Depois de dois anos em queda, os casos de dengue voltaram a subir em todo o Brasil. Segundo o Ministério da Saúde, o número de infectados subiu 85,6%, avaliando os meses de janeiro à primeira semana de abril deste ano com o mesmo período de 2021.
“Essa subida pode ter sido causada por subnotificação dos anos anteriores, enquanto vivíamos o auge da pandemia de Covid. Mas também porque estamos em verão mais úmido e chuvoso, que facilita o acúmulo de água”, avalia Alberto Chebabo, infectologista da Dasa e presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).
A doença transmitida pelo mosquito aedes aegypti tem impacto significativo no organismo e pode ser fatal. Houve 79 mortes nesse mesmo período.
É bom lembrar que ainda estamos convivendo com o coronavírus, agora sob a forma da variante Ômicron e suas parentes, BA.1, BA.2 e XE. Neste contexto, é fundamental saber diferenciar sintomas e saber como se prevenir.
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A dengue causa uma febre alta repentina, manchas pelo corpo após o quinto dia e um mal-estar geral. Dificilmente a pessoa terá sintomas no trato respiratório, que, por sua vez, são o foco da Covid-19, como tosse, espirro, coriza e dificuldade de respirar.
Como prevenir a dengue?
Brecar a doença não depende de evitar contato com pessoas e ainda não existe uma vacina muito eficaz contra ela.
“Não adianta colocar o doente em quarentena. Se há alguém confirmado, é preciso investigar focos de larvas do mosquito em casa e na vizinhança”, lembra Rafael Jácomo, médico e diretor técnico do Grupo Sabin.
O ideal, segundo ele, é que haja uma vigilância epidemiológica, e as prefeituras locais atuem em áreas com mais casos. Sem esse esforço, as medidas de prevenção ficam nas mãos da população. Veja algumas dicas:
- Não deixe acumular água no quintal, nos pratos das plantas e em outros recipientes
- Tampe bem as caixas d’água
- Piscinas devem ser higienizadas com regularidade, e cobertas de lona para manter o tratamento com o cloro. As bordas são um convite para as larvas e precisam estar sempre limpas
- Previna-se das picadas com repelentes e inseticidas
- Fique atento a calhas e lajes que possam servir de reservatório de água
- Cuide bem do lixo. Não deixe resíduos a céu aberto e denuncie entulhos abandonados nos bairros
Mudanças climáticas aumentam área de atuação do mosquito
O mosquito se adapta muito bem às temperaturas elevadas e fortes chuvas, combinação que vem ocorrendo cada vez com o aquecimento global. Prova disso é que regiões que antes não eram foco do aedes passaram a ter problemas provocados por ele.
“Zonas que tinham um clima mais temperado estão ficando semelhantes aos trópicos. A região Sul do Brasil, a Argentina e estados americanos como Texas e a Flórida estão registrando casos de dengue e circulação do mosquito, o que não ocorria com frequência”, afirma Chebabo.
Esse fato é confirmado com números. A maior incidência ocorre no centro-oeste (com 648 casos para cada 100 mil habitantes), mas o Sul está em segundo lugar, com 198,5 casos por 100 mil habitantes.
Quais os sintomas da dengue e como ela evolui?
A febre é o principal sintoma da dengue, mas ela costuma vir acompanhada de dor de cabeça localizada atrás dos olhos, diarreia, sangramento gengival e algumas lesões cutâneas.
“Há registros de vermelhidão na pele também em casos de Covid, mas eles são bem mais raros”, lembra Jácomo.
Nas redes públicas e privadas, exames de sangue podem confirmar a infecção por dengue. Com o diagnóstico, são solicitados mais alguns testes para saber o estado de saúde geral do indivíduo.
“É importante checar se estão ocorrendo queda no número de plaquetas do sangue. Elas são células que atuam na defesa do nosso organismo e ajudam a cicatrização. Mesmo que haja pequenas manifestações de sangramentos, há risco de piora, e o médico costuma pedir um hemograma para verificar essa condição”, afirma Jácomo.
Como é feito o tratamento?
Não existe um medicamento específico contra a dengue. Em geral, o quadro se resolve sozinho e se usam remédios para aliviar os sintomas, sempre sob orientação médica.
Entretanto, não é aconselhável esperar passar por conta própria. Isso porque a dengue pode evoluir para um caso grave. “Muitas pessoas têm contato com infectados quase sem sintomas e não levam a sério, mas é preciso ter o diagnóstico de um profissional de saúde”, afirma o diretor médico do Grupo Sabin.
Além disso, o sangramento relacionado à doença pode se intensificar se a pessoa fizer uso de medicamentos com ácido acetilsalicílico (aspirina, por exemplo) ou anti-inflamatórios não hormonais.
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A piora da dengue também pode demorar para ser percebida. A tendência é que a pessoa melhore dentro de uma semana. Casos mais graves, contudo, tem uma virada nesse mesmo momento.
“Tem uma segunda fase em que os sintomas voltam, com febre e a presença de alguns sinais de atenção, como dor abdominal, tontura, desmaio, com quadro de desidratação e sangramentos”, explica Chebabo.
Quem já teve dengue está imune?
Não. Isso porque há quatro sorotipos diferentes da dengue. “A pessoa se infecta por um deles, ela está protegida pelo resto da vida, mas ela pode ter a doença outras três vezes. A partir da segunda, normalmente, há um risco maior de evoluir para um quadro de maior gravidade”, explica Chebabo.
Essa manifestação mais severa é conhecida como dengue hemorrágica.