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Saúde é pop

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Tá na internet, tá na TV, tá nos livros... tá no nosso dia a dia. O jornalista André Bernardo mostra como fenômenos culturais e sociais mexem com a saúde — e vice-versa.

Raul Seixas: “Um gênio aprisionado no corpo de um alcoólatra”

Assim, Kika Seixas define o cantor e compositor. A ex-mulher do artista cedeu parte do acervo dele para exposição do MIS-SP

Por André Bernardo
11 jul 2025, 04h00
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A vida de Raul Seixas é tema de livro, série e exposição (Foto: Frederico Mendes/Acervo Kika Seixas/Divulgação)
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Um dos versos de Eu Também Vou Reclamar, composta por Raul Seixas e Paulo Coelho e gravada no álbum Há 10 Mil Anos Atrás (1976), diz: “Entro com a garrafa de bebida enrustida / porque minha mulher não pode ver”.

Esse era um dos truques de Raul Seixas para disfarçar seu alcoolismo, doença crônica que, segundo dados do Ministério da Saúde, atinge 20,8% da população brasileira, algo em torno de 43,9 milhões de pessoas.

Glória Vaquer, sua mulher na época, até tentava enfrentar o problema, proibindo o marido de sair com dinheiro, mas não adiantava: ele pedia fiado nos bares e restaurantes da vizinhança.

No último dia 28, Raul Santos Seixas fez aniversário. Se estivesse vivo, teria completado 80 anos. A data foi comemorada com livro, série e exposição.

Em Eu Sou Eu Fui Eu Vou – Uma Biografia de Raul Seixas (Valsa dos Cogumelos, 2025), o jornalista e escritor Rogério Medeiros lembra da ocasião em que Raul convidou o irmão Plínio, quatro anos mais novo, para jantar em um restaurante do Rio de Janeiro, onde morava.

A toda hora, Raul pedia licença, se levantava da mesa e ia até o banheiro. Numa dessas vezes, Plínio, intrigado, seguiu o irmão.

No banheiro, descobriu que Raul tinha pedido a um dos garçons para deixar uma dose dupla de vodca na pia. Plínio não pensou duas vezes: pegou o copo e o esvaziou. Pego em flagrante, Raul sorriu amarelo.

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“Nunca me senti tão mal”, escreveu o cantor em 31 de setembro de 1987, numa das incontáveis vezes em que esteve internado na Vila Serena, uma clínica de reabilitação em São Paulo. “Foi uma experiência terrível”.

+ Leia também: Por que misturar álcool e remédio é um veneno para sua saúde

Bomba-relógio

Raul Seixas foi casado cinco vezes: Edith Wisner, Glória Vaquer, Tânia Menna Barreto, Ângela Costa e Lena Coutinho. Duas delas escreveram livros de memórias relatando, entre outras curiosidades, os perrengues que viveram ao lado do artista.

Em Pagando Brabo – Raul Seixas na Minha Vida de Amor e Loucuras (Ibis Libris, 2024 – clique aqui para comprar*), escrito em parceria com Tiago Bittencourt, Tânia Menna Barreto conta que os dois gostavam de passar a noite em hotéis.

A primeira coisa que Raul fazia, ao abrir os olhos pela manhã, era ligar para o bar e pedir várias destiladas – suas favoritas eram Bourbon Four Roses e Jack Daniels. “Era esse o seu café da manhã”, diz Tânia.

Em outro trecho do livro, ela afirma que alguns empresários se aproveitavam da dependência química do cantor para pagar o cachê de seus shows com bebida alcoólica.

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Certa noite, minutos antes de fazer um show em Fortaleza, no Ceará, Raul Seixas teve uma crise aguda de hepatite. Passou mal no camarim e chegou a desmaiar no palco. Foi levado às pressas para um hospital.

Indagada sobre como Raul Seixas estaria hoje, aos 80 anos, Tânia crava: não estaria. “Não tinha como ele se manter vivo por muito tempo”, lamenta.

