Foi-se o tempo em que todos os cremes dentais eram iguais e buscavam apenas deixar a boca limpa e cheirosa. Hoje eles contam com ingredientes mais potentes contra doenças e indicações ainda mais precisas. Aprenda a escolher o produto ideal para você e a família:
1. O que tem dentro do tubo
Conheça os principais compostos utilizados na fabricação do creme
Abrasivos: Fazem um polimento nos dentes e ajudam a retirar manchas e placas com bactérias.
Flavorizantes: Conferem o gostinho. Podem ser de menta, eucalipto, tutti-frutti, canela, abacaxi…
Espessantes: Dão a cremosidade, garantindo que todos os ingredientes fiquem bem misturados.
Edulcorantes: Dão o sabor adocicado característico que agrada o paladar dos consumidores.
Tensoativos: Funcionam como um detergente: quebram a gordura em moléculas menores, o que facilita a limpeza.
Conservantes: Mantêm a fórmula ativa e sem muita degradação até chegar à data de validade.
Umectantes: Impedem que todo o conteúdo resseque e endureça com o passar dos dias.
Agentes terapêuticos: São eles que protegem contra a cárie, a gengivite, a erosão dentária e a halitose.
2. A função cosmética
A promessa de um sorriso bonito está entre os atrativos anunciados nas propagandas de quase todo creme dental. Quem confere essa propriedade às pastas são os compostos abrasivos. Eles representam metade de tudo que está no interior da embalagem.
“Junto com os movimentos da escova, essas partículas promovem um pequeno desgaste, o que remove sujeiras e manchas menores”, explica o dentista Vinícius Pedrazzi, professor da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo.
As marcas costumam recorrer a dois elementos para conseguir esse efeito: a sílica e o cálcio. Eles geralmente aparecem no rótulo com os nomes pomposos sílica hidratada e carbonato de cálcio, respectivamente. Há opções no mercado que são mais potentes e, por meio de reações químicas, têm ação embranquecedora.
Seu uso, porém, deve sempre ser orientado por um especialista. “Se forem utilizados por um tempo prolongado, prejudicam a camada superficial dos dentes”, avisa a dentista Cristiane Tavares, da Associação Brasileira de Odontologia.
Dependendo da necessidade e do tipo de clareamento, o profissional poderá indicar inclusive recursos mais efetivos.
3. Quanto botar na escova
Nada de exageros: passar pasta demais não traz ganho algum
Crianças de 0 a 2 anos: Quando os primeiros dentes de leite irrompem, só coloque a quantidade equivalente a um grão de arroz.
Crianças maiores: Para uma boa faxina na boca toda, a indicação é botar uma quantia próxima a um grão de ervilha.
Adolescentes e adultos: Basta lambuzar um terço da superfície das cerdas. Empregar mais que isso é puro desperdício.
4. Proteção anticárie
“Não restam dúvidas de que, do ponto de vista da prevenção de cáries, a adição de flúor aos cremes dentais a partir das décadas de 1980 e 1990 foi a estratégia que trouxe mais resultados”, analisa o dentista Jaime Cury, professor da Faculdade de Odontologia de Piracicaba da Universidade Estadual de Campinas.
Nas pastas, ele é o agente terapêutico mais relevante de todos e, ao contrário de alguns boatos da internet, não faz mal à saúde — basta não exagerar na quantidade colocada na escova.
Os tipos
O flúor está disponível em nosso país em quatro formulações distintas. Respire fundo e prepare-se para um festival de nomes complicados: monoflúor-fosfato de sódio (MFP), fluoreto de amina, fluoreto estanhoso e fluoreto de sódio. Essa informação também está impressa na embalagem, logo nas primeiras linhas.
Na prática, todas as versões são capazes de fazer frente à cárie. Porém, há diferenças entre elas. O MFP, por exemplo, tem o custo de produção mais barato, o que torna o preço final atrativo para o consumidor.
As outras trazem benefícios adicionais, especialmente o fluoreto estanhoso, que tem poder de fogo contra diversas doenças bucais, caso da gengivite e da erosão dentária.
De olho no calendário
Os cremes dentais têm alta rotatividade nas gôndolas do supermercado e das farmácias. Além disso, não é comum que as pessoas façam estoques deles em casa. Mesmo assim, não custa reforçar o recado: nunca utilize o produto se ele estiver com a data de validade vencida.
As opções mais simples e de preço inferior, inclusive, apresentam uma queda considerável na proporção de flúor após um ano da fabricação. Sem esse mineral, fica difícil afugentar a cárie.
E a tal da fluorose?
A preocupação ronda as crianças pequenas, que não conseguem controlar tão bem a deglutição e acabam engolindo um pouco de flúor na escovação. Em excesso, ele provoca manchas brancas e enfraquece o arcabouço dentário.
