HPN: o que é o problema cerebral de Chico Buarque? Entenda
Diagnóstico de hidrocefalia de pressão normal veio após músico sofrer desequilíbrio ao andar. Válvula no cérebro ajuda a controlar o quadro e aliviar sintomas

Chico Buarque precisou passar por uma cirurgia neurológica na terça-feira (3) para remover um excesso de fluido no cérebro. Aos 80 anos, o artista foi diagnosticado com um caso de hidrocefalia de pressão normal, também conhecida pela sigla HPN ou como hidrocefalia normobárica.
Nesse tipo de hidrocefalia, há um acúmulo de líquor — o fluido que existe em nosso sistema nervoso — na região cerebral. No entanto, isso não provoca um aumento perceptível da pressão intracraniana.
Essa característica da HPN pode dificultar o diagnóstico, já que seus sintomas por vezes são confundidos com doenças neurodegenerativas, como Alzheimer ou Parkinson.
A seguir, entenda mais sobre essa condição.
O que é e como surge a HPN?
Em seu nível mais elementar, a hidrocefalia de pressão normal ocorre quando o líquor, que também é chamado de líquido cefalorraquidiano, começa a se acumular nas cavidades cerebrais conhecidas como ventrículos.
Esse “vazamento” do líquor pode ocorrer devido a um histórico de traumas, infecções ou cirurgias no cérebro. Muitos casos de HPN, porém, são idiopáticos, sem uma causa conhecida. Idosos acima dos 60 anos fazem parte da população mais propensa a desenvolver o quadro.
Conforme o fluido se acumula no cérebro, ele passa pressionar os tecidos ao redor, levando a sintomas que podem incluir dificuldades de locomoção, de fala e cognição, além de incontinência urinária e fecal, entre outros.
O problema é que, na HPN, exames que tradicionalmente identificariam um aumento da pressão intracraniana podem voltar “normais”, levando a um erro de diagnóstico, especialmente em idosos, com os sinais sendo atribuídos a alguma demência.
No caso de Chico Buarque, a suspeita de que algo estava errado surgiu após um “leve desequilíbrio” ao andar, segundo sua equipe médica. Quando identificado e tratado corretamente, o problema é reversível. Por outro lado, o aumento descontrolado do líquor no cérebro pode deixar sequelas graves e potencialmente fatais.
O mundo da música já foi balançado por esse diagnóstico recentemente: no final de maio, o norte-americano Billy Joel, 76, anunciou uma suspensão na sua agenda de shows para tratar um quadro de hidrocefalia de pressão normal.
Como a HPN é diagnosticada e tratada?
O diagnóstico correto da HPN depende de uma avaliação do histórico de sintomas do paciente combinado a outros exames que permitem identificar alterações no líquor.
Um exame de ressonância magnética costuma ser fundamental para fechar o diagnóstico, mas nem sempre dá respostas definitivas. Estima-se que até um de cada cinco pacientes com HPN não tenha alterações visíveis na ressonância, exigindo mais investigações.
Outro exame muito utilizado é o tap test: com uma agulha inserida perto da medula espinhal, retira-se parte do líquor, aliviando a pressão. Uma melhora dos sintomas após o procedimento indica que o acúmulo do fluido pode estar provocando os problemas.
O tratamento indicado depende de fatores como a intensidade dos sintomas, a idade do paciente e outras comorbidades. No entanto, o método preferencial para aumentar a qualidade de vida é um procedimento cirúrgico como o feito por Chico Buarque: é implantada uma válvula no interior do cérebro, capaz de controlar os níveis de fluido e eliminar os excessos.
Essa abordagem alivia os sintomas e, conforme o caso, pode inclusive levar a uma melhora completa do quadro. O nível de sucesso depende de fatores individuais, com o diagnóstico e tratamento precoces sendo chaves para aumentar as chances de uma recuperação total.