políticas públicas, precisamos entender por quais razões as mulheres estão bebendo de forma mais prejudicial e sensibilizá-las para esta conversa”, pontua.

    Um dos componentes que pode explicar este aumento é a sobrecarga que afeta o público feminino. “O vínculo empregatício soma-se ao trabalho doméstico, que, na maioria das vezes, recai exclusivamente sobre elas. Muitas são mães solteiras, ou mulheres que precisam superar mais obstáculos para conseguir avanços na carreira”, afirma Guerra.

    O psicólogo Maycon Rodrigo Torres, membro do Laboratório de Psicanálise e Laço Social da Universidade Federal Fluminense (UFF) e professor de psicologia na Faculdade Maria Thereza (Famath), destaca que a sobrecarga aumenta o estresse e impacta negativamente a saúde mental, sendo uma forma de gatilho para a ingestão alcoólica em excesso.

    + Leia também: Sobrecarga mental ajuda a explicar por que mulheres adoecem mais

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    “Essa pressão social também aumenta a experiência de emoções negativas e sintomas de ansiedades e depressão, por exemplo. Aí, o álcool pode ser visto como uma forma de automedicação ou de amortecimento desse sofrimento”, afirma Torres.

    Impactos negativos

    A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma que não existe quantidade de álcool considerada segura para o consumo. No entanto, para elas, há um risco maior de problemas ao organismo.

    Entre os perigos, o desenvolvimento de alcoolismo, danos ao fígado e ao cérebro, doença cardíaca e câncer de mama.

    “É bem documentado na literatura científica que o organismo feminino tem menor concentração de água e menos enzimas que metabolizam o álcool. Isso significa que ele fica mais concentrado e seu processo de eliminação é mais demorado”, afirma Guerra.

    Nesse contexto, elas são mais propensas do que os homens a vivenciar eventos negativos, como ressacas e desmaios, mesmo ingerindo doses semelhantes de bebida.

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    Para os especialistas, os dados do Cisa parecem indicar uma tendência de nivelamento do uso nocivo do álcool, visto que se observa uma redução deste impacto nos homens e um aumento nas mulheres.

    Se essa tendência se consolidar por mais anos, é possível que homens e mulheres sejam igualmente impactados, ou mesmo que elas sofram os efeitos do uso nocivo mais do que eles.

    O assunto tem despertado a atenção de profissionais de saúde mundialmente. “Embora homens continuem sendo as maiores vítimas, é urgente a elaboração de medidas voltadas para a prevenção do uso nocivo de álcool pelas brasileiras”, diz Guerra.

    “Apenas o monitoramento constante dos dados de consumo irá permitir a compreensão deste fenômeno e a tomada de medidas de saúde pública que previnam maiores danos”, completa o psiquiatra.

    Cuidados

    Os riscos relacionados ao álcool podem ser minimizados, embora não eliminados. A principal recomendação é o consumo moderado.

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    “Além disso, recomenda-se que o indivíduo beba com o estômago cheio, para que o álcool seja mais lentamente conduzido à corrente sanguínea e sobrecarregue menos o fígado. O consumo de água também é fundamental para manter a hidratação”, diz Guerra.

    Para algumas pessoas, o consumo de álcool deve ser completamente evitado.

    “Alguns exemplos destas situações ‘álcool zero’ são: aquelas em que se vai dirigir, quando a mulher estiver grávida, se estiver tomando algum remédio que interaja com o álcool, e se o indivíduo for menor de idade”, orienta o psiquiatra.

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