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Numa parceria com o CDD (Crônicos do Dia a Dia), esse espaço dá voz a pessoas que vivem ou viveram, na própria pele, desafios e vitórias diante de uma doença crônica, das mais prevalentes às mais raras
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Uma experiência que mudou minha vida com demência

Homem que convive com a demência desde os 53 anos de idade relata sua experiência realizando um sonho que parecia impossível

Por Por Kevin Quaid, pessoa com demência*
1 jul 2023, 11h27
santiago-de-compostela
Caminho, seja ele qual for, é também uma jornada de autoconhecimento para pessoas com doenças crônicas neurodegenerativas (Foto: Unsplash / Jorge Luis Ojeda Flota/SAÚDE é Vital)
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Meu nome é Kevin Quaid, o mais velho de uma família de seis irmãos. Sou casado com Helena e tenho três filhos, três enteados e sete netos.

Passei minha vida trabalhando com construção civil, tive uma boa educação e passei vários anos estudando psicologia na universidade. A vida teve seus altos e baixos: os níveis de estresse eram altíssimos, fui hospitalizado aos 40 anos com problemas de pressão arterial, perdi minha casa, meu negócio e tudo o que tinha.

No entanto, os sonhos ainda eram muitos, já que me via como um homem forte e resiliente aos 53 anos. Foi quando recebi o diagnóstico de Parkinson e demência por corpos de Lewy (provocada pelo acúmulo de uma proteína nas células nervosas).

Demorou um tempo, mas finalmente eu e minha família aceitamos o diagnóstico. Meses depois, decidi que não deixaria esse mesmo diagnóstico me definir ou arruinar minha vida.

A paixão pela escrita foi aliada desse processo. Escrevi meu primeiro livro contando minha história – fui uma das primeiras pessoas no mundo a escrever uma obra sobre demência de corpos de Lewy do ponto de vista do paciente.

Certo dia, um jovem brasileiro, Fernando Aguzzoli, representando a Associação Crônicos do Dia a Dia (CDD), me ligou perguntando se eu estaria interessado em fazer o Caminho de Santiago, na Espanha, com ele e um grupo de pessoas.

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+ Leia também: 10 fatores que pesam na prevenção da demência

Ele se referia ao projeto Walking the Talk for Dementia, que reuniu cerca de 70 pessoas de quase 30 nacionalidades para um grande desafio: caminhar juntos os 40 quilômetros finais de uma das mais notórias peregrinações do mundo, o Caminho de Santiago de Compostela, na Espanha.

A jornada seria dividida com profissionais de saúde, ativistas e pessoas como eu, vivendo a demência em primeira pessoa. Eu respondi que caminhava usando uma bengala, e ele me disse, muito seguro de si: “Se você quer fazer isso, faremos acontecer juntos”.

Eu chorei naquele dia. Era a oportunidade que desejava de mostrar que ainda estou aqui. Que estou vivo!

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O Caminho de Santiago foi um milagre para mim. Esse desafio não passava de um sonho que qualquer médico ou conhecido dizia ser impossível, considerando meu estado de saúde.

A jornada é difícil de explicar. Eu encontrei uma parte interna de mim que achava já ter encontrado – mas que, na verdade, estava escondida.

Após o diagnóstico, tornei-me um defensor incansável da causa. Mas, enquanto estava no Caminho, descobri forças que nunca pensei serem possíveis. Às vezes, isso acontecia quando estávamos em grupo, e muitas vezes quando estava sozinho comigo mesmo.

Pude perdoar emoções que me assombravam, pude descobrir um amor genuíno e altruísta. Eu levei semanas para tentar voltar à minha vida normal na Irlanda depois dessa grande aventura na Espanha.

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Demorou, mas por fim entendi que não existe mais o antigo Kevin. Este ficou no passado!

O Walking the Talk for Dementia me mostrou um novo eu, mais capaz e orgulhoso de si, ainda mais empoderado de seu diagnóstico e decidido a viver e mudar a vida de outras pessoas. Esse é o meu novo normal.

+ Leia também: Pessoas com doenças crônicas sem sintomas enfrentam dores e preconceito

Para aqueles que têm demência ou cuidam de um familiar querido, nunca desistam de um sonho.

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Comecem fazendo uma lista de tudo o que desejam fazer – e que seja longa. Escolham aquela coisa mais simples e básica, e coloquem-na no topo da lista: um tempo para si, uma xícara de café ou um jantar especial. Risque um por um.

Talvez eu não realize todas aquelas atividades na minha lista, talvez não o faça da forma como imaginava para a maioria delas. Mas ficar para trás não é mais uma opção pra mim.

Ah, e não esqueçam de incluir um Caminho em sua lista – ainda que seja um Caminho próximo de você, uma versão mais curta, adaptada e factível.

*Kevin Quaid foi diagnosticado com Parkinson e demência por Corpos de Lewy. É vice-presidente do Grupo de Trabalho Europeu de Pessoas com Demência

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