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Diagnosticado com diabetes e hipertensão, Raul Seixas morreu em 1989 (Foto: Frederico Mendes/Acervo Kika Seixas/Divulgação)

“Levantamento de copo”

Em Coisas do Coração – Minha História com Raul (Ubook, 2020 – clique para comprar), escrito a quatro mãos com Toninha Buda, Kika Seixas (nome artístico de Ângela Costa) afirma que, de 1979 a 1984, Raul Seixas foi internado três vezes – numa delas, para remover parte do pâncreas.

Mãe da DJ Vivi Seixas, a caçula das três filhas do cantor, hoje com 44 anos, a idade do pai ao morrer, Kika conta que, noutra ocasião, matriculou o marido numa academia de ginástica. Em menos de meia hora, ele já estava de volta. E o mais curioso: sem uma gota de suor!

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“Raul, como foi a aula?”, perguntava ela. “Legal, o professor é muito atencioso”, despistava ele.

Três semanas depois, Kika não resistiu à curiosidade e, a exemplo de Plínio, também resolveu matar a charada. Na academia, apurou que o marido, em vez de fazer musculação, tomava cerveja na lanchonete.

+ Leia também: Quer preservar a saúde do cérebro? É melhor deixar o álcool de lado

“Os únicos exercícios que ele fazia eram as duas ‘exaustivas’ caminhadas de três minutos cada, ida e volta, e algumas séries de alterocopismo”, ironiza a ex-mulher, numa alusão à modalidade esportiva favorita dos bebedores compulsivos: o “levantamento de copo”.

Por essas e outras, Kika tomou algumas medidas drásticas, como não ter bebida em casa ou restringir as saídas do marido. De nada adiantou. “Ele se trancava no banheiro para tomar o álcool de limpeza que eu comprava no supermercado”, desabafa no livro.

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Ravel Andrade interpreta Raul Seixas na série “Eu Sou” (Foto: Ariela Bueno/Divulgação)
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“Tente outra vez”

Fundador do primeiro e único fã-clube oficial de Raul Seixas, o Raul Rock Club, o produtor musical Sylvio Passos conviveu com o ídolo de 1981 a 1989.

Foi ele quem, ao lado de Kika e Vivi, cederam os mais de cem objetos da exposição Baú do Raul, em cartaz no Museu da Imagem e do Som de São Paulo (MIS-SP) a partir desta sexta-feira, 11. Foi ele também quem prestou consultoria a Paulo Morelli, o criador e diretor da série Eu Sou, do Globoplay.

“Tive dois pais: o biológico, José Corrêa dos Passos, e o intelectual, Raul Seixas. Infelizmente, os dois morreram do mesmo mal: o alcoolismo. Meu pai biológico aos 49 anos e o intelectual, aos 44”, lamenta Passos, que era chamado de “Sylvícola” por Raul Seixas, o “pai intelectual”.

Diagnosticado com diabetes e hipertensão, Raul Santos Seixas morreu no dia 21 de agosto de 1989. No atestado de óbito, consta pancreatite crônica, hipoglicemia e parada cardiorrespiratória (PCR).

“Houve um tempo em que o limite de uma dose por dia para mulheres e duas para homens era considerado de baixo risco. Uma dose padrão seria o equivalente a uma taça de vinho (150 ml), uma latinha de cerveja (350 ml) ou uma dose de destilado (40 ml)”, explica o médico Luciano Stancka, que tratou de Raul Seixas em seus últimos meses de vida.

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“Não há mais limite seguro para o consumo de álcool. O mais seguro é não consumir”, acrescenta.

“O alcoolismo é uma doença crônica, progressiva e multifatorial que, muitas vezes, é invisibilizada ou romantizada, principalmente no meio artístico. Talento e genialidade não protegem ninguém da força destrutiva do álcool”, alerta Stancka. “O alcoolismo tem tratamento, mas não tem cura. Tem controle. É preciso olhar para o vício sem julgamento, mas com responsabilidade. Cada dia de sobriedade é uma batalha vencida”.

Só em 2022, 21,3 mil brasileiros morreram em decorrência do consumo excessivo de bebida alcoólica – são duas mortes a cada 60 minutos no país. Em caso de necessidade, o grupo Alcoólicos Anônimos oferece ajuda gratuita (saiba mais).

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