Menos exercício e vegetais, mais depressão: a vida brasileira na pandemia
Nova pesquisa investiga como os hábitos e o estado de saúde de milhares de pessoas mudaram com a chegada do coronavírus
A saúde e os hábitos dos brasileiros pioraram na pandemia de Covid-19, elevando o risco de doenças crônicas como diabetes, câncer, obesidade e hipertensão. É o que revela a nova pesquisa Covitel, que ouviu por telefone 9 mil brasileiros de todas as regiões do país.
O levantamento foi desenvolvido pela Vital Strategies e pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), com apoio da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco). Os participantes foram questionados sobre seu estilo de vida e doenças em dois momentos: antes da pandemia e no primeiro trimestre de 2022.
Entre os principais achados, um aumento de 91% na porcentagem de brasileiros que avaliam mal a própria saúde e de 41% no diagnóstico de depressão. Além disso, menos de 40% das pessoas relataram comer verduras e legumes periodicamente (queda de 12% em relação ao período pré-pandêmico) e 52% estão acima do peso.
“O Covitel mostrou que a pandemia atrapalhou o enfrentamento das doenças crônicas não transmissíveis no Brasil, aumentando alguns comportamentos de risco, como a inatividade física”, reforçou em comunicado à imprensa o epidemiologista Pedro Hallal, professor da UFPel e um dos coordenadores da pesquisa.
Hábitos alimentares
Além dos legumes e verduras, as frutas também deram uma sumida do cardápio dos brasileiros. Antes da pandemia, 43% dos respondentes comiam regularmente. Agora, o número está em 38%.
O ideal, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), é comer cinco porções de vegetais ao dia para prevenir doenças e ter mais qualidade de vida.
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A alta no preço dos alimentos e a crise econômica podem explicar essa mudança. Tanto que apenas 27% das pessoas que não estão trabalhando relataram ingerir regularmente legumes e verduras, ante 43% dos empregados.
Por outro lado, o consumo de bebidas açucaradas, como refrigerantes e sucos artificiais, cinco ou mais vezes na semana caiu de 22 para 17%. Uma boa notícia, já que a categoria é uma das mais associadas ao excesso de peso, que foi relatado por mais da metade dos participantes.
A obesidade atinge 21% da amostra, porcentagem condizente com a prevalência estimada da doença no país.
Inatividade física e tempo de tela
O sedentarismo, outra ameaça à saúde, avançou durante a pandemia. Na pesquisa, 13% das pessoas afirmaram ser totalmente inativas (não realizar atividades físicas no lazer, trabalho ou deslocamento) antes da pandemia. Em 2022, o número subiu para 18% dos respondentes.
Já a taxa de pessoas que praticam ao menos 150 minutos de atividade física de intensidade moderada (o mínimo necessário, segundo a OMS) caiu de 37% para 30%. “E isso aconteceu ao mesmo tempo em que os hábitos alimentares pioraram”, acrescentou Hallal na divulgação da pesquisa.
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Ou seja, uma combinação nada saudável. Junta-se a isso o tempo de tela, que não teve grande flutuação, até porque já era bem alto: 56% dos entrevistados afirmaram passar mais de três horas diárias em frente a um dispositivo eletrônico antes da pandemia. Agora o índice está em 58%.
Os achados mostram o que os especialistas já vinham alertando: precisamos retomar os cuidados com a saúde para além da prevenção do coronavírus, urgentemente.