Com a queda no número de mortes e internações em decorrência da Covid-19, cidades estudam flexibilização de regras e relaxamento no uso de máscaras. Mas especialistas alertam que a pandemia ainda não acabou e atitudes como essa mantém alta a taxa de circulação do vírus. No meio desse cenário confuso, como ficam os encontros entre amigos e familiares?
Confraternizar com segurança e sem proteção só será possível ao atingirmos a imunidade coletiva, quando há tantas pessoas imunizadas que a circulação do vírus cai drasticamente. E isso ainda não tem data para acontecer. Essa é a primeira lembrança de médicos ao falar sobre pequenas ou grandes confraternizações.
Os números estão melhorando, mas os experts esperam que esse patamar de segurança só seja alcançado com mais de 80% da população vacinada com as duas doses. O Brasil ainda está em 45%.
A tendência de queda nos registros de hospitalizações e mortes ocorre porque as vacinas até cumpriram a sua função de reduzir óbitos e casos graves. No entanto, nenhum dos imunizantes é 100% eficaz. Há ainda o surgimento de variantes, que é estimulado com uma maior circulação do vírus.
Vacinados também se infectam
“Há uma alteração clínica nos vacinados que são infectados. Eles apresentam poucos ou nenhum sintoma, mas continuam servindo de vetores, promovendo uma circulação mascarada do coronavírus”, alerta Evaldo Stanislau Afonso de Araújo, médico infectologista do Hospital das Clínicas, de São Paulo.
Os estudos mostram que a transmissão é menor entre os vacinados, mas ainda existe a possibilidade de se levar o vírus de forma silenciosa aos mais vulneráveis, como pessoas com comorbidades e idosos, que correm mais risco de agravamento da doença mesmo com as duas injeções.
Mesmo jovens saudáveis podem adoecer vacinados, afinal de contas, o intuito da vacina é diminuir consideravelmente esse risco, mas não zerá-lo. Por fim, crianças e os adolescentes,que voltaram a frequentar escolas e convivem com os adultos, ficam expostos e também acabam servindo como vetores.
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Carregar o vírus a um amigo ou familiar mais vulnerável não é o único efeito ruim de um encontro. Essas pequenas reuniões podem dar força para manter o Sars-Cov-2 circulando por mais tempo.
“Posso pensar que estou em um grupo isolado, mas cada pessoa está carregando marcas de seu convívio. E, depois do encontro, essas pessoas levarão suas pegadas a outros indivíduos. Pode ser, por exemplo, alguém que você cruza no mercado, que está sem máscara e não se vacinou. Não tem como saber”, avalia Isabel Leite, pesquisadora de epidemiologia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).
O infectologista Jaime Rocha, professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), dá o ponto de vista dos grupos, também chamados de bolhas ou clusters, que foram criados até mesmo no início da pandemia para aliviar o isolamento.
“Foram feitos alguns pactos de convivência em que uma pessoa garante a outra que elas terão o mínimo de exposição possível. E, na ocorrência de qualquer sinal de sintoma, faziam o teste imediatamente”, afirma o professor. “Mas, mesmo assim, assume-se um risco, porque há inúmeras situações de contato com outros indivíduos, que não fazem parte do combinado”.
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Os cenários mais perigosos
Um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade da Califórnia com mais de 28 mil pessoas em 99 países avaliou as situações de maior risco para contrair a Covid-19.
Encontrar-se com, pelo menos, dez pessoas que não fazem parte de seu convívio familiar é uma das situações perigosas. As demais já são conhecidas: participar de grandes reuniões e comer em restaurantes.
Como agir se for a um encontro
Marcar uma confraternização e não comer e beber é raro. Por isso, a primeira medida é buscar por lugares abertos, com boa circulação de ar.
E, para os especialistas ouvidos por Veja Saúde, o número de pessoas não importa tanto. O mais relevante é saber que todos estão vacinados. E, mesmo com essa informação, dá para reforçar a segurança apostando na testagem. O RT-PCR é o teste mais preciso, mas ele demora para sair, enquanto o teste de antígeno também busca o vírus, mas dá o resultado em poucos minutos.
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“É indicado fazer o teste o mais perto do encontro possível, porque a pessoa pode se infectar no intervalo entre a realização e o evento”, avalia Araújo. Só vale reforçar que o exame não é 100% eficaz. Tanto pode haver um falso negativo, ainda mais sem sintomas, quanto a pessoa pode se infectar imediatamente após colher a amostra.
Se não for possível testar, o ideal é manter as máscaras e o distanciamento. Na hora de comer e beber, alguns cuidados podem evitar a transmissão.
“Pense em uma família com filhos e netos. Cada núcleo familiar pode ter a sua mesa na hora de comer. Quando volta a confraternizar, veste novamente suas máscaras”, sugere o infectologista do Hospital das Clínicas.
Não é simples manter todas as regras junto da saudade e vontade de confraternizar. “As pessoas acabam tirando a máscara e conversando próximas, por isso o teste pode garantir um nível maior de segurança a todos”, reforça Araújo.
Enquanto a vacinação não alcança toda a população, o melhor é informar-se e tentar reduzir ao máximo a probabilidade de contágio e transmissão do vírus para o bem dos amigos, familiares e de toda a população.