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A pele de quem encara o câncer

Químio, rádio e imunoterapia.... Os tratamentos contra o câncer são diferentes, mas tem algo em comum: os estragos que fazem em cabelos, pele e unhas

Por Chloé Pinheiro
Atualizado em 4 jun 2021, 10h49 - Publicado em 4 jun 2021, 10h44

As repercussões dos tratamentos contra o câncer na pele, unhas e cabelos não devem ser menosprezadas. Há desde queixas que balançam a autoestima até efeitos colaterais da pesada, que podem inclusive afetar a continuidade das terapias. E merecem, portanto, atenção especial. Pensando nisso, a dermatologista Dolores Gonzalez Fabra, da Faculdade de Medicina do ABC, criou uma cartilha com orientações.

Olha só:

Queimaduras da radioterapia

O método que utiliza radiação para conter o câncer pode afetar não só as células malignas, mas também as da pele da região tratada. A lesão provocada por ela, uma espécie de queimadura, é chamada de radiodermite, e aparece em quatro graus — de uma leve vermelhidão e descamação à perda da camada superior da derme, com sangramento e dor intensa.

Mulheres com câncer de mama são a parcela que mais sofre com tais feridas. “Hoje temos aparelhos mais modernos, mas grande parte dos tratamentos ainda é feita com máquinas à base de cobalto, que agridem mais a pele”, aponta Dolores.

Como cuidar: 

Hidratação: Manter a pele hidratada ajuda a diminuir o risco e a intensidade das queimaduras.

Área livre: Na hora da sessão, a região irradiada deve estar totalmente limpa, sem cremes ou outros produtos.

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Limpeza: O ideal é higienizar a área uma vez ao dia, de preferência com xampu infantil diluído.

Delicadeza: Não use esfoliantes e não esfregue o local, tomando o mesmo cuidado ao se secar com a toalha.

Roupas: Dispense blusas apertadas, sutiãs com bojo ou metais e prefira tecidos de algodão para evitar irritações.

Boca machucada

A cavidade bucal sofre com os tratamentos oncológicos. “A quimioterapia, por exemplo, ataca as células que se dividem rapidamente, como as da mucosa oral, o que leva à mucosite, uma inflamação local que causa dor”, ilustra o oncologista Auro Del Giglio, também ligado à Faculdade de Medicina do ABC.

A imunoterapia é outra estratégia ligada ao problema, capaz de levar a aftas, úlceras e alterações no aspecto da língua. Na quimio e na radioterapia voltadas a tumores de cabeça e pescoço, a boca pode ficar seca, condição propícia a lesões, rachaduras nos lábios e incômodo para se alimentar.

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Como cuidar: 

Umidade: Beber água e outros líquidos é sempre bem-vindo. Cítricos caem bem quando não existem feridas.

Língua controlada: Resista à tentação de passar a língua no machucado. A saliva faz ressecar ainda mais e piora a situação.

Escova de dentes: Prefira as com cerdas delicadas e busque fazer movimentos suaves — a mesma regra vale para o fio dental.

Produtos: Evite pastas abrasivas e bochechos, especialmente os com enxaguantes com álcool. Use hidratantes labiais.

Alimentação: Priorize, se necessário, alimentos macios. Comidas apimentadas não costumam ser uma boa ideia.

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Unhas fracas

Elas são alvo fácil da quimioterapia. “Assim como a pele e os cabelos, as unhas são trocadas com frequência, então suas células se multiplicam rapidamente. E a maioria das drogas quimioterápicas incide sobre áreas com essa característica. Por isso, afetam não só o tumor mas outros tecidos também”, explica o médico Elimar Gomes, da Sociedade Brasileira de Dermatologia.

Já na imunoterapia, não é raro que as unhas descolem, o que abre caminho a infecções oportunistas. “Nesses tratamentos em geral, há uma baixa na imunidade, o que contribui para processos infecciosos”, diz Dolores.

Como cuidar:

Sempre curtas: Compridas, as unhas viram um depósito de germes. Mantenha-as aparadas — não precisa deixar na carne.

Material esterilizado: Os melhores cortadores, palitos e espátulas são de metal, e esterilizados. Não compartilhe!

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Cutículas: Elas nos protegem de infecções. Não remova e hidrate com frequência, com cremes para o corpo ou azeite de oliva.

Esmaltes: Prefira os hipoalergênicos, mas só pinte de vez em quando. O excesso, junto com o removedor, é prejudicial.

Unhas postiças: É comum usar peças de gel ou outras aplicações para disfarçar problemas, mas elas favorecem infecções locais.

Pés e mãos sensíveis

Além da secura generalizada, mãos e pés são particularmente atingidos pela quimioterapia e por certas terapias-alvo, uma abordagem que mira somente o tumor. Quem passa por tratamentos do tipo pode enfrentar descamação, inchaço, vermelhidão e dores tão intensas que atrapalham a vida e fazem interromper a terapia.

O quadro é chamado de síndrome mão-pé e exige cuidados específicos. Por essas e outras, é fundamental relatar ao médico essas reações e o que está dificultando a rotina — inclusive porque, com o apoio de outros profissionais, diversas situações são controláveis.

