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Covid-19: o que devemos esperar da vacinação daqui pra frente?

A atual corrida no combate à Covid-19 é para lançar fórmulas mais eficazes contra novas variantes e definir o melhor esquema de imunização

Por Fabiana Schiavon
Atualizado em 4 mar 2022, 11h41 - Publicado em 3 mar 2022, 19h30
diferenças das vacinas da covid
Novas vacinas contra a Covid-19 devem vir aí. (Foto: Braňo/Unsplash/Divulgação)
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O coronavírus veio para ficar, e não é só com dose de reforço que se combate esse inimigo. É preciso contar com vacinas atualizadas e uma estratégia de imunização periódica, defendem os cientistas.

É verdade que, até agora, nenhuma mutação foi suficiente para inutilizar por completo as vacinas que temos disponíveis.

De qualquer maneira, o vírus luta para sobreviver, e a população mundial está com níveis diferentes de imunização. Essa combinação torna bastante provável que novas mutações surjam, aumentando cada vez mais o risco de as injeções atuais não darem conta do recado.

Mas esse não é um motivo para pânico, na visão do professor Flavio da Fonseca, do departamento de microbiologia do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

“Hoje, trabalhamos com vacinas baseadas no contexto genético do vírus que surgiu em Wuhan, na China. Em algum momento próximo, esse contexto vai mudar, mas faremos essa atualização com a mão nas costas”. Segundo ele, os avanços na área das vacinas estão bastante acelerados. Sorte a nossa.

“Alguns fabricantes já deram a notícia de que devem ter imunizantes atualizados contra as variantes Delta e Ômicron ainda neste primeiro trimestre, mas é cedo para dizer se as injeções viriam nas mesmas doses e em qual periodicidade”, relata o pediatra Juarez Cunha, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBim).

As vacinas de RNA mensageiro, como a da Pfizer, podem ser adaptadas mais facilmente, já que são feitas a partir do código genético do vírus.

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+ LEIA TAMBÉM: A dinâmica das variantes de coronavírus e o que pode vir por aí

De acordo com Gustavo Cabral, imunologista e pesquisador da Universidade de São Paulo (USP), a vantagem desse tipo de tecnologia é poder misturar receitas para atacar diversas variantes ao mesmo tempo, resultando em uma melhor eficácia.

Já as versões mais tradicionais, como a Coronavac, do Instituto Butantan, podem levar mais tempo para serem adaptadas. “Ela poderia ser concentrada em uma única variante, como a Ômicron, mas aí o resultado não seria tão bom”, raciocina Cabral.

A preocupação maior mesmo é produzir e envasar esses produtos para distribuição em escala global — problema já vivido nos primeiros anos de pandemia, em que ainda ficou evidente a falta de equidade vacinal.

Em busca da melhor estratégia de vacinação

A imunização para cada doença é baseada em um planejamento específico. “Com a Covid-19, com o tempo, pode-se chegar a um intervalo mais apurado entre as doses de reforço ou até a um esquema de mistura de fórmulas”, informa Cabral.

Embora a gente já esteja dando o reforço, o esperado é que, mais pra frente, seja estabelecido um intervalo mais claro de aplicação, por exemplo — como acontece com a gripe, que é anual.

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Para Cunha, cada laboratório que já produz vacinas contra o coronavírus deve estar, nesse momento, tentando justamente encontrar o melhor arranjo.

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“Mas esse processo é demorado, porque só é possível divulgar alguma informação quando se chega na fase 1 de testes clínicos. Alguns fabricantes, no entanto, prometeram trazer respostas ainda em março deste ano”, conta o médico da SBim.

Também devemos usar calendários especiais para públicos específicos. “Atualmente, fazemos análises semanais sobre a necessidade de reforço. A imunidade do idoso parou de responder? Então chamamos para a terceira dose, por exemplo. Agora, já sabemos que adolescentes imunodeprimidos também precisam de quatro doses. Essa atualização é constante”, observa Cunha.

