Do século 16 até o início do século 19, um remédio se popularizou em Portugal como cura para qualquer tipo de febre: a água inglesa. Feito com a casca da quina, uma árvore encontrada no Amazonas e utilizada pelos indígenas da região, o preparo ainda prometia fortificar o estômago e “purificar o sangue”.
Descobriu-se que a quina também tinha potencial de curar a malária – tanto a planta quanto a quinina, substância que depois foi isolada por cientistas, foram usadas para tratar a doença até o surgimento de outros remédios.
Hoje, a água inglesa é um fitoterápico comum no Brasil. Na medicina popular, se atribui à quina amarela e às demais ervas presentes na receita a capacidade de aliviar problemas digestivos e eliminar toxinas – o que ajudaria a limpar o útero e aumentar as chances de gravidez.
Já adiantamos que a maioria desses benefícios não se confirma pelo viés científico. Entenda o que é mito e o que é verdade sobre a água inglesa a seguir.
O que é a água inglesa?
A água inglesa é um fitoterápico composto pelas tinturas – extratos alcoólicos – de algumas ervas e raízes: a quina-amarela, a calumba, a canela da China, a centáurea, a losna, a camomila e a carqueja.
A bula indica que o preparo serve para aliviar problemas digestivos e aumentar o apetite. A recomendação é consumir um cálice – o equivalente a 30 mL – antes das refeições.
Contraindicações
O remédio não pode ser utilizado durante a gravidez e é contraindicado para quem tem doenças gastrointestinais – como gastrite, úlcera, hiperacidez estomacal, doença de Crohn, dispepsia, colite ulcerosa ou síndrome do intestino irritável. Em casos de epilepsia, doença de Parkinson ou problemas no fígado, a água inglesa também não pode ser usada.
Em excesso, o fitoterápico pode provocar dor de cabeça e problemas de visão e audição, bem como náuseas, vômitos e gastroenterite.
Para que serve a água inglesa?
As plantas incluídas no preparo da água inglesa realmente apresentam atuação sobre a digestão. A camomila é bastante conhecida como ingrediente para chás destinados a tratar problemas estomacais leves. A planta tem atividade antiespasmódica, que ajuda em caso de cólicas leves.
A quina, famosa pelo seu potencial contra a malária, era também usada contra a indigestão. Já a losna é utilizada contra perda de apetite e também contra problemas de digestão, do fígado e da vesícula biliar.
A carqueja tem efeitos anti-inflamatórios e é outra planta componente da água inglesa que atua como digestiva.
Ou seja: o foco da água inglesa está em atenuar desconfortos gastrointestinais. Nenhum fitoterápico deve ser utilizado sem orientação médica – além de agravar algum problema de saúde, o uso desses remédios pode retardar o diagnóstico de condições mais sérias.
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Água inglesa ajuda a engravidar?
Nas redes sociais, não é difícil encontrar relatos de mulheres que dizem ter conseguido engravidar, após ter dificuldades, ao usar a água inglesa.
Mas isso não passa de uma coincidência: a água inglesa não tem qualquer atuação sobre o sistema reprodutivo e não aumenta as chances de fecundação.
A fama da água inglesa como aliada de quem deseja engravidar se deve ao uso do preparo para “limpar o útero”. Acredita-se que o fitoterápico ajudaria a eliminar substâncias remanescentes de pílulas anticoncepcionais e fortaleceria o revestimento uterino.
Lá no século 16, entre os portugueses, já se acreditava que a “água de Inglaterra” podia “purificar o sangue” – mas isso é apenas um mito. A água inglesa não aumenta fertilidade e tampouco estimula a menstruação: outro uso do preparo na medicina popular brasileira é justamente como abortivo. A losna é uma planta usada com esse propósito, por isso não deve ser consumida por grávidas, bem como o chá de canela.
Em resumo, não há evidências da eficácia nem da segurança de usar água inglesa e as ervas presentes no fitoterápico para incentivar a gravidez ou, por outro lado, para promover a menstruação.