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Como cuidar:

Secagem: Após o banho, seque bem mãos e pés, principalmente entre os dedos. Um secador na temperatura fria ajuda.

Calçado: Evite sapatos abertos e dê preferência aos mais confortáveis. As meias ideais são de algodão e nada apertadas.

Cremes: Você pode (e deve) hidratar pés, mãos e o restante. Mas prefira produtos sem corantes ou fragrâncias. Não lixe os pés.

Limpeza da casa: Use luvas de borracha para manusear produtos de limpeza e botas, se for limpar o chão, para evitar reações.

Acompanhamento: Alterações devem ser reportadas ao médico. Pode ser necessário tomar um remédio ou usar produtos especiais.

Queda de cabelo

Talvez seja o efeito colateral mais conhecido da quimioterapia — culpa daquela ação dos medicamentos nas células que se renovam constantemente. O fenômeno pode afetar outros pelos corporais, a depender da dose e do tipo de tratamento. “Geralmente, os fios começam a cair por volta da segunda semana de terapia, e voltam a crescer entre 30 e 45 dias depois do término”, relata a médica Andreia Melo, da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica.

Uma estratégia para driblar isso é a crioterapia, que congela o couro cabeludo durante as sessões de químio. “Mesmo assim, a queda pode ocorrer parcialmente e deixar falhas”, diz a oncologista.

Como cuidar:

Ao lavar: Melhor apostar em xampus e condicionadores infantis. Mais suaves, eles evitam irritações no couro cabeludo.

Ao enxaguar: Remova resíduos dos produtos com água morna ou fria e tome banhos rápidos para não ressecar.

Ao colorir: Tinturas contêm substâncias irritantes ao couro, como a amônia. A hena é mais suave. Vale ponderar.

Ao se expor ao sol: Cuidado redobrado nesse sentido. O couro fica sensível à luz solar sem os fios, e o tratamento piora a situação.

Ao tratar: Nunca use por conta vitaminas que prometem preservar cabelos e unhas. Elas podem interferir no tratamento.

Espinhas

Apesar da tendência a ficar mais seca, a pele de quem está em tratamento pode apresentar uma espécie de espinha, denominada lesão acneiforme. Isso ocorre geralmente por uma reação adversa de medicamentos que interferem nas defesas do corpo. As erupções são relativamente comuns e se parecem com uma acne, mas não devem ser encaradas como tal.

E não são repercussões isoladas da terapia oncológica. “Em cerca de 30% dos tratamentos com imunoterapia, notamos presença de prurido, vermelhidão e rash cutâneo, que são manchas vermelhas que causam coceira”, exemplifica Andreia.

Como cuidar:

Erupção à vista: Não use produtos para espinhas comuns, que são muito agressivos e ressecam a pele já seca.

Em casa: Troque com maior frequência fronhas, lençóis, pijamas e toalhas de banho — ao menos duas vezes por semana.

Nada de espremer: Resista! O hábito pode piorar o quadro, infeccionar e deixar manchas escuras no rosto.

O banho: Evite água pelando e seque a região afetada com papel-toalha para prevenir infecções.

Maquiagem: Convém maneirar. O uso constante de base e outros produtos para disfarçar espinhas pode irritar mais a pele.

Cuidados extras na pandemia

Medidas de proteção contra o coronavírus pedem alguns ajustes para salvaguardar a pele:

Mãos hidratadas: Elas têm sido alvo de mais lavagens e do álcool em gel. Cremes hidratantes ajudam a evitar a secura ali.

Menos é mais: Prefira sabonetes, loções e demais produtos em versão neutra. Isso diminui o risco de irritar a pele.

Rosto lavado: O uso de máscaras eleva, em algumas pessoas, a propensão a espinhas. Lavar o rosto atenua a oleosidade.

Cremes especiais: Chegaram ao mercado cosméticos com propriedades antivirais. Mas consulte um dermato antes de usar.

Contato médico: Se aparecerem manifestações estranhas na pele, não deixe de comunicar ao oncologista.

Atenção ao sol

A quimioterapia pode induzir a fotossensibilidade, quando a pele fica mais suscetível a queimaduras e irritações provocadas pelos raios solares. Por isso, a exposição deve ser evitada. Quando sair à rua, use filtro com FPS mais alto.

Isso porque a queimadura é provocada pelos raios UVA, cujo fator de proteção geralmente equivale a cerca de 1/3 do destacado na embalagem, que se refere ao tipo UVB. Roupas e chapéus com FPS reforçam a proteção. O banho de sol de manhãzinha e no fim da tarde até pode ser feito, mas só com liberação médica.

Dicas de depilação para quem está tratando o câncer

Para homens e mulheres apararem os pelos de forma segura

Lâminas: Use as descartáveis com cuidado — e uma única vez mesmo. Não divida com outras pessoas.

Alternativas: Pinças e linhas substituem métodos mais agressivos. Também dá para podar os pelos com a tesourinha.

Produtos: Cuidado! Cremes depilatórios, água oxigenada e clareadores podem levar a reações alérgicas.

Barba e bigode: Evite aparelhos elétricos e cremes para barbear com álcool na composição.

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