Quais as chances de termos uma vacina universal?

O sonho de consumo é realmente uma vacina capaz de proteger contra diversas variantes ao mesmo tempo. E há opções em estudo. Uma delas é a Spintec – resultado de uma parceria entre o Centro de Tecnologia em Vacinas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a Fundação Ezequiel Dias (Funed) e a Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz).

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“A diferença dessa vacina é que, ao contrário da maioria dos outros imunizantes, ela não usa a proteína Spike (ou proteína S) como principal ativo imunológico”, explica Fonseca, da UFMG. Ele se refere à estrutura do vírus que se liga às nossas células e é o principal ingrediente utilizado nas vacinas atuais para treinar nosso sistema imunológico contra o vírus de verdade.

O foco, no caso da Spintec, é a proteína N, que está menos sujeita a mutações. E quando a gente tem um alvo mais estável, a vacina consegue proteger por mais tempo.

Mas o diferencial da receita não acaba aí. Essa proteína é unida a uma quimera, substância artificial produzida a partir da fusão de outros pedacinhos que o vírus usa para se conectar e infectar as nossas células.

+ LEIA TAMBÉM: Covid-19 e gripe: o que esperar dos vírus e das vacinas?

Há outros laboratórios buscando saídas assim, só que com proteínas diferentes. “Escolhemos a N porque ela é abundante no vírus e menos suscetível a mutações”, esclarece Fonseca. Falta saber se ela gera uma resposta imune tão robusta quanto a despertada pela proteína S.

Parte do experimento com a Spintec em animais já foi finalizado. Para chegar aos testes clínicos, agora é preciso ter aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que já recebeu a papelada e solicitou mais informações sobre a pesquisa.

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Acesso ainda é um enorme desafio

No geral, do ponto de vista tecnológico e científico, estamos bem adiantados. Mas é preciso lembrar que o coronavírus atingiu o mundo todo. Assim, devemos considerar a proteção de 8 bilhões de pessoas ao mesmo tempo.

“Provavelmente teremos uma vacinação periódica, mas como ficará a equidade? Com ritmos de imunização tão desiguais pelo mundo, a doença sempre terá impactos diferentes em cada região, e nova cepas vão continuar surgindo”, prevê a infectologista Ingrid Cotta, da BP – Beneficência Portuguesa. E, a cada mutação, vem a preocupação sobre a eficácia das vacinas.

Outro motivo de inquietação é a cobertura vacinal do esquema que já está em vigor. A cobertura das duas doses no Brasil está em 73% e a da terceira, em apenas 30%.

O que acontece nos laboratórios

Pelo mundo, há mais de 600 estudos de novas vacinas contra o Sars-Cov-2, segundo o site Covid-19 Vaccine Tracker, liderado por professores do departamento de epidemiologia e bioestatística da Universidade McGill, no Canadá. O Brasil faz parte de testes em 12 desses experimentos, que utilizam diferentes tecnologias. Conheça algumas:

  • Subunidade proteica: tem como base unidades isoladas do vírus, semelhante aos imunizantes contra a hepatite B e o HPV
  • Partículas semelhantes a vírus (VLP): contém proteínas virais que imitam a estrutura do vírus, mas nenhum material genético
  • Baseado em DNA e RNA: contém material genético viral (como RNA mensageiro), que fornece as instruções para a produção de proteínas virais. O imunizante da Pfizer é um exemplo
  • Vetor viral: utiliza um adenovírus modificado em laboratório para não provocar doenças e conter uma proteína do Sars-Cov-2, como as fórmulas da AstraZeneca, Janssen e Sputnik.
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Vacinas de vírus inteiros

+ Vírus inativado: contém cópias do vírus inativado, como a CoronaVac
+ Vírus atenuado: contém cópias do vírus enfraquecido ou atenuado, como as utilizadas aqui contra caxumba, febre amarela, rubéola, sarampo e varicela.

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