“Para evitar esse quadro, os pais precisam supervisionar e acertar na quantidade de pasta”, orienta a odontopediatra Cecilia Ribeiro, da Universidade Federal do Maranhão. A sugestão é passar sobre as cerdas algo como um grão de arroz ou de ervilha, a depender da faixa etária.
Os limites
Para que um produto realmente seja anticáries, é imprescindível que ele tenha 1 000 ppm (partes por milhão) de flúor. Você pode checar esse dado no rótulo, na lista de ingredientes. Não compre se vir um número inferior existem opções com apenas 500 ppm. A legislação brasileira permite até 1 500 ppm.
Benefício na torneira
Desde 1974, o Brasil possui uma lei que exige a adição de flúor no processo de tratamento de água das cidades. Falamos de uma importante medida comunitária de proteção à saúde bucal”, frisa a dentista Livia Tenuta, da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos.
Análises recentes mostram que a concentração do elemento está dentro dos parâmetros estabelecidos na maior parte dos sistemas de abastecimento do país. As autoridades fazem uma vigilância constante para assegurar que está tudo ok.
5. Para se resguardar da gengivite
A inflamação nas gengivas é causada por higiene inadequada e proliferação de bactérias. “Portanto, a primeira medida para combatê-la é caprichar na escovação, que acaba com o acúmulo de alimentos”, raciocina o dentista Jonas Rodrigues, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Existem pastas com ingredientes que lutam contra a tal da gengivite. Entre eles, está o fluoreto estanhoso, o triclosan e o zinco.
Há ainda compostos fitoterápicos em certas formulações para aliviar o inchaço e o sangramento, mas seu uso carece do aval de um profissional de saúde.
6. Atenção à erosão dentária
A condição é caracterizada por um esmalte todo esburacado. Desta vez, a culpa não é das bactérias: os grandes vilões são o consumo regular de refrigerantes e sucos ácidos e distúrbios como o refluxo gastroesofágico e a bulimia.
Cremes com fluoreto estanhoso (de novo ele!) têm um papel a cumprir por aqui. O fluoreto de sódio e o fluoreto de amina também auxiliam um pouquinho. Só não vá esperar milagres…
“Eles ajudam, mas não reconstroem uma estrutura dentária muito danificada, como algumas propagandas teimam em ilustrar”, esclarece Pedrazzi.
7. Um tchau para a sensibilidade
Basta morder o picolé ou experimentar um doce para pintar aquela dor chata? “Quem apresenta a condição sofre com o aparecimento de pequenos ductos e a exposição da raiz do dente, o que propicia uma maior troca de fluidos com o meio bucal”, explica o dentista Luiz Felipe Scabar, do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo.
Os cremes dentais antissensibilidade carregam sais que bloqueiam essas aberturas diminutas e protegem a superfície dental. A questão é que eles só funcionam enquanto forem utilizados. Para uma solução de longo prazo, o jeito é apelar a tratamentos mais específicos, feitos no consultório odontológico.
8. Mau hálito nunca mais
A halitose é um martírio para o portador e, claro, para seus familiares, amigos e colegas de trabalho. A regra número 1 para aplacar o mau cheiro é higienizar religiosamente os dentes, a língua e a gengiva.
As pastas trazem agentes flavorizantes, que fornecem aquele gostinho agradável e refrescante. Caso eles não solucionem, vale investigar se não há problemas mais sérios por trás do odor.
Um por todos?
Por mais que as prateleiras estejam lotadas de opções de cremes dentais, os experts afirmam não haver razão para levar pra casa um destinado às crianças e outro aos mais velhos. Na maioria das vezes, são apenas jogadas de marketing.
“Devemos pensar num produto para ser usado por toda a família que precisa ter, necessariamente, flúor numa concentração de pelo menos 1 000 ppm”, indica Livia Tenuta.
Em situações especiais ou quando há um problema bucal, aí, sim, fórmulas específicas são bem-vindas.
9. Modismos e tendências
Sem flúor: Após surgirem acusações — infundadas, diga-se — de que o mineral faria mal à saúde, empresas criaram formulações isentas dele. Porém, não há evidência de que elas são efetivas contra a cárie.
Ingredientes naturais: Outra febre recente é a adição de ervas ou fitoterápicos e a eliminação dos conservantes. Até as grandes marcas apostam nesse nicho. Vale um papo com seu dentista… E prestar atenção na embalagem.
Com gosto: Antigo sucesso no universo infantil, agora foram lançadas versões que instigam o paladar dos adultos — com direito a sabores, digamos, inusitados: alcaçuz, gim-tônica, polvo, chocolate e… bacon!
Feitos em casa: Circulam na web receitas de pastas com cúrcuma, bicarbonato de sódio e até mel. Cilada das bravas, que pode desencadear graves reações na boca. Melhor confiar em produtos testados e aprovados.