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Altoida: exame digital prevê risco de declínio cognitivo com mais precisão

Teste em iPad avalia mais de 750 parâmetros para definir risco de Alzheimer e acompanhar casos confirmados

Por Larissa Beani
26 fev 2024, 15h34
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  • Quanto mais cedo uma condição for identificada, melhores serão as perspectivas de tratamento e manejo do quadro. É esse o propósito do Altoida, um exame digital capaz de identificar alterações cognitivas e estimar o risco de Alzheimer.

    Criada por uma equipe internacional de pesquisadores estabelecida na Suíça, a tecnologia utiliza realidade aumentada para avaliar habilidades motoras e de memória e raciocínio em adultos.

    O teste já foi validado por mais de 15 estudos e é utilizado por milhares de pacientes ao redor do mundo no rastreamento e tratamento da demência. A pesquisa mais recente foi publicada em dezembro, na revista npj Digital Medicine, do grupo Nature.

    + Leia também: Por que todo médico deveria pesquisar Alzheimer nas consultas de rotina?

    O artigo mostrou que o exame é capaz de distinguir as fases pré-clínica e prodrômica da doença de Alzheimer, ou seja, detectar sinais e riscos de declínio cognitivo antes mesmo dos clássicos sintomas aparecerem — de uma forma que os testes cognitivos tradicionais que temos atualmente não conseguem.

    “Não chega a ser um teste diagnóstico, porque, na demência, isso depende de alterações cognitivas apresentadas também em exames de imagem, moleculares e testes neuropsicológicos”, afirma Juliana Rebechi Zuiani, neurocirurgiã da Pontifícia Universidade Católica em Campinas (PUC-Campinas).

    Mas o método é útil ao rastreamento de casos e análise de risco, podendo servir para complementar a fase diagnóstica e até ajudar a acompanhar o tratamento.

    A ferramenta já foi aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e por órgãos análogos nos Estados Unidos e na Europa.

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    + Leia também: O cuidador como ponte afetiva entre a família e a pessoa com demência

    Como funciona?

    O Altoida é um teste com atividades com realidade aumentada que avaliam diversos domínios cognitivos, como a memória, a habilidade motora, o raciocínio, o equilíbrio, a visão e outras funções complexas.

    A tecnologia é instalada em um iPad e o exame é realizado em consultório médico ou de forma remota, no local de preferência do paciente. A pessoa é instruída a fazer exercícios como criar um círculo, esconder objetos virtuais e depois lembrar onde os deixou, recordar sequências, entre outros. 

    O teste dura, em média, de 10 a 15 minutos. Os resultados são compartilhados com a conta do médico que acompanha o caso.

    “A inteligência artificial do aplicativo tem uma alta sensibilidade para avaliar mais de 750 parâmetros”, afirma Zuiani. Assim, são identificados biomarcadores digitais que indicam com acurácia de 94% o risco de alterações cognitivas.

    + Leia também: Entrevista: “Demência é muito mais do que perder a memória”

    Quem pode usar?

    “O exame já foi validado para ser usado por qualquer pessoa com mais de 18 anos, mas costumamos recomendá-lo a partir dos 40 anos, quando a reserva cognitiva pode começar a diminuir”, explica a neurocirurgiã da PUC-Campinas.

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    Pessoas que têm maior risco de desenvolver Alzheimer ou mesmo para quem já teve alguma demência diagnosticada também estão entre as indicações. Nesses casos, o teste é usado para avaliar a progressão da perda cognitiva.

    Fatores de risco para Alzheimer

    O Alzheimer é um transtorno neurodegenerativo multifatorial, isto é, que depende de variáveis genéticas e ambientais complexas para se desenvolver. As predisposições genéticas não podem ser modificadas, mas também não ditam, sozinhas, o aparecimento da doença.

    É possível adotar hábitos saudáveis para prevenir a condição — ou ao menos adiar o aparecimento dos sintomas.

    Segundo consenso científico, há 12 fatores de risco ligados ao desenvolvimento do Alzheimer. O principal é a falta de educação formal: aqueles com poucos anos de estudo estão em maior risco de Alzheimer.

    “A reserva cognitiva é o nosso tanque de combustível do funcionamento cognitivo”, compara a neurocirurgiã. “Construímos essa reserva ao longo dos anos, tendo novas experiências intelectuais, motoras, manuais.”

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    + Leia também: 10 fatores que pesam na prevenção da demência

    Além da falta de acesso à educação, problemas de saúde podem influenciar perdas cognitivas. Os principais são hipertensão, obesidade, diabetes, depressão, perda auditiva e lesão cerebral traumática.

    Fatores comportamentais, sociais e ambientais também devem ser evitados, como inatividade física, tabagismo, consumo abusivo de álcool, isolamento social e exposição à poluição atmosférica.

    No Brasil, 1,7 milhão de pessoas com mais de 60 anos convivem com algum tipo de demência. Dessas, 966 mil têm Alzheimer.

    E os números tendem a aumentar. Segundo estimativa do Estudo Longitudinal da Saúde dos Idosos Brasileiros, serão 2,8 milhões de pacientes até 2030 e 5,5 milhões até a metade do século.

    No mundo, os números chegarão a 55 milhões e 139 milhões nos mesmos períodos, respectivamente. “Precisamos trabalhar na prevenção dos fatores de risco se queremos modificar essa curva de crescimento”, defende Zuiani.

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