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Anorexia alcoólica: excesso de álcool e restrição alimentar afetam a saúde

O problema ainda não consta como doença no Manual Diagnóstico de Transtornos Mentais, por isso não possui critérios para identificação bem estabelecidos

Por Fernanda Bassette, da Agência Einstein*
Atualizado em 9 Maio 2023, 13h20 - Publicado em 9 Maio 2023, 13h20

A busca e a idealização do corpo magro e perfeito, associada ao consumo excessivo de álcool, pode levar à um transtorno alimentar ainda não muito divulgado, mas extremamente perigoso para a saúde e que atinge principalmente mulheres mais jovens: a anorexia alcoólica.

O problema tem entre suas características a redução da ingestão de alimentos e a substituição deles por bebidas alcoólicas (qualquer uma delas), com o objetivo de diminuir medidas, sem precisar parar de beber.

O transtorno ainda não consta como doença no Manual Diagnóstico de Transtornos Mentais (DSM-5) e nem na Classificação Internacional de Doenças (CID), ambos referência internacional para diagnóstico e manejo dos casos.

Por isso, a anorexia alcoólica não possui critérios bem estabelecidos, o que dificulta a sua identificação e tratamento.

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Além disso, por ser um problema relativamente raro (já que se estima que a anorexia nervosa atinja entre 0,5% e 1% das mulheres e a anorexia alcoólica é um desdobramento da anorexia nervosa), ela ainda é pouco estudada.

“O termo drunkorexia é bem recente, surgiu nos Estados Unidos. Logo que criaram essa terminologia tivemos um ‘boom’ e todo mundo quis saber do que se tratava. Esse tema tem sido discutido mais frequentemente de uns dez anos para cá”, comenta Silvia Brasiliano, psicóloga e coordenadora do Programa da Mulher Dependente Química (Promud) do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP (IPq-USP).

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O programa completou 25 anos e já atendeu mais de mil mulheres com todo tipo de dependência química.

Como acontece?

Cerca de 30% das mulheres com diagnóstico de alcoolismo têm transtornos alimentares associados.

Outras 20% terão uma patologia subclínica, com alimentação desordenada, alguma compulsão, métodos de compensação alimentar inadequados que não chegam a ser classificados como doenças, mas têm sintomas típicos.

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Como a anorexia alcoólica é um problema muito novo, a ciência ainda não sabe afirmar o que aparece primeiro: o transtorno alimentar (a anorexia) ou o alcoolismo.

Segundo Silvia, quando a mulher chega para tratamento os dois transtornos estão presentes.

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“Essa paciente tem os dois diagnósticos ao mesmo tempo: o de anorexia e o de beber problemático e/ou dependência alcoólica. São mulheres que bebem excessivamente, mas querem se manter muito magras.”

A identificação do quadro é bastante complexa e é diferente das compensações alimentares mais comuns, que ocorrem esporadicamente, e não chegam a cumprir critérios diagnósticos para definir um quadro clínico.

Por exemplo: mulheres que bebem muito num dia e fazem jejum alimentar no outro porque não querem engordar e acabam ingerindo só folhas para compensar a bebedeira.

“Não é isso que caracteriza a anorexia alcoólica, essa compensação que ocorre de um dia por outro é comum entre as jovens. O quadro patológico acontece quando a mulher altera absolutamente a sua alimentação com dietas super-restritivas ou faz exercícios físicos excessivamente [mais de seis horas por dia] para conseguir se manter magra e poder continuar bebendo, sem ganhar peso com a bebida”, explicou Silvia.

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Nesses casos, as pacientes têm pesos muito baixos – característico de pessoas anoréxicas – e se “alimentam” de álcool, porque frequentemente têm uma alimentação muito fraca ou fazem exercícios físicos excessivamente para não engordar.

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E a matemática pode ser bem complexa: o cálculo calórico do que elas podem consumir por dia é feito com base no que elas vão poder beber, sem pensar em comer.

Em geral, conta Silvia, as pacientes fazem jejuns com refeições baseadas em poucas folhas de verduras e alimentos crus sem tempero.

“Essas jovens costumam chegar para tratamento com quadros muito graves porque estão absolutamente desnutridas, embora não se sintam assim”, diz Silvia.

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Isso porque apesar de o álcool ser uma bebida calórica, as calorias são chamadas de “vazias” porque não têm poder nutritivo e não se traduzem em nada de bom para o organismo além do acúmulo de gordura e água.

“A pessoa não vai se nutrir bebendo, mas a caloria do álcool vai dar a sensação de estômago cheio”, explica a especialista.

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Mas se o álcool tem muitas calorias e acumula gordura, a pessoa não vai engordar se beber?

“Não engorda porque, por exemplo, a paciente faz umas contas complicadíssimas de quantas calorias ela precisa ingerir naquele dia para poder beber sem engordar. E essa conta é feita com base em dietas muito restritas com poucas calorias [uma alimentação balanceada para um adulto envolve uma dieta, em média, de 2.000 calorias por dia]. Uma paciente que tive, em vez de comer, ingeria 800 calorias de álcool”, disse.

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Essa dieta extremada, explica Silvia, associada com a distorção de peso e imagem, é um dos critérios clássicos para diagnóstico da anorexia, que inclui um peso muito baixo para o tamanho da pessoa; além do fato de ela não se julgar magra.

Quando a mulher junta a isso o desejo intenso de beber – a ponto de ficar embriagada – com uma dificuldade alimentar suficiente para que ela não engorde nada, chegamos ao quadro da anorexia alcoólica.

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De forma geral, essa paciente recebe o diagnóstico somente após ter um problema clínico grave – normalmente desnutrição ou hipoglicemia graves e uma infecção que não se curava.

O problema se agrava, diz a psicóloga, porque existe um reforço social em torno do corpo magro e perfeito.

O tratamento é multiprofissional, de longo prazo e complexo. Pode incluir o uso de medicamentos, além da psicoterapia e acompanhamento nutricional que deve ser feito com profissional especializada em transtornos alimentares.

“É muito difícil fazer a aderência dessa mulher ao tratamento. Porque muitas vezes ela não tem vontade de parar de beber e não quer engordar. Ela só quer parar de ter problemas e se manter magra”, concluiu.

*Esse texto foi publicado originalmente pela Agência Einstein

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